A Marca da Real Grandeza – 1

Lucas 9:46 a 50, é uma conjuntura crítica no evangelho de Lucas. Deixe-me apenas dar-lhe um pouco do tipo de cenário aqui. Estes são os dois últimos incidentes que Lucas registra do ministério de Jesus na Galileia. Você se lembra quando Ele começou Seu ministério. Ele foi batizado por João Batista e, então, desceu para a  Judeia, a área do sul em torno de Jerusalém. Ele ministrou por um tempo e, então, veio até a Galileia e esteve lá por um ano, talvez um pouco mais, ministrando na Galileia.

E nós temos estudado esse ministério galileu há alguns anos. Tem sido um tempo tremendamente rico, vendo o Senhor Jesus atravessar toda a Galileia, chamando Seus apóstolos, enviando-os de dois em dois no ministério. Bem, isso chega ao fim no versículo 50 e no versículo 51, onde lemos que Ele fixou resolutamente Seu propósito para ir a Jerusalém. Começando com o capítulo 9, versículo 51, temos a viagem a Jerusalém. E vai até o capítulo 19, creio que versículo 44.

Então, vamos nos fixar nessa viagem a Jerusalém por um longo período de tempo. Mas é uma ótima viagem, porque também é o momento do treino dos doze. Então, a partir do capítulo 9, versículo 51, quando começarmos na próxima semana, até o capítulo 19, versículo 44, você vai para a escola que os apóstolos foram e Jesus será seu professor. Você será discipulado por Ele. Esta é uma parte tremendamente rica da Escritura.

E, claro, finalmente chegaremos a Jerusalém, onde Ele foi crucificado, ressuscitou dos mortos e ascendeu de volta ao Pai. Então, esta é uma espécie de vislumbre final do ministério na Galileia. E, ao mesmo tempo, embora o treinamento oficial dos doze parece ter iniciado na jornada para Jerusalém, já houve treinamento completo antes, e essa passagem é uma ilustração desse treinamento. Vamos lê-la:

46 E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior.
47 Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si,
48 E disse-lhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo será grande.
49 E, respondendo João, disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco.
50 E Jesus lhe disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós.

Esta passagem é sobre humildade. Trata-se de humildade contra o pano de fundo do orgulho flagrante. Há uma discussão, indicada no versículo 46, entre os doze sobre qual deles seria o maior. É sobre o orgulho individual. E então, você notará no versículo 49, João tenta impedir uma pessoa que está expulsando demônios em nome de Jesus, porque ele não pertence ao seu grupo. É sobre o orgulho do grupo. Então, você tem questões em relação ao orgulho individual, questões relativas ao orgulho do grupo e, a partir desses dois incidentes, Jesus nos dá lições de humildade.

Agora, nada é mais natural para os seres humanos caídos do que o orgulho. Este, francamente, é o pecado determinante do caos. Se você quiser entrar em contato com o que significa ser caído, significa ser egocêntrico. Auto-amor, auto-satisfação, auto-promoção, auto-exaltação, auto-realização: são as paixões de um coração caído. Agora, em nosso mundo, essas são consideradas virtudes, porque vivemos em um mundo de cabeça para baixo.

A sociedade chegou a um acordo com a sua queda e a elevou como virtude. Nós trocamos, como o profeta disse, doce por amargo e amargo por doce; bem pelo mal e mal pelo bem. Nós invertemos tudo. Mas, a realidade é que todas as expressões do pecado fluem do orgulho dominante no coração humano. O orgulho é, então, a corrupção central. A auto-adoração é a verdade do caos real. Todo pecado cresce no solo do orgulho. Tudo cresce no solo do orgulho.

O orgulho é o pecado condenatório que produz rebelião contra Deus. Todo tipo de rebelião e todo pecado é anarquia. Todo pecado é rebelião contra Deus e tudo isso é produzido pelo orgulho. O orgulho procura destronar Deus. Busca por um não-deus. Procura dar um golpe fatal à Sua soberania e Sua majestade e substituir Deus pelo ego. O orgulho agarra o coração do pecador. E é por isso que é tão difícil crer, é por isso que é tão difícil ser salvo, que é tão difícil se arrepender, porque o orgulho é dominante.

