A Essência da Adoração

Desejo chamar sua atenção para Romanos, capítulo 12, versículos 1 e 2, uma porção muito familiar da Escritura:

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

A frase que eu quero chamar a sua atenção está no final do versículo 1, “que é o vosso culto racional”. Adoração é um assunto popular nos dias de hoje, falamos muito sobre isso. Há uma grande quantidade de atividade e comoção na igreja nos dias de hoje centrada em torno da ideia de adoração.

Receio que a maioria das pessoas enxerguem adoração e música como sendo a mesma coisa. Se você disser à congregação: “Eu quero que você adore o Senhor comigo”, haveria uma presunção automática de que este é um convite para começar a música. Muitas pessoas acreditam que a música é tão inseparável da adoração, que é de extrema importância qual o tipo de música a ser utilizada. E, a ideia aqui é de que se você não usar a música certa, você de alguma forma limita sua adoração. E se você não tiver o estilo certo de música, a adoração não acontecerá. Se a música não é contemporânea, se a música não é familiar, se o arranjo não for o que deveria ser para interessar a um determinado grupo de pessoas, elas não poderão adorar.

Na igreja pop, a música geralmente dominante é longa, em volume alto e repetitiva. E é um esforço para mover os sentimentos e as emoções das pessoas na direção da adoração. Há muitas pessoas que presumem que a música é a origem ou a fonte do culto. E há a ilusão de que certos estilos de música produzem adoração, certas melodias e certos arranjos induzem a adoração e outros de alguma forma a limitam.

Agora, isso pode soar estranho para você, porque eu amo música. Mas a música, em si mesma, não tem nada a ver com a adoração. A música não pode produzir adoração, não pode induzir a adoração e não é a origem do culto. Deixe-me dizer de outra forma: a música não é o começo da adoração, é o fim dela. Eu amo música, mas não preciso de música para adorar. E há algumas músicas que não são úteis para mim na minha adoração. Eu gosto de certas músicas e certos arranjos. Mas essas músicas e arranjos não são essenciais na minha adoração.

A adoração vem de outro lugar. De onde se origina? Isso é o que este texto está nos dizendo. A música é o fim da adoração. Eu amo as músicas que cantamos nesta noite e nesta manhã. Eu as amo porque estão cheias da minha adoração. Mas, elas não produzem e nem induzem a adoração. Elas não são a fonte e nem a origem da adoração. Elas apenas expressam a adoração.

Eu quero que olhemos para essa frase, “o vosso culto racional”, que poderia ser traduzida como “culto espiritual de adoração”. É uma frase notável, que no original grego significa que a adoração nasce em nosso interior, ou como algumas traduções dizem, em nossa mente, em nossa razão. Também expressa que a adoração é um culto, e culto é uma palavra usada para atividades sacerdotais. Isso quer dizer que adoração é algo interno e não externo. Com música ou sem música, a verdadeira adoração se origina em nosso interior, é espiritual e é aí que se origina. Esta é a adoração que é aceitável diante de Deus. É o tipo de adoração que Deus deseja. O termo grego usado aqui significa “totalmente satisfatório para Deus”.

Agora, tenha em mente que a adoração é um ato pelo qual oferecemos louvor a Deus. Certo? Não é um estado de humor em que nos colocamos. Não é um sentimento que induzimos pela beleza do que ouvimos. Adoração é algo que nós damos a Deus. É a Ele que oferecemos adoração. Portanto, precisamos oferecer a Ele aquela adoração que Lhe é aceitável.

E o que é adoração aceitável a Deus? A adoração que é espiritual, que vem do homem interior, nada tem a ver com algo físico. A adoração nasce no coração. Essa é a adoração que satisfaz a Deus. O verdadeiro adorador não precisa da música, de estímulos do ambiente ou de qualquer outra coisa. Ele adora com ou sem melodias. A verdadeira adoração vem, então, do homem interior. E quanto mais a sua alma captar a glória e a maravilha de Deus, mais você adorará.

Concordo que não há nada mais estimulante e alegre e, até mesmo, de certo modo, instrutivo do que a adoração coletiva de uma congregação. Mas é somente verdadeira a adoração se esta nasce de cada coração e não do exterior. É por isso que me sinto tão mal com o desprezo da igreja para com os hinos que trazem densas verdades bíblicas. Há muitas pessoas que não conseguem cantar os hinos porque não conhecem profundamente a Palavra, e não podem entender as ricas verdades que eles trazem. É por isso que tais hinos sobreviveram ao passar dos séculos.

Então, tendo dito isso, vamos olhar um pouco para o nosso texto e fazer algumas perguntas simples. O que deve motivar nossa adoração? Veja o início do versículo 1, de Romanos 12: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus …”Devemos ser motivados pelas misericórdias de Deus, para oferecer a Deus o culto espiritual de adoração.

