O Cântico de Maria ao Salvador

A história na primeira parte de Lucas, capítulo 1, é do anúncio do nascimento de João Batista a Zacarias e Isabel. À medida que essa história chega ao fim, Isabel está grávida. Deus deu a Zacarias e Isabel, um casal de idosos, a capacidade de produzir um filho e esse filho agora está no seu ventre e ela está grávida de seis meses quando essa parte da história fecha.

Então vem a história, a partir do versículo 26, de uma menina de 13 anos de idade chamada Maria. E o mesmo anjo Gabriel vem até ela, desta vez na Galileia, com outro anúncio de nascimento, desta vez a virgem conceberá sem um homem e o próprio Deus criará no seu ventre uma criança que será o Filho do Altíssimo. Ele receberá o trono de Seu pai, Davi. Ele terá um reino sobre a casa de Jacó (Israel) e um reino que não tem fim. Ele será, em uma palavra, o Messias, o Salvador do mundo, o Filho de Deus. E Lucas registra a visita que Maria fez a Isabel, quando havia completado 6 meses da gravidez de Isabel.

Quem entenderia uma garota de 13 anos dizendo que tem em seu ventre uma criança gerada sobrenaturalmente por Deus? Quem acreditaria que uma menina de 13 anos tinha sido visitada pelo anjo Gabriel? Havia mais de 500 anos do último registro da visão de um anjo. Isabel acreditaria. Seu marido, Zacarias, foi visitado pelo mesmo anjo e recebeu o anuncio de que, por um milagre divino, eles gerariam o precursor daquela criança no ventre de Maria.

Ao fazer o anúncio a Maria, o anjo disse: “E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril” (Lucas 1:36). O que Maria fez? “E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá, E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel” (Lucas 1:39-40).

Nessa visita, Maria pôde contemplar confirmações acerca de tudo o que o anjo havia lhe dito. Ela creu, mas tudo aquilo era muito mais do que ela poderia compreender. Imagine uma menina de 13 anos, virgem, tendo em seu ventre uma criança gerada sobrenaturalmente por Deus, essa criança seria o Messias, o Salvador do mundo, Deus em carne humana! 

Por um lado, ela estaria pensando no privilégio, porque certamente havia muitas mães judaicas que desejariam ser a mãe do Messias. Ela sabia que sua honra era singular, sua honra era única. Por outro lado, ela tinha apenas 13 anos e estava numa posição em que poderia sofrer acusação de adultério e ser morta. José pensou deixa-la em secreto, protegendo-a da condenação. Mas, o anjo anunciou a ela também tudo sobre aquela criança.

Apesar dos medos, e antes de qualquer coisa, Maria voluntariamente se submeteu ao plano de Deus. No versículo 38, ela diz ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra”. Algumas mulheres se vangloriariam e outras não creriam ou se rebelariam, mas ela modestamente abraçou silenciosamente a vontade de Deus e deixou as preocupações com Deus.

Na casa de Isabel ela teve confirmações. Ela contemplou Isabel, uma mulher idosa e estéril, grávida de seis meses, conforme havia lhe dito o anjo. E o verso 41 diz que “ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo”. Uma cena extraordinária. E Isabel profetizou:

Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas (Lucas 1:42-45).

Maria, então, teve respondidas todas as suas perguntas e dúvidas. Foi a confirmação final de tudo o que o anjo lhe havia dito. E então, em Lucas 1:46-55, Maria explodiu em adoração:

46 A minha alma engrandece ao Senhor,
47 e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador,
48 porque atentou na baixeza da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada,
49 porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome.
50 A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem.
51 Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos.
52 Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes.
53 Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos.
54 Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia
55 a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais.