E quando o pecador vem a Cristo, vem para a salvação, ele deve ser caracterizado por auto-ódio, abnegação e negação de si mesmo. Como aprendemos em Lucas 9:23, “Se alguém vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga“. Abandono e abnegação total. Nós falamos sobre suicídio do ego. Jesus disse que você deve se odiar. Você vem ao lugar onde o seu desejo de verdadeira bondade e verdadeira realização deve ir embora e dar lugar ao auto-ódio.

E quando Jesus disse “negue-se a si mesmo“, lembre-se que a língua grega realmente diz que ‘você tem que se recusar a se associar com a pessoa que você é’. O auto-ódio, a abnegação é essencial para o verdadeiro arrependimento e, portanto, para a salvação. É aí que voltamos para as bem-aventuranças, onde você está falido em seu espírito, de luto, manso e faminto por uma justiça que você não tem. É como o publicano que batia no peito e dizia: “Deus, seja misericordioso comigo, pecador!“. Esse é o homem que vai para casa justificado. Somente quando o orgulho é dominado com a convicção do pecado e da miséria é que uma pessoa pode ser convertida.

O apóstolo Paulo é uma ótima ilustração para isso. Em Filipenses 3, ele era um israelita, da tribo de Benjamim, uma das mais nobres das tribos, era um hebreu dos hebreus, manteve todas as tradições, ele era kosher [seguia com rigor a dieta estabelecida pelo judaísmo], ele era apaixonado por sua religião até o ponto de perseguir alguém que fosse contra ela, ou seja, os cristãos.

Ele era zeloso pela lei de Deus, tanto que era fariseu e, quanto à manifestação externa de seus atos, ele era justo. E assim, era satisfeito consigo mesmo, até encontrar-se com Cristo e, quando chegou ao ponto de convicção do Espírito Santo, viu tudo isso como estrume, lixo. Ele chegou a uma auto-rejeição apropriada.

Isso é o resultado do trabalho de convicção do Espírito Santo, derrubando o orgulho. Então, quando você se torna crente, você chega ao ponto de ver seu orgulho dominado pelo triunfo e pelo trabalho do Espírito Santo, trazendo convicção sobre seu coração de que você é um pecador miserável, digno de nada. Outra maneira de vermos isto na experiência de Paulo é olhando para o capítulo 7 de Romanos. E essa passagem nos ajuda a compreender essa questão de orgulho e humildade.

No capítulo 7 de Romanos, Paulo dá um testemunho muito parecido, é claro, com o testemunho no capítulo 3 de Filipenses, apenas numa perspectiva diferente. Ele está aqui falando sobre sua experiência de conversão. Em Filipenses 3, foi quando Paulo viu que tudo sobre o que ele se orgulhava era nada e quando ele chegou a essa falência de coração, quando ele chegou a essa percepção de que tudo isso não somava nada absoluto, tudo era perda, de fato isso o mandaria para o inferno, ele abraçou a Cristo.

Bem, aqui em Romanos, ele não parte do ponto de vista de ver Cristo, mas do ponto de vista da compreensão da lei de Deus. Verso 9: “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri.” Em outras palavras:

Antes de entender a realidade da lei de Deus, eu estava vivo, meu eu, o ego, estava vivo, eu estava vivendo minha vida, e eu era o personagem principal. Eu pensava que estava indo bem. Era satisfeito comigo mesmo. Eu estava buscando a realização em mim mesmo, etc. Antes da lei, eu nunca tinha realmente tido a convicção de que vivia em violação à lei de Deus. Mas, quando o mandamento veio, quando fui levado pela lei e entendi, o pecado se tornou vivo e eu morri.

Este é o momento em que o Espírito de Deus o trouxe para falência espiritual, absoluta abnegação e auto-ódio, o ponto em que a fé salvadora abraça Cristo como sua única esperança:

Entendi que eu tinha violado a lei de Deus, que não podia guardar a Lei de Deus, que eu estava condenado pela lei de Deus. Antes, eu estava vivo, estava bem. Mas, quando veio o poder de convicção de que eu estava vivendo em violação à lei de Deus, meu pecado tornou-se vivo para mim e naquele momento eu morri.

É a morte de si mesmo. No versículo 10, ele diz: “E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte“. Ou seja: ‘isso me matou’. Isso é o que tem que acontecer. Antes de poder ganhar vida em Cristo, você precisa ser morto em relação a você mesmo. E, no versículo 11, ele segue: “Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou.

