Sobre Dons Espirituais (1)


Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre dons espirituais e homens especialmente dotados. Veja os links no final deste texto.


Iniciaremos hoje um estudo muito importante, começando por I Coríntios 12:1. Uma das seções mais interessantes e controversas da Escritura  é a relativa aos dons espirituais. Esse assunto se tornou realmente o mais controverso ou o maior fracasso no evangelicalismo de hoje. Mas, quero que tenhamos uma compreensão plena acerca dele.

Então, nós vamos olhá-lo a fundo e estaremos preocupados em apoiar cada posição e cada visão com cuidado. Tenho a sensação de que isso vai ser muito definitivo para a nossa comunhão uns com os outros e para muitos outros em todo o país e em todo o mundo que estarão ouvindo esse estudo, o qual estará disponível em áudio.

Nada foi mais abusado em nossos tempos modernos e nada mais mal interpretado no evangelicalismo do que toda essa área dos dons espirituais. E é fundamental que entendamos isso, porque é absolutamente vital para a vida da igreja. Não há nada que seja mais vital do que o poder de Deus, Ele mesmo, do que o ministério que os crentes têm por meio de seus dons espirituais, pois eles são presentes de Deus para o ministério.

Algumas pessoas pensam que a igreja é uma organização religiosa visível, que é governada por uma hierarquia exclusiva para certas pessoas. Outras pessoas pensam que a igreja é uma agência social, ou quase social, eficiente para servir a comunidade quando se faça necessário. Outras pessoas pensam que a igreja é aquele prédio sendo construído do outro lado da rua, cuja construção elas gostariam de impedir. Ainda há outras pessoas que acreditam que a igreja é um lugar útil para estar por ocasião de uma morte, casamento, batizado, ou o que quer que seja.

Algumas pessoas pensam que a igreja não é mais do que um clube social, um grupo de pessoas em que todas concordam sobre as mesmas coisas religiosamente e se juntam e fazem festas sobre isso. E suponho que, em algum sentido, existe um elemento de verdade em todas essas opiniões. Mas, vamos estabelecer logo agora no início do nosso estudo que, biblicamente, a igreja é um organismo vivo. É o corpo de Cristo e Cristo é a cabeça desse corpo vivo. É a plenitude  dEle, que preenche tudo em tudo.

E a igreja não é uma instituição humana. E não é uma organização terrestre. É um organismo e, como tal, é eterno. A igreja não pode morrer, e essa é a sua característica que nos dá a compreensão de que ela é eterna, é sobrenatural. Seu cabeça é Cristo, que vive para sempre. Os membros são os crentes que receberam a vida eterna. Em Mateus 16, Jesus disse: “As portas do inferno não podem destruir a igreja“. É indestrutível, eterna e sobrenatural.

A igreja é um organismo. E é sobrenatural. Penso que essa característica da igreja se torna manifesta de muitas maneiras. Nós adoramos um Deus sobrenatural. Acreditamos em uma intervenção sobrenatural na História humana através da revelação da Bíblia e através do Cristo vivo. Nós cremos em um Espírito Santo sobrenatural que habita em nós. Somos o resultado de uma transformação sobrenatural que nos fez novas criaturas.

E nos foi feita pelo Espírito Santo uma doação sobrenatural de dons, pelos quais podemos ministrar dentro do organismo a sua construção e edificação, até chegar à plenitude da estatura de Cristo. A igreja tem um poderoso testemunho no mundo. Essa é a igreja. E porque a igreja foi dotada pelo Espírito de Deus com dons sobrenaturais para o seu ministério de edificação e evangelismo, é de suma importância a operação ou funcionamento desses dons .

É por isso que nós devemos entender os dons espirituais e é por isso que devemos entender que Satanás confunde esse assunto. Ele falsifica os dons, porque são absolutamente necessários para a vida e o funcionamento da igreja. A igreja não é um fornecedor de espetáculos e sermões para seus ouvintes. A igreja é um organismo vivo, que respira, tem fôlego de vida. E ela funciona com base no ministério de cada um de seus membros, que ministram uns aos outros.

A igreja é vista como um corpo. E todos nós somos membros desse corpo. Temos uma função em harmonia e sintonia com todos os outros membros. E por isso é fundamental que entendamos como isso funciona, como operamos no corpo, como os dons espirituais funcionam, para que a igreja possa ser edificada. É importante que possamos ter a capacidade de discernir as falsificações de Satanás. Na verdade, temos visto muito dessa falsificação, cujo objetivo não é edificar a igreja, mas destruí-la. Queremos garantir que você entenda a distinção entre o que é produzido pelo Espírito e o que é falso.

Agora, há muitas questões em torno dos dons espirituais, todas as quais responderemos enquanto estudamos os capítulo 12, 13 e 14 de 1 Coríntios. Não seremos capazes de tratar de tudo em um único sermão. Você sabe disso. O Senhor não quer que olhemos para tudo isso com muita rapidez, mas vamos cobrir um versículo hoje e depois nos próximos quatro ou cinco anos, vamos terminar [Risos]. Não, tentaremos nos apressar um pouco [Risos].

Mas, deixe-me dizer que devo lidar hoje profundamente e basicamente com a introdução, para situar você no assunto. Então, é importante. E, como eu disse, vamos cuidadosamente, verso a verso, palavra por palavra, lidar com a gramática, com o contexto, história e com tudo o que for necessário para obtermos as respostas corretas. E algumas das questões que responderemos são:

  • O que são dons espirituais?
  • Quantos existem?
  • Eles são importantes?
  • Quantos eu tenho?
  • Como faço para obtê-los?
  • Como eu sei qual é meu dom?
  • Posso buscar ter certos dons?
  • Como eu entendo o propósito dos dons?
  • E, quanto aos dons milagrosos, como línguas e cura, eles ainda estão em operação?
  • O que é o batismo do Espírito Santo?
  • Todo cristão possui a plenitude do Espírito Santo?
  • Todos os dons ainda estão em operação?
  • Caso contrário, quais estão e como eles cessaram e por quê?
  • O que é o dom das línguas?
  • O que é o dom da cura?
  • Os dons podem ser falsificados?
  • Qual é o dom mais importante?