Maria é um exemplo perfeito de um verdadeiro crente. Ela ouviu a palavra do Senhor, creu, submeteu-se e adorou a Deus por isso. Aqui ela abandonou todas as suas dúvidas e receios, deixando suas preocupações com Deus e explodiu em profunda adoração. A adoração de Maria é um exemplo clássico da adoração pura. Pode não haver uma melhor no Novo Testamento. Na verdade, isso geralmente é chamado de Hino da Encarnação. É um hino de louvor a Deus, que está encarnado em Cristo e, no caso de Maria, em seu próprio ventre.

A adoração de Maria está recheada com a Escritura, numa demonstração de que ela conhecia profundamente a Palavra de Deus. Ela começa no versículo 46 dizendo: “A minha alma engrandece ao Senhor”. Um eco do Salmo 34:2, que diz: “A minha alma se gloriará no Senhor”. No versículo 47, ela diz: “meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador”. Um eco de Isaías 45:21, onde Deus diz: “Deus justo e Salvador não há além de mim”.

E no versículo 48, ela diz: “porque atentou na baixeza da sua serva”, fazendo eco com 1 Samuel 1:11, onde Ana diz: “Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres”. Também temos isto no Salmo 136:23, que diz: “Que se lembrou da nossa baixeza; porque a sua benignidade dura para sempre”.

Novamente, no versículo 48, ela diz: “pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada”, que faz eco das palavras de Lea em Gênesis 30, versículo 13: “Para minha ventura; porque as filhas me terão por bem-aventurada”. No versículo 49, Maria diz: “porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome.”, que faz eco do Salmo 126:3, “Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres”. E então, no versículo 49, ela diz: “Santo é o seu nome”, citando diretamente o Salmo 111:9, que diz: “Redenção enviou ao seu povo; ordenou a sua aliança para sempre; santo e tremendo é o seu nome”. Suas palavras de adoração são totalmente bíblicas, fundamentadas no Antigo Testamento.

Ela também entende a história de Israel. Ela entende como Deus exerceu Seu braço poderoso. No versículo 51 ela diz como no passado Deus dispersou os orgulhosos, derribou os poderosos de seus tronos, exaltou os humildes, encheu de bens os famintos e despediu vazio os ricos. No versos 54 e 55, ela faz referência à misericórdia de Deus para com Israel e à aliança abraâmica. Ela conhecia as Escrituras e a teologia da Aliança. Enfim, uma jovem cheia da Palavra de Deus. Jesus disse que “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mateus 12:34).

E, quando ela diz no versículo 48 que “desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada”, ela está falando de si mesma como destinatária de benção, não como dispensadora de bênção. Ela não diz que todas as gerações olharão para ela para serem abençoadas. Não é isto o que ela disse. Ela disse que todas as gerações vão lhe considerar abençoada por causa do que ela recebeu. Ela nunca foi dispensadora de bênção e da graça divina. Ela proclamou: “minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (v.46-47). E no verso 49, ela diz: “porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome”. Não é o que ela poderia fazer, mas o que Deus fez por ela, por toda a misericórdia recebida.

Nada apoia a noção tola de que a própria Maria deve ser um objeto de adoração. Maria não se identifica como objeto de adoração, mas sim, adora a Deus. Tragicamente, fizeram dela objeto de adoração e louvor. Em uma ocasião, uma mulher, ao ouvir as palavras de Jesus, bradou: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste” (Lucas 12:27). Isso foi uma verdade, Maria foi abençoada por ter sido escolhida aquela que daria à luz o Messias. Mas Jesus prontamente respondeu: “Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam” (Lucas 12:28). O caminho da bênção é o caminho da obediência à Palavra de Deus. Isso era verdade para Maria, e também é verdade para qualquer pessoa.

O louvor prestado por Maria foi uma expressão de grande fé, amor a Deus, adoração a Deus, compreensão das Escrituras e das promessas de Deus. Uma jovem em circunstâncias incríveis, com imensos desafios e dificuldades, no entanto, derramou-se em adoração ao Deus que conhecia e cria. O grande legado de Maria é o modelo de um verdadeiro crente. Ela não ouve orações, não responde orações e nem é co-redentora. Ela é um modelo de um verdadeiro adorador e não um objeto de adoração. Ela ficaria terrivelmente chocada se soubesse o que fazem a respeito dela.