Então, o verso 9 traz a expressão “Eu morri”; no verso 10 há a expressão “me era para morte”; e no verso 11, temos a expressão “me matou” . Nós falamos sobre isso, não é? Sobre suicídio do ego, sobre abnegação, quando olhamos para Lucas 9:23. Trata-se de auto-negação. Bem, isso é o que acontece quando uma pessoa é salva. O Espírito Santo vem e domina o orgulho e quebra a confiança do pecador em si mesmo e o leva ao ponto em que ele está disposto a abandonar tudo, até assumir uma cruz. Ou seja, até se voluntariar para dar a vida, se necessário, pela causa do evangelho. Esse é o milagre maravilhoso. Essa é a invasão poderosa do Espírito de Deus que penetra no coração de alguém que está sendo regenerado.

E é um milagre divino, porque o único jeito de o orgulho poder ser quebrado nesse grau é se Deus entrar e dominar esse orgulho no interior do homem, pois esse orgulho é natural para o coração caído. Você não pode fazer isso por conta própria, é por isso que a salvação é do Senhor, porque você nunca poderia superar o seu orgulho, você nunca poderia vencer o que é natural para a sua alma corrupta.

Mas, o Espírito Santo vem com convicção, traz a lei de Deus sobre você. O pecador começa a ver as violações da Lei de Deus e, enquanto pensava estar vivo e livre, perseguindo todos os seus sonhos e ambições, de repente ele se vê à luz das violações da lei de Deus e ele morre. Esse é o grande milagre da conversão.

Então, podemos dizer isso, amado: Se você é de fato um cristão, no momento da sua redenção e sua salvação, seu orgulho foi quebrado e você veio quebrado e com o coração contrito, porque o Espírito de Deus esmagou seu orgulho, quebrou todas as suas esperanças e suas realizações. E você se colocou diante de Deus reconhecendo voluntariamente sua falência e vazio espiritual e clamando: “Deus, seja misericordioso comigo, um pecador!”. Esse foi o milagre de sua regeneração.

Mas você percebe algo? Mesmo agora que você é um cristão, o orgulho não se foi permanentemente. Você percebeu isso? Permanece, embora naquele momento de regeneração, naquele milagre da salvação, tenha sido dominado pelo poder do Espírito de Deus. Milagrosamente, os mortos receberam vida, os cegos passaram a ver, o prisioneiro foi libertado, todos pelo poder soberano e sobrenatural de Deus. E Deus lhe concedeu fé para abraçar Cristo e aquele milagre glorioso. Naquele momento, o orgulho foi superado.

Mas você sabe de uma coisa? O orgulho foi gravemente ferido, foi dado um golpe de morte, mas ele ainda está agonizando para morrer, ainda não morreu e está flutuando em você ainda, não é? Claro que é. Agora, deixe-me dizer o que é santificação. Eu acabei de dizer o que é justificação, ou salvação, deixe-me dizer o que é a santificação. A santificação é o triunfo da humildade sobre o orgulho remanescente. A santificação é um processo que dura por toda a sua vida e uma maneira simples de entendê-la é que é o triunfo da humildade sobre o orgulho.

Você ainda tem uma batalha, não é mesmo? Paulo tinha. Ele disse: “Olha, a lei veio e eu morri“. Você acabou de ouvi-lo dizer isso. E mesmo assim, diz ele, versículo 15, Romanos 7: “Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.” Em outras palavras: ‘O que está acontecendo em mim? Eu faço o que não quero fazer. Não faço o que devo fazer!’. E ele diz no versículo 17: “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Isto é: ‘há pecado em mim e a raiz é esse orgulho’.

No versículo 24, ele se chama de “um homem miserável“. O orgulho ainda está lá, o orgulho residual ainda está em nossa carne caída. E o Espírito Santo está constantemente a subjugar  esse orgulho. O processo de crescimento espiritual, o processo de santificação é o triunfo progressivo da humildade sobre o orgulho. É assim que você pode medir seu desenvolvimento espiritual, pela medida de triunfo que sua humildade tem sobre seu orgulho natural. A humildade é obtida de modo muito duro. Na verdade, não pode ser obtida apenas através do ensino da Escritura. Você pode ter ensino após ensino sobre humildade, mas isto não é suficiente.