Lidando com todas essas questões, poderemos entender o assunto. Agora, lembre-se da situação da igreja de Coríntios, porque isso é básico para uma compreensão da imagem completa aqui. Este é o processo normal do que chamamos de interpretação histórica e gramatical. Temos que saber o que foi dito. Nós temos que saber o que significou no tempo em que foi dito e por isso temos que reconstruir o cenário histórico.

Agora, você vai se lembrar do que aprendemos em nosso estudo sobre a igreja coríntia ter sido estabelecida pelo apóstolo Paulo durante sua segunda jornada missionária, como registrado no capítulo 18 de Atos. Ele passou 18 meses lá e durante esses 18 meses estabeleceu a igreja, ele lutou contra seus inimigos e, no final daquele tempo, ele partiu. Os coríntios, então, tiveram outros pastores que vieram ministrar a eles de modo diferente de Paulo.

O ministério de Paulo foi fundamental. Mas, pouco depois de ele ter partido, graves problemas morais e espirituais ocorreram na igreja de Coríntios, tão graves que esta primeira carta trata exclusivamente desses problemas. Você diz:  ‘Bem, como Paulo tomou conhecimento desses problemas?’. Bem, ele tinha três fontes básicas. A fonte número um está no capítulo 1, versículo 11, onde ele disse que alguns dos familiares de Cloé vieram e falaram sobre eles.

Então, a fonte número dois está no final da carta, capítulo 16:17 diz: “Folgo, porém, com a vinda de Estéfanas, de Fortunato e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte me faltava.” E, em terceiro lugar, aparentemente, essas três pessoas trouxeram uma carta que continha várias perguntas. O capítulo 7, versículo 1, nos mostra isso, quando Paulo diz “quanto às coisas que me escrevestes…”.

Assim, a partir dessas três fontes particulares, o apóstolo Paulo foi informado sobre os problemas que estavam ocorrendo nesta congregação. Em resposta, desde o primeiro capítulo ele fornece direções para que aqueles problemas fossem de fato resolvidos entre eles.

Agora, é inconcebível que qualquer igreja manifeste a plenitude de todos esses problemas, mas a igreja de Coríntios o fez. Vamos lembrar de alguns deles. Por exemplo, eles tinham divisões de todas as formas que você possa imaginar. Eles estavam divididos sobre a opinião humana acerca de coisas insignificantes. Eles estavam divididos acerca de filósofos humanos. Eles estavam divididos acerca da sabedoria humana. Havia celebridades no meio deles e panelinhas.

Eles manifestaram carnalidade. Eles eram sexualmente pervertidos, de modo que na congregação havia tanto a prostituição como o incesto. Havia mundanismo, preocupação com as coisas do mundo. Eles estavam processando judicialmente um ao outro. Havia rebelião contra a autoridade apostólica. Havia falha na disciplina. Havia conflito conjugal. Havia conflitos quanto às pessoas solteiras. Havia liberdade abusiva. Havia idolatria, egoísmo, orgulho, adoração demoníaca.

Em Corinto ainda havia a insubordinação das mulheres, bem como abusos dos papéis estabelecidos por Deus para homens e mulheres. Havia abusos na Ceia do Senhor, nas festas de amor. E havia abusos e perversões acerca dos dons espirituais. Esse é o contexto em que os capítulos 12 a 14 de 1 Coríntios foi escrito. Aliás, toda a carta foi escrita nesse contexto. Assim como eles haviam pervertido todo o resto, eles estavam pervertendo os dons também.

Agora, se você estudar com cuidado, você reconhecerá que eles conseguiram transportar para a vida da igreja todas as características de sua antiga vida pagã. Os coríntios não haviam feito uma separação clara para com o paganismo do qual saíram. Eles não deixaram de lidar com coisas impuras. Eles as trouxeram para a igreja. Eles eram ricos em dons espirituais, o capítulo 1, versículo 7, diz: “De maneira que nenhum dom vos falta…“. Em outras palavras, eles tinham tudo. Eles não tinham falta de nada. Eles tinham uma plenitude dos dons.

Apesar de tudo isso, mesmo com todo o conhecimento que deveriam ter, com todos os dons que eles possuíam, eles ignoravam a forma de como esses dons deveriam operar. Especialmente no que diz respeito ao dom das línguas, hoje chamado de línguas. Mas, biblicamente, a palavra é linguagem.

Além disso, em Corinto, havia um conceito errado sobre o Espírito Santo, conceito este que dominava e que confundia a obra do Espírito Santo com êxtase, entusiasmo, segundo o idioma original grego. Por exemplo, para eles, se alguém se levantava e pronunciava seja uma linguagem ou uma profecia, uma interpretação ou seja o que fosse, essa pessoa aparentaria ser mais piedosa quanto mais selvagem, descontrolada a sua fala fosse. Quanto mais sobrenatural aparentasse, mais piedosa a pessoa era considerada. Com isso o dom das linguagens se tornou o mais explorado.

O discurso cheio de êxtase que era praticado na igreja dos coríntios como se esse fosse o verdadeiro dom das línguas (linguagens) funcionava como uma credencial que demonstrava que a pessoa que estava nessa ‘manifestação’ possuía o mais alto grau de maturidade espiritual, porque era visto como manifestação de poder. Porém, o que eles estavam praticando em Corinto não podia ser identificado com qualquer juízo normal do ser humano. Eles tenderam a inclinar-se para o que era mais bizarro e mais distante da realidade.

Agora, este conceito carnal era um remanescente de seus dias de quando eram não salvos, idólatras, quando os discursos cheios de êxtase feitos por sacerdotes pagãos e adoradores sob o controle de um demônio eram considerados o mais alto nível de experiência religiosa. Esse é o tipo de cultura em que viviam. E isso foi trazido para a igreja.