Quero mostrar-lhe três coisas que aprendemos sobre o louvor de Maria, conforme registrado em Lucas 1:46-55.

Em primeiro lugar: Maria é uma ilustração perfeita da atitude de adoração. Podemos destacar quatro traços dessa atitude de adoração.

Número um, a adoração é interna. Você notará no versículo 46 que Maria disse: “Minha alma exalta o Senhor”. No versículo 47, “Meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Muito além dos lábios, sua alma e seu espírito, a pessoa interior. Todo o seu ser interior, sua mente, suas emoções e vontade, ela resume tudo, cada parte de seu ser se juntam em uma orquestra perfeita de louvor. A adoração começa com uma atitude interior.

É do coração do homem, uma figura bíblica para representar os pensamentos mais profundos do ser humano, que parte o verdadeiro louvor adorador, que é a essência do culto real. O culto externo, raso e superficial, é intolerável a Deus. O Senhor falou a respeito dos falsos adoradores: “Este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim” (Isaías 29:13). Isso é desonra para com Deus. Jesus disse: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24).

O verdadeiro adorador é aquele cujo coração é dedicado a adorar a Deus com total sinceridade, aquele que, no fundo, tem profunda gratidão a Deus. Não pode ser superficial em nenhum sentido, pois isso é, francamente, intolerável a Deus. A adoração deve vir do fundo da alma e do espírito e, por assim dizer, é intocada pelas circunstâncias.

Número dois: A adoração é intensa. No versículo 46, ela diz: “A minha alma engrandece ao Senhor”. Algumas traduções dizem “magnifica”. Implica intensidade. No verso 47, ela diz: “meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador”. Ou seja, regozijou-se em Deus. É mais um sinal de intensidade e profundidade de seu louvor.

Com Maria podemos aprender que não precisamos induzir a verdadeira adoração, como tem sido tão comum em nossos dias. A igreja tem recorrido a despertar emoções para produzir um “clima” de adoração. Eu tenho uma espécie de desgosto com isso. Veja que não usamos parafernálias musicais aqui. Não que isso esteja errado em si mesmo, mas a adoração não pode estar vinculada a isto. Há lugares que até a arquitetura da construção está voltada a criar o “clima” de adoração. Parafernálias musicais e projetos arquitetônicos não produzem o verdadeiro culto. A verdadeira adoração vem do interior do homem, de seu coração. Não é algo que pode ser induzido exteriormente.

A música que cantamos aqui não é destinada a produzir emoções. Ela se destina a fazer algo em sua mente. É música para fazer você pensar, não para fazer você sentir. Queremos que você pense sobre as grandes verdades para que você possa adorar a Deus com base nas coisas que são verdadeiras sobre Ele. Isso é adorar tanto em verdade como em espírito. Maria não foi induzida por emoções produzidas pelo ambiente. Ela adorou a partir de seu interior, e com intensidade. Ela se regozijou com o Senhor e com suas obras.

É terrível ver em todos os cantos do mundo a nefasta idolatria que a Igreja Católica Romana faz em torno de Maria, pregando que ela foi uma virgem perpétua, imaculada, que ascendeu aos céus, e que seria hoje a rainha dos céus e co-redentora com Cristo. Tudo isso é uma afronta às Escrituras. Maria não é uma pessoa a ser adorada, mas foi uma verdadeira adoradora de Deus. Ela não é co-redentora, mas ela foi alvo da salvação divina. Não há rainha nos céus, mas somente o Rei do Reis. Ela foi uma verdadeira adoradora do Deus Eterno.

Em Malaquias 1:7-14, Deus confrontou Israel por oferecer sacrifícios poluídos. O verso 8 diz: “Porventura terá ele agrado em ti? ou aceitará ele a tua pessoa? diz o Senhor dos Exércitos.” (v.10). O profeta Amós denunciou a apostasia e a hipocrisia de Israel:

Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me exalarão bom cheiro. E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas (Amós 5:21-23).