Isso é importante, isso é crítico, é essencial e é por isso que o Senhor dá essa lição sobre humildade aqui. E haverá oportunidade para nós aprendermos sobre humildade e também para aplicarmos o que estudamos. Porém, para mostrar o quão difícil é se livrar do orgulho, temos o texto de Lucas 9, em que estamos vendo o final do ministério galileu e Jesus dá esta mensagem muito direta sobre a humildade. Mas,  avançando rapidamente até o momento em que Jesus deve ser crucificado, meses a frente desse momento descrito no capítulo 9, os principais sacerdotes e escribas estão prestes a matar Jesus. Estamos chegando perto da cruz. Meses passaram.

E lemos em Lucas 22, muito longe do capítulo 9, isto é, no final da jornada para Jerusalém, versículo 24: “E houve também entre eles…” – os Doze – “… contenda, sobre qual deles parecia ser o maior.” Esse é o mesmo problema, meses depois! O orgulho não se dá facilmente por vencido. Aqui estão novamente, na mesma disputa. Jesus até lhes disse uma parábola. Ele disse que havia um homem que precisava de trabalhadores na sua vinha e, então, ele foi contratá-los e alguns trabalharam doze horas, alguns trabalharam nove, outros trabalharam seis, alguns trabalharam três e outros trabalharam uma hora. Todos receberam a mesma recompensa. Jesus estava falando sobre igualdade no reino. Ele estava dizendo a eles:

Olha, vai ser o mesmo para todos vocês, todos vocês vão entrar no reino, todos vocês receberão a mesma recompensa magnânima da vida eterna, não há ordem hierárquica. Não há nenhuma posição lá.

E mesmo com essa parábola, a lição em Lucas 9, a questão ainda aparece meses depois no capítulo 22 novamente. Por que isso? Porque o orgulho é difícil de matar. Muito difícil.

Bem, se não é o ensino que derrota o orgulho, o que é então? É uma combinação do ensino e da experiência que o Senhor traz à sua vida. Tiago diz: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias provações…”. Por quê? “Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.” (1:3-4).

Pedro, em 1 Pedro 5:10, e ele sabia disso por experiência pessoal: “… depois de havemos padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça”. Pedro sabia que seu próprio amadurecimento, sua própria santificação não estavam apenas relacionados à informação. Estavam relacionados a ser esmagado, ao sofrimento. Então, neste processo de santificação, duas coisas operam: a Palavra de Deus trabalhando e refinando, e o trabalho providencial de Deus, enquanto Ele traz provações em nossas vidas para quebrar nosso orgulho.

Em 2 Coríntios 12, ilustração mais notável, Paulo teve um espinho na carne. Literalmente, era uma estaca, uma lança que atravessava sua carne, uma experiência dolorosa e horrível. Ele orou três vezes para que o Senhor o removesse. O Senhor disse que não iria remover o espinho. E Paulo confessou ali que o Senhor lhe deu aquele sofrimento para evitar que ele se exalasse.

Então, aquilo que o Senhor precisa fazer para evitar que você se exalte, é o que o Senhor fará, porque é parte da progressão da sua santificação. O orgulho morre por uma morte dura e é basicamente derrotado pela compreensão contínua da verdade de Deus trabalhando em você, misturada com sofrimento e experiências de derrota, angústia e provações, que quebram nossa autoconfiança. Então, novamente eu digo, a santificação é o processo da humildade triunfando sobre o orgulho, de modo que quanto mais humilde é a pessoa, mais santificada está. É essencial, então, aprender essas lições profundas.

Agora, voltando ao texto de Lucas 9, os discípulos estão discutindo o assunto sobre quem vai ser o maior. Esta era uma parte da sua cultura. Isto é o que eles aprenderam com os líderes religiosos. Isto é o que eles aprenderam com os rabinos e os fariseus. Todo mundo estava nesse modo de autopromoção espiritual. Era muito comum.

E então, eles estão apanhados neste debate realmente nojento e embaraçoso sobre qual deles seria o maior. Esta manifestação de seu orgulho, no entanto, torna-se a oportunidade para o Senhor trazer algum ensinamento sobre o tema da humildade. Um ensino que é muito, muito importante para nós. E nós vamos ser imensamente beneficiados por esse ensino.

Agora, o cenário é Cafarnaum, uma cidade na Galileia, na ponta norte do Mar da Galileia, onde Jesus havia estabelecido a sede de Seu ministério galileu. Era também o lar de Pedro. Isso aconteceu em uma casa em Cafarnaum. Comparamos Mateus 18 e Marcos 9 e podemos muito bem reconstruir a cena. A casa pode muito bem ter sido a de Pedro. A criança pequena que Jesus escolheu pode muito bem ter sido uma das crianças da família de Pedro.