Agora, desde o início, o Espírito Santo estava fazendo coisas incríveis no meio deles. Ele estava operando. Os dons estavam lá, como eu disse, em concerto, prontos para uma sinfonia divina da vida corporal para a edificação da igreja. Havia coisas tremendas que o Espírito de Deus havia feito nos dias do estabelecimento daquela igreja e os coríntios testemunharam isso. Mas agora, naquela época em que viviam, uma época em que a religião estava relacionada com êxtase, frenesi e coisas bizarras, esse tipo de entusiasmo histérico e extremismo que existiam em sua religião pagã foi arrastado para a igreja e se tornou uma ilusão sobre o trabalho da Espírito.

Agora, em sua cultura, eles tinham uma espécie de religião que chamamos de religião de mistérios. E as religiões misteriosas tinham como característica de seu funcionamento esses tipos de frenesis, êxtases e entusiasmos. Foi fácil para aqueles coríntios, em seu estado carnal, confundir essas coisas com os verdadeiros dons do Espírito Santo, quando elas se infiltraram na igreja. E isso é exatamente o que aconteceu.  Não é surpreendente, nem um pouco.

Deixe-me mostrar-lhe por que não é surpreendente. Naquela igreja, por exemplo, havia divisões. De onde vieram essas divisões? Elas vieram do estilo de vida que aquelas pessoas tinham antes de se tornarem crentes em Cristo, mas que ainda conservavam. Por exemplo, lembre que dissemos, quando estudamos os três primeiros capítulos, que os coríntios estavam apaixonados pelos filósofos. Em sua cultura, eles seguiam as ideias de um ou de outro filósofo. Eles aprenderam em sua cultura a ter um tipo de culto de personalidades, celebridades.

E assim, eles se tornavam seguidores de um filósofo e com isso eram rivais daqueles que seguiam outros filósofos. Então, quando eles entraram na igreja, eles fizeram o mesmo na igreja: eu sou de Paulo, eu sou de Apolo, eu sou de Cefas… eu sou de Cristo… Eles criaram mais cultos a celebridades. Em seu tipo de vida pagã, eles também se identificavam com diferentes filosofias. E eles costumavam discutir a filosofia. Isto era muito comum na cultura grega. Era uma espécie de posição intelectual e, quando eles entraram na igreja, fizeram isso também nela. Eles discutiam sobre as palavras da sabedoria humana.

Lembre-se do capítulo 2, onde Paulo diz que “não vim a vocês com sabedoria humana”. E a sabedoria humana não leva você a lugar algum. O homem natural, com toda a sabedoria humana, não pode entender as coisas de Deus. Bem, mas foi o que aconteceu, eles arrastaram todas as suas filosofias humanas e seus cultos de celebridades para dentro da igreja. Aí eles se dividiram em partidos dentro da igreja.

Você lembra também que o nome da cidade de Corinto se tornou um verbo. O verbo “corintianizar” significava  “dormir com uma prostituta”. Quando alguém pensava em Corinto, era logo o que vinha à mente, porque esse era o tipo de cultura em que os coríntios viviam. Então, o que aconteceu na igreja de Corinto? Eles trouxeram a mesma depravação moral para a igreja, não foi? E no Capítulo 5, você tem uma pessoa que está tendo relações sexuais com sua mãe ou sua madrasta. Você também vai ler sobre pessoas que estão se juntando a prostitutas, no capítulo 6.

O mesmo que eles conheciam em sua vida pagã, eles arrastaram para a igreja. Outra coisa, aprendemos no Capítulo 6 que os coríntios adoravam ir ao tribunal. Era uma espécie de esporte ir para a corte, debater e tudo o mais. Eles simplesmente adoravam isso. Então, quando se tornaram cristãos, o que eles fizeram um com o outro? Eles processavam judicialmente um ao outro. Novamente, arrastando a mesma mentalidade do mundo para a assembléia dos crentes.

Outra coisa que era uma marca na sociedade coríntia era o declínio terrível e a confusão dos casamentos. O capítulo 7 trata de casamentos impuros na igreja. Eles arrastaram esses problemas diretamente do mundo para a realidade da igreja. Descobrimos mais tarde nos capítulos 8,9 e 10 que eles passaram um tempo terrível abusando de sua liberdade. Por quê? Porque eles vieram de uma sociedade existencialista, onde tudo vale [o homem é o senhor de si, constrói o seu destino e é livre para fazer o que quiser].

Os coríntios entraram na igreja e  começaram a fazer o que queriam, não importava como isso afetasse alguém. Por isso Paulo lhes diz que eles não podiam fazer isso na igreja, que eles deveriam limitar a sua liberdade por causa do outro. Nós estudamos um pouco sobre o feminismo na igreja de Corinto. Naquela cultura houve uma revolução feminista e isso também entrou na igreja. Assim, as mulheres não usariam mais  véus na igreja, que era um símbolo de decência na época (Clique aqui e leia sobre este assunto).

Você vê, tudo o que era culturalmente parte de sua vida, porque eles eram carnais, passou a se manifestar em sua igreja. Além disso, o estilo de religião pagã daquela cultura também se manifestou na igreja no que diz respeito à caridade. Foi precisamente o que aconteceu. A religião do mundo se infiltrou na vida da igreja e eles começaram a fazer as coisas dentro do cristianismo com novas definições e novos termos para tentar fazer com que parecesse certo o que eles estavam fazendo antes de conhecerem Cristo. E chamavam tudo isso de dons do Espírito Santo.

Agora, deixe-me falar um pouco sobre a religião praticada em Corinto. Era um sistema conhecido como a religião de mistérios. Durante mais de mil anos, essas religiões dominaram a cultura ocidental e ainda temos os restos delas conosco, operando agora na Europa e na igreja católica romana em todo o mundo. Havia muitas formas dessas religiões de mistérios. Mas todas podem ser rastreadas até uma única origem. Para mostrar isso, eu quero que você veja Apocalipse 17, versículo 5. E nós precisamos entender isso.

Vale a pena  gastarmos um tempo nesse assunto. O texto aqui está falando sobre a forma final da religião mundial, na tribulação. No final da tribulação, a verdadeira igreja se foi e o mundo começa a estabelecer uma forma de religião. Existe uma forma mista de religião mundial que se reúne sob um título. E essa forma é chamada,  no versículo 5, “Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra”. A forma final da religião mundial é chamada assim.