O profeta Isaías faz o mesmo:

De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor?… Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene… Quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue (Isaías 1:11-15).

Em contraste com todo esse tipo de coisa, Maria amou a Deus profundamente em seu coração, conhecia a verdade sobre Deus e conhecia bem o seu Deus. E, em resposta a esta grande misericórdia de Deus, essa grande benção de Deus para torná-la mãe do Messias e trazer para o mundo o Salvador do mundo, o Cordeiro de Deus, o grande e glorioso Rei prometido, apenas explode em louvores. E não é só que ela esteja grata pelo que Deus está fazendo por ela, mas pelo que acontecerá em toda a história da redenção através da chegada do Messias. Ela está cheia de alegria e seu louvor é interno e intenso.

Número três: A adoração verdadeira é habitual. No verso 46, Maria diz que “A minha alma engrandece ao Senhor”. “Engrandece” no original é um verbo do tempo presente que indica ação contínua. Aqui está alguém que está no fluxo da vida louvando a Deus de forma ininterrupta. As circunstâncias não influenciam a adoração verdadeira. Não importa o que aconteça circunstancialmente, Deus não muda. Nada muda Deus ou Sua Palavra ou Seus propósitos ou Suas promessas.

Então nada interrompe o fluxo da verdadeira adoração. I Tessalonicenses 5:18 diz “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”. Romanos 14:8 diz que “se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor”. Em Filipenses 4:11-12 Paulo disse ter aprendido a se contentar com tudo, mesmo nas necessidades, ele declarou: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (v.13).

Nada altera um coração adorador. O verdadeiro adorador aprende a contemplar Deus o tempo todo. Se ele estiver num deserto, vendo as criaturas que vivem lá, ele louvará a Deus por sua inteligência e poder ao cria-los. Se ele estiver em altas montanhas ou densas florestas, ele contemplará a majestosa gloria e grandioso poder criativo de Deus. Ele vê tudo na perspectiva de Deus, inclusive nos juízos que Deus já executou nesta Terra, até mesmo quando civilizações foram banidas. Tudo é motivo para glorificar a Deus, louvá-Lo e adorá-Lo. O verdadeiro adorador vive um estado constante de adoração. Então, adoração é isso. E você vê tudo isso em Maria. O culto é interno, intenso e é habitual.

Número quatro: A verdadeira adoração é humilde. E direi isso sem medo de contradição. Apenas pessoas humildes adoram. Pessoas orgulhosas não podem adorar a Deus, pois elas estão muito ocupadas adorando a si mesmas. No início dos Dez Mandamentos, Deus disse: “Não terás outros deuses”. Não há deus mais terrível que o próprio ego do homem. Esse é um deus dominador e que vive competindo contra o domínio divino. O culto verdadeiro só pode vir de um coração humilde. Tiago 4:6 diz: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.

O orgulho e ignorância são impeditivos à verdadeira adoração. Sua adoração pode ser dificultada se você não conhece o Deus que está adorando. E isso é uma coisa triste. Um conhecimento superficial de Deus, algo comum no cristianismo moderno, produziu uma geração infantil, que não consegue experimentar uma profunda adoração, por não conhecer bem a Deus. Mas, o orgulho é a adoração de si mesmo. O coração orgulhoso é cheio de amargura e ingratidão. São pessoas dominadas pela retaliação e rancores. Elas estão em busca de um palco para serem adoradas e não de buscar a Deus para adorá-Lo.

O verdadeiro adorador é uma pessoa que busca o bem dos outros, que destronou o seu ego. Isaias 2:12 diz que “o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido”. Deus odeia o orgulhoso. Jesus disse que “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3). Pobre de espírito significa aquele que conhece sua própria falência e sabe que não é nada. Aquele que chora suas misérias, é manso e tem fome e sede da justiça.