Então, estamos aqui na casa de Pedro em Cafarnaum, no final do ministério galileu. Os discípulos acabaram de sair da estrada. Eles andaram pela estrada onde Jesus ensinou, pregou e fez milagres. Eles estão retornando depois dessa viagem. Agora, enquanto estão na estrada, eles estão tendo uma discussão sobre quem seria o maior deles, qual deles será maior no reino que o Senhor irá estabelecer. Era como se as declarações de Jesus sobre o sofrimento e a morte tivessem caído no esquecimento deles.

Jesus tinha dito: ‘vocês vão me seguir, devem negar-se a si mesmos, pegar sua cruz, devem estar dispostos a morrer’. E isso aconteceu, você sabe, todos eles morreram martirizados, exceto João, que foi exilado. Mas, parece que eles não ouviram isso. Veja o versículo 44, apenas alguns versos atrás, Jesus diz a eles: “Coloquem estas palavras em vossos ouvidos, porque o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens.

Entregue” aí no texto original tem o significado de ser entregue como um criminoso para aqueles que o puniriam. Jesus estava lhes dizendo: ‘entendam, pessoal, eu vou sofrer e vocês também terão que se negar e assumir uma cruz. Vai ter sofrimento para vocês…’. Mas, eles não ouviram isso. Não registraram a informação.

Eles não ouviram a parte da cruz. Eles apenas olharam para a coroa. Eles viram a glória e não o sofrimento. E então, eles estão tendo essa discussão: ‘o reino virá, Ele vai estar estabelecendo Seu reino muito cedo, acho que eu sou a pessoa que deve ter o maior índice…’ e outro diz: ‘não, eu sou essa pessoa!’ E eles começaram a disputar uns com os outros.

De onde veio isso? Bem, vamos ver em um minuto. Mas, de qualquer maneira, quando eles entram na casa, Jesus lhes pergunta sobre o que eles estavam discutindo. E, quando juntamos o relato do Evangelho de Marcos, capítulo 9, sabemos que eles guardaram silêncio. Eles provavelmente se olharam como “ninguém diz uma palavra… nós não queremos admitir o que fizemos…”.

Eles estavam tão envergonhados de seu egoísmo pecaminoso, que simplesmente não disseram nada. Eles conheciam seus pecados. Suas consciências os condenaram. Eles sabiam que eram inconsistentes e desobedientes ao comando de seguir Jesus em abnegação e de carregar a cruz.

Eles eram ambiciosos. Eles eram competitivos. Eles eram egoístas. Eles esperavam que fossem classificados numa ordem de superioridade em que um seria maior que o outro. E então, eles estão tendo essa disputa. Esses homens  criam em Jesus, confessaram que Ele é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Até disseram, você sabe, “A quem iremos, só Tu tens as palavras da vida eterna?“. Eles fizeram seu compromisso com Cristo.

Mas, vemos o orgulho restante em seus corações e aqui vemos sua imaturidade. Quão escassa era a santificação nesse ponto! Mas, Jesus usa isso como uma ótima maneira para entendermos sobre o orgulho e a humildade. Vemos aqui seis características do orgulho que Jesus usa e Lucas nos fornece para nos ajudar a entender as lições de humildade que Jesus estava ensinando.

Deixe-me dar-lhe a primeira: O orgulho arruina a unidade. Versículo 46: “E surgiu uma discussão entre eles“. Agora, isso é bastante desagradável. Aqui está a primeira geração de pregadores, doze homens que receberam a comissão para pregar, que foram mandados a pregar, que foram capacitados para pregar, receberam a habilidade de fazer sinais e maravilhas para ressuscitar pessoas, dar cura a pessoas doentes e expulsar demônios.

Eles formam um grupo de homens que têm essa comissão única. Eles precisam estar juntos. Eles precisam ser unificados. Eles precisam se apoiar um no outro, porque estão indo contra um mundo hostil. Eles precisam ceder seus corações uns aos outros, fortalecer uns aos outros, construir-se, manter-se um ao outro. E em vez disso…

Este seria um estado de pré-igreja. Você sabe, a igreja não existia até Atos 2. Este era o grupo original de pregadores e eles nem conseguem se dar bem um com o outro… Há uma disputa. Quão mesquinho… Que ridículo! Ao invés de ver todos os sinais e maravilhas que Jesus fez e estar com Ele, sentar-se sob o Seu ensinamento, aprender e experimentar o que estavam aprendendo e experimentando, tudo o que podem fazer é lutar por questões insignificantes. Tão irônico… Jesus falou de seu próprio sofrimento pessoal e eles discutiram sobre sua própria glória pessoal. Eles são densos. Isso é muito destrutivo.