O que isto quer dizer? Quais são as misericórdias de Deus? Bem, essencialmente, é tudo o que Deus nos deu em misericórdia. Isso significa que não merecemos nada de tudo o que Deus nos deu. Tudo o que temos de Deus é fruto de Sua misericórdia. E isto Paulo está falando acerca do que ele escreveu nos capítulos 1 a 11 de Romanos.

Se você olhar para os onze primeiros capítulos de Romanos, vai encontrar amor eterno, graça eterna, o Espírito Santo, paz eterna, alegria eterna, fé salvadora, consolo, força, sabedoria, esperança, paciência bondade, honra, glória, retidão, segurança, vida eterna, perdão, reconciliação, eleição, justificação, santificação, liberdade, filiação da ressurreição e intercessão e etc. etc. Tudo isto foi nos dado sem qualquer merecimento nosso.

Qual é a sua resposta às misericórdias de Deus? Eu acho que o salmista disse isso bem. Salmo 116:12 diz assim: “Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?”. Ou seja, “quando eu contar os benefícios, as misericórdias de Deus que me são dadas, o que devo prestar ao Senhor?”. Essa é a pergunta que o salmista faz. E aqui Paulo nos dá uma resposta: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.

A nossa salvação, que veio a nós através da cruz e da ressurreição, deve nos mover e motivar numa profunda adoração, ao contemplarmos as tremendas e incontáveis misericórdias que Deus nos concedeu. O que produz a verdadeira adoração é uma compreensão da riqueza da salvação, uma compreensão das glórias da graça salvadora. É por isso que quando Paulo chega ao fim de listar as misericórdias de Deus, ele está prestes a explodir em adoração. E assim, nos versículo 33-36 do capítulo 11 de Romanos, ele irrompe com estas palavras:

33 Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?
35 Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
36 Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!

Isso é adoração pura. Não há música, não há estímulos do ambiente, não há acordes. Foi uma explosão de louvor na contemplação de onze capítulos de verdade inspirada sobre as riquezas de Deus dadas a um pecador indigno. E Paulo continua nos capítulos seguintes de Romanos, até chegar no final do capítulo 16, e dizer:

25 Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos,
26 e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações,
27 ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém!

O apóstolo Paulo tem essas explosões de doxologia (glorificação à grandeza e majestade divinas) em todos os seus escritos. Uma delas está no capítulo 3 de Efésios:

20 Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós,
21 a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!

Quanto mais você conhece a Escritura, mais doutrina você conhece, mais adoração existe em sua vida. Em Filipenses 4, ele declara mais uma vez:

19 E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades.
20 Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém!

Ou seja, Deus lhe dará, em Cristo, tudo o que você precisa de acordo com as Suas infinitas riquezas. Tendo dito isso, Paulo não pôde conter a adoração e explodiu em adoração. Essa adoração sempre vem em resposta a uma contemplação das glórias da salvação e das misericórdias de Deus. Veja o que Paulo diz em I Timóteo 1, quando reconhece sua miséria, a misericórdia e graça de Deus, e assim explode em adoração:

13 A mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade.
14 Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus.
15 Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.
16 Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.
17 Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!

Isso é adoração. Ela vem de um coração dominado pelas misericórdias de Deus associadas à cruz. Essa é a motivação para adorar. Com ou sem música, em qualquer lugar ou situação. Um coração transbordando de alegria com as verdades das misericórdias de Deus, pela compreensão das riquezas espirituais invisíveis ao mundo caído. Por isso Paulo faz um clamor: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus”. Paulo nos pede neste sentido, para compreendermos as misericórdias de Deus em sua plenitude. Essa é a ordem.

Ele continua dizendo “que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Isto é, ofereçam toda a sua vida em adoração. É um estilo de vida. Quando ele diz “corpo” aqui, ele quer dizer “todas as nossas faculdades humanas”, “toda a nossa humanidade”. Tudo o que você é em um sacrifício vivo e sagrado para Deus. A motivação vem do coração.

Em Romanos 1:1, Paulo diz ser um servo de Jesus Cristo. A palavra ‘servo’ vem de “doulos”, palavra grega que significa “escravo”. Paulo a usa para descrever um servo que se compromete voluntariamente a servir a um senhor que ele ama e respeita. Um escravo voluntário que estava, com alegria e lealdade, ligado ao seu senhor.

A linguagem aqui é a linguagem do Antigo Testamento. Um ofertante do Antigo Testamento traria seu sacrifício a Deus fora do Lugar Santo e o entregaria ao sacerdote. O sacerdote iria levá-lo e oferecê-lo a Deus no altar. Quando alguém trazia a oferenda, ela simbolizava um coração de adoração, porque é o que Deus realmente queria, mesmo no Antigo Testamento. Deus não estava satisfeito apenas com ofertas externas, Ele queria o coração. Ele sempre quis o coração. Deus quer verdadeiros adoradores que O adorem em espírito e em verdade (João 4:23).