E assim era Maria. Ela diz: “porque contemplou na baixeza da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada”. Ela disse, em outras palavras: “Deus me olhou, sabe que não sou ninguém, teve misericórdia de sua serva e me abençoou grandiosamente”. Deus não escolheria uma mulher que se envaidecesse por ser a mãe terrena de Jesus. Ele escolheu uma serva humilde, que reconhecia sua pecaminosidade e que disse: “O Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome” (Lucas 1:49).

Maria era uma jovem desconhecida que não ocupava nenhum destaque na sociedade. Ela era um nada, sem expressão. E, sabe de uma coisa? Mesmo depois disso, ela nunca se tornou importante. Ela nunca foi levada a nenhum trono e a nenhuma posição especial. A igreja de Cristo nunca a colocou em um pedestal ou num trono. Nunca lhe foi concedida nenhuma honra particular. Você não vê isto em qualquer lugar no Novo Testamento. Ela simplesmente se misturou na igreja como todos os outros.

Ela era da linhagem real de Davi, como tantos outros. Era uma mulher comum, noiva de um rapaz muito comum, um carpinteiro aprendiz. Mas, muito além de sua pobreza, ela reconhecia ser uma pecadora e indigna, que proclamou: “O meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lucas 1:47). Ela tinha uma visão exaltada do Senhor e uma visão humilde de si mesma. E teve o pensamento mais surpreendente de todos os pensamentos: Deus é santo e estava interagindo com uma pecadora. É algo muito além da compreensão. O coração humilde vê a santidade de Deus e a sua própria pecaminosidade, e isto o faz se derramar em adoração a um Deus misericordioso, bondoso e glorioso. Isaías 57:15 diz:

Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.

Qual é então a atitude na adoração? É interna, é intensa, é habitual e humilde. A atitude certa para a adoração é de uma profunda, sincera e intensa gratidão e alegria pela misericórdia de Deus, que explode habitualmente de uma alma humilde que é dominada pelo seu próprio sentimento de indignidade. Essa é a atitude de adoração.

Em segundo lugar, vejamos o objeto da adoração. E Maria ensina-nos também com o exemplo dela. O objeto de adoração está muito, muito claro no versículo 46, “Minha alma exalta o Senhor”. Observe como ela define o Senhor no versículo 47: “Meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador”. Ela poderia ter dito muitas coisas, como: meu Deus, meu ajudante, Deus da minha força, Deus da minha sabedoria… Ela poderia ter dito muitas coisas sobre Deus, mas todo seu culto realmente se concentra em Deus como Salvador.

Deixe-me dizer-lhe, se eu cresse em Deus apenas como Criador, eu teria dificuldade em adora-Lo. A salvação é o elemento central na adoração. O miserável pecador, ciente de sua indignidade, contempla um Deus santo e salvador. Maria disse: “Minha alma engrandece ao Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Ela sabia que, na vinda do Messias, a realidade da salvação se tornaria uma realidade também para ela. O nome daquela criança seria Jesus, que quer dizer “Jeová salva”. Ela estava adorando o Deus Salvador, cuja salvação agora está entrando na História através da criança em seu ventre.

Não haveria como adorar a Deus se nosso destino fosse o inferno. A adoração é substancialmente e fundamentalmente por reconhecermos Deus como nosso Salvador. Deus é um Salvador por natureza. Ezequiel 18:20 diz: “A alma que pecar, essa morrerá”. Romanos 6:23 diz que “o salário do pecado é a morte”. O versículo termina dizendo: “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor”. Maria está proclamando Deus como seu Salvador. O anjo disse a José que Maria “dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1:21). Maria está se alegrando porque aquela salvação também diz respeito a ela. Ela sabia que também dependia da graça.

Em terceiro lugar: O elemento da adoração que Maria ilustra é a razão ou o motivo da adoração. Ela adora do coração, com intensidade, habitualmente, humildemente. Ela adora o Deus que é Salvador. Ela O adora por três razões. Razão número um: pelo que Deus fez por ela. Os versos 48 e 49 dizem:

Porque contemplou na baixeza da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome.