As religiões de mistérios vieram da Babilônia. Todos os falsos cultos têm sua origem na torre de Babel. E então, quando todas essas falsas religiões se juntarem, formando uma só no final, esta será apenas a última forma do sistema falso da Babilônia. Note que o mistério da Babilônia, que é a religião falsa que começa na torre de Babel, é a mãe de todos os outros sistemas falsos. A verdadeira igreja é a noiva, a falsa é o que? Uma prostituta.

Assim, o sistema religioso da prostituta, os falsos sistemas de religião que foram gerados, foram criados pela Babilônia. E eles se reagruparão novamente nos fins dos tempos, serão reunidos em uma só categoria, todos os falsos sistemas religiosos do mundo são gerados pelo sistema maligno que veio da Babilônia. Agora ouça, a torre de Babel foi a primeira falsificação sofisticada, organizada da verdadeira religião. Ela ocorreu em Gênesis 10, na torre de Babel.

Eles construíram essa torre para Deus. Ninrode foi o apóstata patriarcal que comandou tudo. Ele era  neto de Cam, o filho de Noé. E estabeleceram um sistema falso de religião. Como essa falsificação da verdade foi gerada a partir da torre de Babel? Por quê? Porque quando Deus julgou as pessoas que estavam construindo a torre, o que Ele fez com elas? Ele as ordenou que se espalhassem por todo o mundo e elas levaram consigo as sementes da falsa religião iniciada em Babel.

Elas a adaptaram, alteraram, elas a sofisticaram ainda mais. Elas adicionaram detalhes variados em culturas variadas. Mas as sementes de tudo isso estavam em Babel. É por isso que o mistério da Babilônia aqui é chamado de mãe de todos os sistemas falsos. Agora, Ninrode gerou uma rede de falsos sistemas religiosos. Quando você compara as falsas religiões ao redor do mundo, você encontra muita semelhança entre esses falsos sistemas.

E Ninrode teve uma esposa, o que foi ruim para ele, porque ela era uma pessoa muito, muito má. O nome dela era Semiramis. Você já ouviu esse nome? Semiramis foi a primeira grande sacerdotisa da religião da torre de Babel. Ela realmente fundou o que é conhecido hoje como as religiões de mistérios. Ela foi a mãe de tudo isso. E agora, quando Deus dispersou essas pessoas, elas levaram consigo o sistema de Semiramis e saíram espalhando esse sistema pelo mundo. E você se lembra que Deus não só os espalhou, mas Ele mudou o que? Suas línguas.

Então, Semirames obteve nomes diferentes, porque diferentes culturas têm diferentes idiomas e isso significa diferentes pronúncias e nomes diferentes. Então, na Assíria, ela se chamava Ishtar. Na Fenícia, o nome dela era Astarote. No Egito, era Isus. Na Grécia, Afrodite. E em Roma, seu nome era Vênus. Mas, todas são a mesma Semiramis. Ela também deu à luz um filho, que se chamava Tamuz. Você vai encontrar esse nome na Bíblia, em Ezequiel. Na Fenícia, seu nome era Baal. Mesma pessoa. No Egito, Osíris. Lembre-se de Ísis e Osíris no Egito. Na Grécia, o nome dele era Eros. E, em Roma, era Cupido. 

Deixe-me dizer-lhe algo sobre ele. Semiramis conta que Tamuz foi concebido por um raio de Sol. Você sabe que isso é uma falsificação para o quê? O nascimento virginal de Cristo. Baal não tinha pai terreno. Ele foi concebido por um raio de Sol. Se o resto do mundo não entendeu Gênesis, 3:15, Satanás com certeza entendeu. Ele sabia que haveria a ‘semente’ de uma mulher e, então, ele providenciou essa falsa estória. E, surpreendentemente, Tamuz ou Baal ou Cupido ou Eros ou do que quer que você queira chamá-lo, foi morto por um javali e 40 dias depois ressuscitou dos mortos.

Você quer saber de onde a Quaresma vem? Não vem da Bíblia, mas dos 40 dias que Semiramis lamentou por Baal. Agora, isso faz parte do sincretismo ou casamento entre as religiões de mistério babilônico e o catolicismo romano. Então, você tem esse sistema muito sofisticado que se espalhou por todo o mundo. Bem, se você olhar para a Grécia, eles tinham o mesmo sistema de falsa religião, com alguma sofisticação.

Os gregos tinham todos os tipos de direitos e rituais sofisticados. Deixe-me apenas dar-lhe alguns itens: os gregos acreditavam na regeneração batismal – isso é interessante para ver de onde vem essa falsa doutrina. Eles acreditavam que as pessoas eram salvas no batismo em água. Então, eles tinham batismos sistemáticos. Eles também criam em sistemas de sacrifícios, abatiam porcos, cordeiros, cães e pássaros principalmente. Eles tinham festas e jejuns. Eles acreditavam em mutilações e flagelações. Se você se pergunta de onde isso veio, não veio da Bíblia, veio do sistema de mistérios.

Mais tarde, todo o sistema babilônico se mudou para Roma e ficou lá esperando até que a igreja se desenvolvesse e se casasse com ele. Eles acreditavam nas peregrinações. Eles acreditam na confissão pública. Eles acreditavam em ofertas, abluções religiosas para pagar o pecado. Eles acreditavam que você tinha que pagar o seu pecado. Um dos sistemas de religião de mistérios na Grécia dizia que a pessoa tinha que ensopar-se várias vezes e permanecer sob a água gelada em um lago para se livrar de seu pecado.

Também que a pessoa tinha que rastejar até sangrar os joelhos. Ouça, eu vi isso em uma igreja católica romana na Cidade do México. De onde veio esse ritual? Ele veio desse sistema que infiltrou o cristianismo em termos do catolicismo romano. Agora, entre todas essas outras coisas – e poderíamos realmente ter uma longa discussão sobre todas elas – há uma que era característica das religiões de mistérios que encontraram caminho para a Grécia, e isso é todo historicamente verificável: é que eles se entregaram ao êxtase.