Mas, agora não há mais ofertas mortas, apenas vivas. O sistema sacrificial foi posto de lado e Deus quer sacrifícios vivos. Ele quer que sigamos o Senhor Jesus Cristo e neguemos a nós mesmos, para que experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Em outras palavras, quando você sacrifica sua vida, você está dizendo não à sua própria vontade, e sim para a vontade de Deus, que se tornará boa, agradável e perfeita. Este é o sacrifício vivo.

Mas, como você chega lá? Como você chega ao ponto de entender as misericórdias de Deus? Como você chega ao ponto em que está tão sobrecarregado e agradecido por essas misericórdias? Que você está disposto do coração, como um ato espiritual de adoração, a desistir de todo o seu ser em uma única expressão de adoração que abandona sua própria vida para os propósitos divinos de Deus? Como você chega a esse ponto?

Romanos 2:2 explica: “Não se conforme com este mundo”, ou seja, não se permita ser moldado pelo presente século ou geração, por um sistema de crenças e valores dominados por Satanás. Mundo é a massa de ideias e comportamentos ímpios que são separados e hostis à vontade de Deus. I João 2:15 diz: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”. Não pense como o mundo e não aja como o mundo.

Mas, não é somente isto. Paulo diz: “mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. A palavra grega usada deriva da palavra “metamorfose”. É o que II Coríntios 3:18 diz: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”. 

Você quer adorar? Não olhe para a música para que ela possa induzir sua adoração, olhe para a música como simplesmente uma expressão daquilo que é induzido por um coração que é arrebatado pelas misericórdias de Deus, que está tomado pela essência de um verdadeiro adorador.

Como você faz isso? Tendo uma mente transformada. Ele diz isto, versículo 2, “pela renovação de sua mente”. Esse tipo de transformação somente pode ocorrer à medida que o Espírito Santo transforma os nossos pensamentos por meio do estudo perseverante da Escritura e meditação nela. A mente renovada é uma mente cheia da Palavra de Deus e controlada por ela. Não se trata de emoção. É tudo sobre a mente. É ter a mente de Cristo (I Coríntios 2:16). É saber como Cristo pensa, como o Espírito Santo pensa, porque está revelado na Palavra de Deus. Essa é a mente da Trindade. Quão maravilhoso é isso!

Então, se eu quiser que minha mente seja totalmente renovada, se eu quiser pensar da maneira que Deus quer que eu pense, eu tenho a fonte aqui. É a mente de Deus revelada nas Escrituras. Ao escrever aos colossenses, Paulo disse isso no capítulo 1:

9 Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual;
10 Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus;

Então, qual é a fonte da verdadeira adoração? É a verdade, o conhecimento da Palavra de Deus, que é o conhecimento das misericórdias de Deus. Estamos de volta onde começamos. Conhecer a verdade, crer na verdade, ter convicções sobre a verdade e amar a verdade. É convicção seguida de afeição. Dizendo com Davi: “Oh, como amo a tua lei!”.

Vamos nos curvar juntos em oração.

Senhor, ao nos lembrarmos agora do sacrifício de Cristo, o ponto em que todas as misericórdias de Deus encontram o seu fundamento, a sua origem, queremos agradecer-Te por tudo o que a cruz nos trouxe. E a cruz trouxe tudo para nós. Nós Te agradecemos porque, enquanto éramos inimigos, Cristo morreu por nós. Nós Te agradecemos porque, quando éramos pecadores rebeldes, indignos e miseráveis, merecedores apenas do castigo eterno, fomos redimidos. Nós estávamos lá quando o Salvador morreu na cruz, Ele estava levando nosso pecado em Seu próprio corpo na cruz. Aquele que não conheceu pecado tornou-se pecado por nós, para que pudéssemos nos tornar a justiça de Deus nEle.

Isso é maravilhoso e não foi certamente uma salvação minimalista, pois o trabalho na cruz nos trouxe infinitas e infinitas misericórdias. Queremos conhecê-las, compreendê-las, entendê-los, crer nelas e amá-las, para que a adoração seja um culto espiritual que passa de nosso espírito por todas as nossas faculdades humanas e é oferecido a Ti como uma expressão de agradecimento. Nós te damos o louvor, nós te damos a glória por tudo o que Tu fizeste. E, novamente, nós nos oferecemos naquele altar como sacrifícios vivos, não retendo nada. Entregamos tudo a Ti. Nós morremos para nós mesmos novamente. Como Paulo disse, devemos morrer diariamente para que possamos viver para a Tua glória. Que adoremos mais do que nunca, porque temos conhecido muito pois contemplamos a grandeza da cruz.


Este texto é uma síntese de um breve sermão “The Critical Elements of True Worship”, de John MacArthur em 19/08/2007.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/80-323/the-critical-elements-of-true-worship

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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1 Response

  1. Adilson Espínola da Conceição disse:

    Aprendi muito com esta pregação, tocando em assuntos que eu não lembrava mais!

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