Adoração começa com o que Deus está fazendo em sua vida. E é aí que ela começa a adorar. A única pessoa que realmente adora é a que experimentou o poder salvador de Deus, a misericórdia de Deus. Maria é uma crente. Este é o exemplo de um verdadeiro crente aqui. Claro que ela já o era uma antes do nascimento de Cristo e antes da cruz. Ela era uma verdadeira crente.

Ela foi salva de seus pecados pela fé no verdadeiro Deus. Ela era uma autêntica arrependida. Desde cedo ela tinha o conhecimento da lei de Deus. Ela sabia que não estava de acordo com essa lei. Ela tinha ido a Deus com um coração arrependido, pediu piedade e recebeu. Deus a salvou. Ela diz: “Deus, meu Salvador”. E agora, esse grande trabalho de salvação seria finalmente realizado quando Deus, que a salvou de seus pecados, colocaria seus pecados no Messias que morreria em seu lugar. Ela sabia que era uma pecadora. Ela viu sua necessidade. Ela sabia que Deus era seu Salvador e adora a Deus nesse conhecimento.

É aí que o culto começa. Ele começa pessoalmente. Como todos nós que somos salvos de nossos pecados, começamos a louvar a Deus pelo que Ele fez por nós. Certamente, o sangue de Davi fluía em suas veias, mas, por muitas gerações, a raça real vivia em isolamento entre os pobres. A linhagem era real, mas aqueles descendentes da realeza estavam vivendo em status social baixo. E ela não reconheceu tanto o baixo status social como seu baixo estado espiritual. Ela ficou atônita, esta pequena frase, versículo 48: “Ele teve consideração pela baixeza de sua serva”. Ela sabia que Deus olhou para ela e derramou Sua misericórdia e perdão. Seu louvor começa, então, muito pessoalmente por causa do que Deus fez por ela.

No verso 49, ela diz que “desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas”. Algumas traduções dizem: “O Poderoso fez grandes coisas por mim”. Ela está falando de sua salvação. É a maior e incomparável obra de Deus por nossas vidas. Temos um motivo grandioso e sublime para nos derramar em louvor e a adoração perante nosso Deus: a salvação que Ele operou em nós. Nunca podemos esquecer que o Deus santo se fez homem para salvar pecadores miseráveis como nós.

Quando os discípulos voltaram encantados com a sujeição dos demônios ao nome de Jesus, o Senhor disse: “não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus” (Lucas 10:18). Se você não se regozija plenamente com as realidades tremendas da salvação, é porque você não entendeu tudo que ela representa ou porque você está tomado pelo egocentrismo. O coração de um salvo deve estar sempre em profundo regozijo, que se transforma em derramamento intenso e perene de louvor e adoração por tão grande salvação.

Então, antes de tudo, o motivo da adoração de Maria foi o que Deus estava fazendo por ela. Segunda razão: ela estendeu ao que Deus faria pelos outros. Ela não está apenas entusiasmada com a obra de Deus em sua vida mas, veja o versículo 50: “A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem”. Ela cita diretamente o Salmo 103, que no verso 17 diz:

A misericórdia do Senhor é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos;

Onde quer que haja adoradores sinceros, onde quer que haja aqueles que verdadeiramente amam a Deus, que realmente vêm a Deus pela misericórdia e graça, aí há gente salva. Ela está adorando a Deus não só por causa de sua própria experiência pessoal de salvação, mas por aquilo que virá no futuro. A experiência de Maria se multiplicou ao longo dos séculos. O louvor e a adoração de corações alcançados pela graça salvadora é um distintivo dos santos.

Terceira razão, e isso é tremendo, Ela adora a Deus por causa do que Ele fez pelos outros no passado. No verso 50, ela diz: “A sua misericórdia vai de geração em geração”. No verso 51: “Agiu com o seu braço valorosamente”. No verso 52: “Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes”. No verso 53: “Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos”. No verso 54: “Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia”. E no verso 55: “a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais”. Ela não está falando de uma ação presente de Deus, mas no futuro e no passado. Ela também olha para trás na história redentora.