Agora, o êxtase não é aquilo que você sente quando beija sua esposa. Não é disso que estamos falando. O êxtase para alguém envolvido nas religiões de mistérios era fruto de estar cultivando uma comunhão sensual e mágica com a deidade. Em outras palavras, o adorador faria qualquer coisa que pudesse fazer para entrar em uma espécie de espetáculo hipnótico alucinatório semiconsciente, onde ele sensualmente se comunicaria com uma deidade e teria um sentimento de euforia. Era quase uma anestesia. E os coríntios presumiram que isso era uma união com Deus.

Deixe-me citar de S. Angus, que tem um livro significativo intitulado The Mystery Religions [As Religiões de Mistério], no qual ele escreve como historiador, de forma objetiva e o que ele descreve não se trata de algo escondido ou desconhecido sobre tais religiões. Ele escreve sobre a rotina normal e bem conhecida desses sistemas religiosos. E eu vou gastar um tempo para ler algumas coisas, a fim de que você entenda como isso funcionava, porque é a base da bagunça que ocorreu na igreja em Corinto.

Nesse trecho ele descreve o êxtase que ocorria nesses cultos pagãos: “A pessoa era trazida para uma condição mística e inefável em que as funções normais da personalidade estavam suspensas. E os esforços morais que formam o caráter praticamente cessavam ou eram relaxados, enquanto o emocional e o intuitivo eram acentuados…“. Agora, essa era uma situação em que uma pessoa entrava em uma condição em que sua personalidade se tornava anormal, onde sua moralidade normal era deixada de lado e ela se entregava às orgias ou o que quer que fosse, seu cérebro se tornava passivo e a emoção assumia o controle. Isso era o êxtase.

Veja que o conceito de êxtase – ecstasus, no original – não é como pensamos hoje, como um entusiasmo, pois na nossa sociedade o entusiasmo significa algo diferente. Minha mãe costumava nos servir o jantar e era com muito entusiasmo que nos sentávamos para comer. E é assim que definimos entusiasmo. Mas, essa não é a definição no grego. É um estado de euforia induzido em alguém para que  se torne semiconsciente.

E o texto continua: “Ambos os quais [êxtase e entusiasmo] podem ser induzidos por vigília e jejum, expectativa religiosa tensa, danças turbulentas, estímulos físicos, contemplação dos objetos sagrados, música agitada, inalação de fumaça, contágio revivalista”, ou seja era uma espécie de frenesi. “Tal aconteceu na igreja de Corinto”, ele observa, com “alucinações, sugestões e todos os outros meios pertencentes ao aparato das religiões de  mistérios”. Eu vou parar por um minuto.

Você vê o que ele está dizendo? Eles poderiam induzi-lo através de muitas maneiras, por vigília e jejum, que é um meio contemplativo. Por expectativa religiosa tensa. E vejo isso algumas vezes no meio evangélico através de uma expectativa absolutamente exagerada e irreal acerca da Segunda Vinda, onde as pessoas perdem a abordagem racional da vida e cedem a uma resposta totalmente emocional, lidando de modo indevido com o assunto. E então, o autor fala sobre música agitada, mostrando que alguma música era usada nesses cultos pagãos.

Também havia a inalação de certas fumaças, como o incenso e assim por diante, que alguns fazem ainda hoje para criar um estado eufórico. O texto continua: “esses dois estados anormais de consciência, muitas vezes indistinguíveis, são unidos por Proclus quando ele fala de homens ‘saindo de si mesmos para serem santos estabelecidos no divino e estar em arrebatamento’”. Então, eles conseguiam fazer tudo isto através desses meios que levavam ao êxtase, de modo que o ‘adorador’ era levado acima do nível de sua experiência ordinária, em uma consciência anormal de uma condição estimulante em que o corpo deixou de ser obstáculo para a alma.

O êxtase poderia se manifestar através de um estado de passividade mental da pessoa, numa espécie de transe, ou  num estado ativo. O caráter orgiástico da excitação se assemelha ao que Platão chama de ‘frenesi divino’. De acordo com os meios de indução, o temperamento do adorador e sua história espiritual, o êxtase poderia variar desde não haver nenhum delírio moral até a essa consciência da unicidade com o invisível e a dissolução dolorosa da individualidade, que marca os místicos de todas as eras.

Agora, esse é um parágrafo muito importante. Ele está dizendo que, estando em êxtase, uma pessoa poderia entrar em todos os diferentes tipos de transe. Por exemplo, você já viu o guru que cruza as pernas e fica nessa posição por um longo tempo? Essa é uma forma de êxtase. E isso pode ser criado na mente. O budista, por exemplo, seu objetivo final na vida é entrar no Nirvana, que é onde a pessoa mergulha em um estado de nada total. Você se contempla fora da existência, como se fosse um transe total em que a pessoa  não sai dele.

Por outro lado, você tem os turbilhões de frenesi louco de êxtase em outros tipos de religião que acabam em orgias. Isso havia no culto a Baal. Você vê isso até hoje. Você vê talvez alguém que esteja “morto no espírito”, num estado de transe. Ou outras pessoas que estão agindo de forma estranha, correndo para cima e para baixo descontroladamente, amigos, e você vê a agitação deste tipo de coisa. Além disso, o autor citado ainda diz:

Em êxtase, liberando a alma do confinamento no corpo, em sua comunhão com os poderes da divindade, surge na pessoa em transe algo que não se restringe aos limites físicos do corpo. Agora ela está livre como o espírito. Para manter a comunhão com os espíritos. Também, nesse estado de transe a pessoa é dotada de capacidades para contemplar o que apenas os olhos do espírito podem contemplar, que está além do tempo e do espaço. 

Agora, escute: essa euforia cria um sentimento tremendamente bom. E as pessoas dizem que isso é fantástico e que desse modo se comunicam com a deidade. Isso é exatamente o que as pessoas hoje estão dizendo que seja resultado de certos dons do Espírito Santo. E eles concluem isto apenas porque sentem algo muito bom durante as ‘manifestações’. Assim, deduzem com base na sensação de bem estar que experimentam que aquela experiência só pode vir de Deus.

A sensação de bem estar que estas experiências proporcionam não pode ser o critério para se estabelecer que elas vêm de Deus, pois muitos experimentam ótimas sensações também cheirando cocaína e fumando maconha. Esse não é o critério. Há bêbados que experimentam felicidade profunda no seu estado de embriaguez. Essa não é a resposta. Mas o que acontece é que essa euforia artificial é criada e, então, é feita a suposição de que a pessoa deve estar sendo conectada com Deus. Entende? Bem, se você pensava que essas sensações devem ocorrer no cristianismo, é melhor saber que os pagãos pensam o mesmo acerca de seus cultos pagãos.

“Além disso, fisicamente”, diz Angus, “a condição era de anestesia. A pessoa em transe ficava inconsciente da dor ou de qualquer coisa hostil ou desconcertante nos arredores”. Eu vou parar por aí. Inconsciente da dor… Você já teve notícia de alguém que vai a um curandeiro com dor terrível e que sai de lá depois sem sentir nada? Só que um dia depois ela está em agonia novamente. Porque foi criada uma resposta anestésica eufórica na mente. Angus diz:

Há uma ampla evidência, de que os adoradores de Baco [deus romano do vinho], por exemplo, ficavam insensíveis à dor e capacitados com força sobrenatural. E isso ocorria em outros cultos pagãos também. Esta anestesiamento é um fenômeno religioso conhecido em todas as eras, especialmente em tempos de grandes avivamentos e em muitas formas do hinduísmo, da Índia, em que os mestres hindus enfrentavam o martírio sob o efeito do êxtase que lhes tirava os terrores da morte agonizante ao lhes conferir uma força milagrosa. Podemos presumir que este estado semi-físico e semi-psíquico era muito cobiçado pelos iniciados nessas religiões.

Bem, claro que é o que eles estavam buscando nessas falsas religiões. “Ser levado acima do sentido, contemplar a visão beatífica, tornar-se incorporado em Deus era o alvo buscado através do êxtase e a satisfação procurada ou derivada era de vários tipos, seja física, sensual, estética e intelectual”. Agora, isso é o êxtase, o entusiasmo era o estado amável de comunhão, muitas vezes acompanhando e confundido com o êxtase.

Ele continua: “Sob o efeito do entusiasmo foram incluídos pelos gregos todas as formas de adivinhações, profecias, revelações, sonhos e visões, sendo tais revelações as declarações diretas da divindade”. Isso era o entusiasmo ou êxtase. A deidade falava através deles. Em todas as formas de entusiasmo, existe a mesma ideia subjacente de que Deus está envolvido.

Agora, você vê, essas duas coisas compõem o sistema de religião em que os coríntios tinham vivido e crescido. Quando essas pessoas se tornaram crentes, elas eram muito parecidas com os adoradores pagãos de sua cultura, isso porque os coríntios não eram espirituais, mas eram o quê? Carnais. Eles manifestavam o mesmo tipo de comportamento em sua religiosidade e arrastaram para a realidade da igreja todo tipo de mundanismo.

Então, seu tipo de religião era de êxtases, orgias, frenesi, era caótico, era confuso, de modo que Paulo teve que lhes dizer que tudo deveria ser feito como? Decentemente, em ordem e para edificação. E no Capítulo 14, Paulo lhes dá regras para mudar todo o padrão de como eles estão vivendo. Faça de conta que você é um visitante em Corinto e você diz a sua esposa: “Esposa, vamos a um culto hoje. Estamos aqui hoje e vamos cultuar com a  Igreja de Corinto. Ó maravilhoso! Vamos lá e teremos nossos corações abençoados”.

Então, você vai e chega ao lugar onde eles se encontram. Você entra e está bem pontual. Mas todas as pessoas ricas já estiveram lá uma hora atrás e já terminaram com a festa do amor. E não há nada para você ou para todos os pobres que ainda estão chegando, porque não puderam chegar mais cedo, pois estavam trabalhando. E os ricos não se misturavam, ficavam nos seus lugares, comendo a comida de forma muito rápida, de modo que não era deixado nada para os pobres no ‘banquete do amor’.

E você entra naquele ambiente e percebe que eles não são apenas glutões, mas estão bêbados também. Os ricos estavam curtindo o momento, enquanto todas as pessoas pobres estão sentadas do outro lado da sala, com os estômagos roendo. Que festa de amor, hein? E ali você vê uma grande divisão. E então, alguém levanta uma certa questão e eles argumentam sobre isso. E eles discutem sobre isso. E os bêbados são ruidosos e desagradáveis. E você está ali…

E então, alguém anuncia a Ceia do Senhor e eles abusam disso. Eles bebem muito e eles comem. Porém os pobres ainda não participaram de nada. E a ceia se transforma em uma zombaria.  E nesse cenário, eles começam o culto. Todo mundo se levanta e começa a gritar e gritar e falar ao mesmo tempo e as pessoas estão falando em palavras de êxtase e alguém está tentando dar uma profecia e alguns estão cantando uma música…

Então, eles lhe dão as boas vindas. E se você tiver no meio disso tudo um convidado incrédulo, ele iria embora dizendo que essas pessoas são o quê? Loucas! Elas estão loucas, fora de suas mentes. Bem, você vê que é exatamente o que estava acontecendo em Corinto e é por isso que o Capítulo 11, versículo 17 diz que quando eles  se juntavam não era para melhor, mas para o quê? Para pior. Era uma bagunça. E então, todos eles estavam neste frenesi louco. Paulo teve que corrigi-los.

Então, a religião grega invadiu a assembleia coríntia. Assim, alguns coríntios escreveram a carta a Paulo pedindo que lhes dissesse o que deveriam fazer. Nunca vou esquecer que li um livro escrito recentemente por um escritor pentecostal e esta foi uma das suas afirmações: “Quando alguém se levanta e dá um enunciado divino, sabemos uma das duas coisas: ou vem de Deus ou não vem”. Bem, era exatamente o dilema dos coríntios: ‘Como podemos saber se é de Deus ou não? As coisas ficaram fora de controle…’. Bem, a resposta completa vai nos levar até ao Capítulo 14.