Esta é uma abordagem típica da adoração judaica. Você encontra isso através dos Salmos. Eles adoram a Deus por causa de quem Ele era, recitando Seus atributos, e pelo que Ele fez, recitando Suas ações. A história de Israel evidencia que Deus dispersou os orgulhosos e altivos. Podemos ver isto, por exemplo, com Faraó e Nabucodonosor. Muitas vezes a mão do juízo divino desceu sobre os poderosos altivos. Também muitas vezes o Senhor estendeu sua mão para socorrer Israel.

Deus derruba a ordem natural. Os poderosos, donos das riquezas, intelectuais e orgulhosos não podem resistir aos propósitos de Deus. Deus os despediu vazios e derramou piedade aos humildes, aos famintos, aos escravos errantes de Israel. O verso 54 diz: “Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia”. Ele fez isso em memória da sua misericórdia. O orgulhoso e altivo, Deus o derrubará, mas para com o humilde e faminto, Deus usará de misericórdia.

Maria olhou para a história de misericórdia no passado. Ela estava experimentando a mesma misericórdia no presente. E ela viu a misericórdia sendo dispensada para as gerações vindouras. Ela está olhando para a história redentora. Ela está adorando o Deus que é Salvador, que estava lhe salvando, que salvará as gerações futuras e salvou as gerações no passado. Este é um hino bastante incrível que Maria apresenta. Ela vê toda a história redentora, no versículo 55, como um cumprimento da aliança abraâmica: “A favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais”.

Em Gênesis 12, Deus prometeu a Abraão que abençoaria, através da sua semente, o mundo. Ele prometeu salvação naquela grande aliança. E Maria está se referindo a esta aliança. Aquela salvação estava alcançando Maria e alcançando as gerações vindouras, como Deus fez nas gerações anteriores.

Deus é um Deus salvador, e esse grande propósito da salvação de Deus alcançaria o ápice na cruz, em que Ele tomou sobre Si nossos pecados e providenciou salvação para os santos do Velho Testamento, dos dias de Jesus e das gerações futuras. Esse hino de louvor é um exemplo abrangente de como devemos louvar a Deus. Nós vemos a atitude, vemos o objeto e vemos os motivos de seu louvor. No ventre de Maria estava o Deus Eterno encarnado, vindo resgatar Seus eleitos de todas as gerações.

Maria foi como uma de nós. Ela não deve ser adorada. Ela foi uma adoradora e ela nos deu um exemplo de como devemos adorar. Ela foi uma crente modelo. Ela ouviu a Palavra de Deus e creu. Ela derramou louvores de gratidão por todas as obras do Senhor e por tudo que Ele é. É assim que vive um verdadeiro crente. Vamos orar.

Pai, novamente agradecemos por mais uma passagem das Escrituras que inundam nossas mentes com grandes verdades espirituais. Obrigado por Maria, pelo exemplo que ela nos deixou. Ela foi alguém como qualquer um de nós, porém singularmente abençoada por ter sido escolhida para ser a mãe do Salvador. Mas, ainda assim, ela era como nós, uma pecadora salva por Tua graça e misericórdia, esmagada por sua indignidade, desejosa por obedecer Tua Palavra e se derramando em louvor. Ajuda-nos a seguir esse belo exemplo. Amém.


Leia Também: A Maria Bíblica x A Maria do Catolicismo


Esta é uma série de diversos sermões sobre a encarnação de Cristo. Segue links dos que já foram publicados.


Este texto é uma síntese do sermão “Mary’s Praise”, de John MacArthur em 28/03/1999.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/42-14/marys-praise

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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1 Response

  1. Um servo do Altíssimo disse:

    Amém! Amém! Que rico sermão! Que Deus produza em nós a verdadeira adoração!

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