Então, aqui estão eles em Corinto, a cidade cheia de sacerdotes, sacerdotisas, adivinhos e pessoas em êxtase e entusiasmo que reivindicam o poder divino, a inspiração divina e a igreja é carnal e carnalmente gerando toda essa confusão. Eles abusaram disso além dos limites. Eles esperavam que o Espírito Santo operasse. Não há dúvida sobre isso. O Espírito Santo prometeu trabalhar. Sabiam que Joel 2 tinha começado a se cumprir: ‘Derramarei meu espírito em toda carne e haverá visões, sonhos e profecias…’. Eles sabiam que isso estava começando a acontecer.

Eles sabiam que Jesus havia dito aos discípulos que, quando o Espírito viesse, coisas incríveis iriam acontecer. Eles sabiam que o Espírito de Deus operaria. Jesus prometeu, em João 14, 15 e 16, enviar o Espírito. Em Atos 1: 5, antes de Ele ascender, Ele disse que eles seriam batizados com o Espírito Santo em poucos dias. Eles estavam esperando e isso estava acontecendo e então, tudo ficou confuso por causa de Satanás e eles não sabiam mais identificar o que vinha de Deus e o que não vinha.

Agora, você lembra que 1 Coríntios é uma das primeiras cartas do Novo Testamento. Você vê, então, que não demorou muito para  as coisas chegarem ao ponto que chegaram. Por quê? Porque Satanás não deixa qualquer grama crescer sob seus pés. E se alguém é bobo o suficiente para dizer hoje que certas manifestações devem sempre ser obras do Espírito, isso é o mesmo que supor que  Satanás não é um falsificador.

Eu estava falando com um homem recentemente, que é um líder no movimento moderno pentecostal, que me disse “bem, você não pode negar essa experiência”. E eu disse: “Bem, deixe-me perguntar-lhe, quando essa experiência ocorre, onde e quando, você sempre, sem dúvida, sabe que é de Deus? Seja sincero”. A resposta dele foi: “Não, pode ser de Satanás”. E eu lhe disse: “Como você sabe a diferença?” E ele não teve resposta. E é exatamente isso que estava acontecendo com os Coríntios. E eu digo a essas pessoas que se querem a resposta, venha e estude 1 Coríntios, porque ela está aqui. E veremos todas as respostas, à medida que seguirmos o nosso estudo.

Agora, o que eles perguntaram a Paulo naquela carta? Bem, provavelmente eles disseram algo assim: ‘Paulo, você sabe que temos muitas pessoas ricamente dotadas em nossa igreja, mas o problema é que todo mundo quer fazer tudo ao mesmo tempo. E então, nós temos todos os tipos de coisas selvagens acontecendo e tudo está causando confusão. Você poderia nos ajudar a resolver o nosso problema?’. E assim, Paulo começa a resolver o problema no versículo 1, capítulo 12.

Vamos lê-lo: “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.” Agora, essa é uma boa introdução. Paulo  diz que a única coisa que ele não queria sobre isso é que eles fossem ignorantes. Que fossem agnósticos, numa tradução literal. Ou seja, pessoas que não sabem. Ele queria que eles entendessem esse assunto. Por quê? Ouça, a igreja não pode funcionar sem a operação dos dons espirituais. É assim que o Espírito Santo trabalha. É assim que o Espírito Santo opera. E é assim que o corpo é edificado. Tem que acontecer. Por isso que Satanás trabalha para que você seja ignorante.

Mas,  você deve entender. E você não pode basear sua compreensão na experiência, porque você não pode ser tão perspicaz. Os coríntios não eram e eles admitiram isso. Isso é mais do que posso dizer para algumas pessoas. Os dons espirituais na igreja de Corinto estavam fazendo exatamente o oposto do que Deus pretendia. Em vez de unificar o corpo, eles estavam dividindo-o. Então, Paulo começa no ponto zero. E nós vamos esboçar o que ele disse aqui em três tópicos: 1. A importância dos dons espirituais; 2. a fonte dos dons; 3. o tipo.

Paulo fala da importância dos dons espirituais começando no versículo 1. “Acerca dos dons espirituais…“, e é como dizer “agora, meu segundo ponto”. A linguagem grega usada aí dá o sentido exato de que ele estaria tratando agora do seu segundo ponto. Seu primeiro ponto está em 11:18, quando ele tratou dos abusos na Ceia do Senhor. Assim, é como se ele dissesse: ‘Em segundo lugar, vocês estão abusando da sua comunhão sobre dons espirituais e não quero que vocês sejam ignorantes’.

Agora, observe a expressão dons espirituais. Você provavelmente tem a palavra dons em itálico na sua Bíblia, porque essa palavra não aparece no texto original. A única palavra que aparece é espirituais. A tradução seria: “Agora, quanto aos espirituais, irmãos, eu não gostaria que vocês fossem ignorantes”. O que quer dizer a palavra espirituais? No grego é pneumatikon. Trata-se de uma palavra simples. Você pode compreendê-la facilmente. Pneuma é o quê? Espírito. Toda vez que você vê um i-k-os ou um -i-k-a ou um i-k-o-n no final de uma palavra grega tem o sentido de ‘caracterizado ou controlado por’.

Assim, pneumatikon é traduzido como controlado ou caracterizado pelo Espírito. O texto, assim, deve ser lido: “Agora, em relação a certas coisas caracterizadas ou controladas pelos espirituais…“. O que são essas coisas? Bem, alguns dizem que ele está falando sobre pessoas espirituais. Para estes, nos primeiros 11 capítulos Paulo falou às pessoas carnais, mas dessa parte em diante está se referindo às pessoas espirituais, que seriam aquelas que falam em línguas, que têm o dom.

Mas o texto pode ser traduzido realmente “quanto às pessoas espirituais”? Bem, em primeiro lugar, a palavra pneumatikon tanto pode se referir ao gênero masculino como pode ser usada de forma neutra. Mas, para interpretarmos corretamente esse texto do capítulo 12, verso 1 temos que olhar para o capítulo 14, versículo 1, onde o mesmo termo é usado: “Segui o amor, e procurai com zelo espirituais”. No texto original também não há a palavra dons nesse verso. Trata-se da mesma palavra (pneumatikon).

Mas, ao que essa palavra está se referindo nesse verso, a pessoas ou a dons? A resposta vem logo a seguir, na sequência do verso 1:: “…mas principalmente o de profetizar”. Ou seja, está se referindo ao dom de profetizar. E continua nos versos seguintes falando do dom de falar em línguas. Assim, a palavra pneumatikon (espirituais) no verso 1 está se referindo aos dons espirituais, porque esse é o assunto do capítulo inteiro.

Voltando ao Capítulo 12, verso 1, podemos presumir  que a palavra pneumatikon (espirituais) aqui está se referindo também aos dons, como no capítulo 14, inclusive porque o verso 4 diz: “Ora, há diversidade de dons…”, mostrando que, assim como no capítulo 14, o capítulo 12 está aqui se referindo ao assunto dos dons. E é por isso que os tradutores inseriram a palavra dons no verso 1 dos capítulos 12 e 14.

Assim, Paulo não está se referindo a pessoas espirituais, mas aos dons espirituais. A palavra pneumatikos, aparece 26 vezes no Novo Testamento, das quais 25 vezes tem o sentido de caracterizados ou controlados pelo Espírito Santo. Uma única vez a palavra é usada em referência a Satanás. Mas o uso normal dela é no sentido de ser controlado pelo Espírito.

Agora, você aprende muito sobre dons espirituais apenas olhando para a palavra pneumatikon, porque ela significa estar sob o controle do Espírito. Assim, o texto poderia ser traduzido: “Agora, acerca dos dons controlados pelo Espírito, irmãos, não quero que sejais ignorantes.

Se você for ao versículo 5, verá outra palavra. Paulo usa cinco termos diferentes para se referir a esses dons. No verso 4, a palavra usada para dons é carisma, que significa graça, mostrando que os dons são recebidos pela graça. Você não pode obtê-los por mérito. No versículo 5, ele usa a palavra administração. No grego é diakoneow, que significa servir. A palavra indica que os dons espirituais são usados ​​para fazer o que? Servir.

Já no versículo 6,  ele usa a palavra que se refere à energia: energeo, significando que os dons são energizados por Deus. Portanto, os dons espirituais são controlados pelo Espírito, concedidos pela graça de Deus para o serviço ao corpo de Cristo e são empoderados pelo Senhor. Então, você vê que os diferentes termos que Paulo usa se referem aos dons com uma ênfase diferente. Mas, no início do capítulo ele apenas os chama de espirituais.

“Agora, em relação aos dons espirituais, meus irmãos, eu não gostaria que vocês fossem ignorantes“. No texto, Paulo está usando um modo de linguagem no grego que serve para trazer bastante ênfase ao que ele está falando.  Ele fez o mesmo em 1 Tessalonicenses 4, quando falou do arrebatamento e não queria que os irmãos fossem ignorantes quanto aos que dormem. A mesma linguagem ele usou em Romanos 1, verso 13: “Não quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco …”.

Em Romanos 11:25, mais uma vez Paulo usa a mesma ênfase: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo…”. Ele não quer que eles sejam ignorantes acerca de Israel e sobre sua restauração. Desse modo, vemos esse termo usado uma e outra vez quando Paulo tem algo de vital importância a dizer. E ele estava dizendo aos coríntios: eu quero que vocês compreendam os dons espirituais; eu não quero que vocês sejam ignorantes sobre isso; vocês devem entender isso!

Você diz: por quê? Porque a igreja não pode amadurecer sem os dons. A igreja não pode funcionar sem eles. Satanás vai falsificá-los, vai confundir, causar caos e vai dividir a igreja. E isso é exatamente o que é feito hoje, não é? Você precisa entender esse assunto. Você tem que entender sobre o que são os dons e como você deve  ministrá-los. Há muita ignorância hoje. A ignorância se manifesta no abuso de dons, ignorando-os, negligenciando-os, enfatizando demais os errados, confundindo-os com falsificações…

Paulo diz que a ignorância deve acabar. E é precisamente o que temos em mente. Esperamos que o Espírito de Deus nos guie na compreensão disso, para que a ignorância possa chegar ao fim. Bem, isso é apenas o começo do nosso estudo sobre dons. Chegaremos ao fim debaixo da direção do Espírito. Continuaremos na próxima vez. Vamos orar.

Pai, lidamos com esse assunto em forma de ensino, aprendizagem, contexto e sentimos o peso de importância desse assunto, de modo que queremos lidar com ele de  forma justa e detalhada. E então, pedimos ao Teu Espírito que nos ensine. Ajuda-nos a perceber que a esfera em que toda a nossa vida cristã opera é o Capítulo 13: amar, ser amoroso, gentil e lidar com a verdade.

Mas, no entanto, firmes em nossa compreensão daquilo que Tu disseste. Ajuda-nos a sermos estudantes fiéis da Bíblia, a não sermos influenciados pelo subjetivismo, mas a lidarmos com a verdade como verdade. Ajuda-nos a crescer e amadurecer no conhecimento de Tua Palavra e de Ti mesmo. Para Tua glória, em nome de Cristo. Amém.


Esta é uma série de sermões sobre os dons do Espírito Santo e homens especialmente dotados, conforme links abaixo:


Este texto é uma síntese do sermão “Concerning Spiritual Gifts, Part 1”, de John MacArthur em 23/05/1976.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/1848

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

Compartilhe

You may also like...

3 Responses

  1. Juarez Teodoro de Souza disse:

    São ótimos esses ensinamentos. Que Deus, continuem vos abençoando.

  2. Administrador disse:

    Amém! Deus te abençoe!

  3. Suley disse:

    Adorei seu site e seus post.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.