O orgulho arruína a unidade destruindo os relacionamentos.

Pessoas orgulhosas destroem os relacionamentos em qualquer lugar que estejam, porque relacionamentos são construídos sobre sacrifício, serviço e mútua cooperação. O orgulho não é apenas indiferente. Vai além disso. Não só é indiferente para com os outros, mas é extremamente voltado para si mesmo. É, em última análise, julgador e crítico e, portanto, divisivo. É muito destrutivo na igreja cristã, muito destrutivo.

Eu acho que o orgulho é o destruidor mais comum de igrejas, assim como é o destruidor mais comum de cada relacionamento. O apóstolo Paulo disse isso:

Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” (Fp. 2:3-4).

Seja como Cristo, esteja preocupado com os outros. Dê sua vida pelos outros. Ame o suficiente para se sacrificar pelos outros. “Ninguém tem maior amor do que este, de dar a vida em favor dos seus amigos“, disse Jesus. Considerem os outros melhores do que vocês mesmos. Isso é o que a humildade faz. O orgulho simplesmente destrói os relacionamentos. Ele os destrói. Em 1 Coríntios, capítulo 3, o apóstolo Paulo reconheceu esse problema na igreja dos Coríntios. Ele disse:

E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? (1-3).

Ele estava dizendo: ‘Vocês são muito carnais, são bebês. Sua espiritualidade está em um nível muito imaturo. Sua santificação é escassa e manifesta em sua divisão, quando dizem: ‘eu sou de Paulo, eu sou melhor do que você’, ou ‘eu sou de Apolo e sou melhor do que você..’. O orgulho rasga e divide relacionamentos. O orgulho luta, argumenta e exige seu próprio espaço e sua própria exaltação pessoal à sua maneira e própria vontade. A humildade procura se submeter aos interesses dos outros.

Em 2 Coríntios, capítulo 12, no final daquela carta, no versículo 20, Paulo disse que tinha medo de ir a Corinto, porque tinha receio de que quando chegasse lá encontrasse conflitos, ciúmes, angústias, disputas, calúnias, fofocas, arrogância e distúrbios. Oh, na igreja?! É melhor você acreditar… na igreja.  Em todo lugar, o orgulho estará rasgando e destruindo. Isso inclui a igreja.

E sempre que isso acontece, alguém diz: “Bem, você tem que entender quais são os problemas…”. Não, eu nem preciso entender os problemas. Há apenas uma questão aqui e é orgulho. Isso é apenas orgulho. Alguém não está recebendo o que gostaria. O orgulho arruína a unidade e, portanto, o Senhor sabe quão destrutivo é e quão crítico foi ensinar aos discípulos, e a nós, as lições para sermos humildes.

Em segundo lugar: o orgulho aumenta a relatividade.

Ele arruína a unidade e eleva a relatividade. Eleva o pensamento de modo relativo sobre as pessoas. O orgulho sempre tem uma ordem hierárquica de importância. De volta ao versículo 46, o argumento era sobre qual deles poderia ser o ‘meizon’, o maior. E você pode ouvir o argumento. De volta ao capítulo 9, no início, os doze estavam juntos. Eles tinham poder, autoridade sobre demônios e sobre doenças.

Eles saíram pregando o reino e curando e, então, aqui estão eles:

– Ei, pessoal, estávamos na vila aqui. Eu estava no lado sul da cidade e eu curei três pessoas cegas. Quantas pessoas cegas você curou?
– Bem, eu curei três surdos. Empatamos.
– Sim, mas eu ressuscitei um morto!

Você pode até mesmo ouvir a feiura deste argumento. E então, de repente, vêm Pedro, Tiago e João:

– Mas estávamos na montanha na  transfiguração…

Evidente a manifestação da imaturidade espiritual, que você não pode compreender. Não é incrível que Jesus tenha escolhido esses homens tão comuns? Não só eles eram comuns, mas também não estavam santificados, porque é assim que sempre ocorre. Você deve começar onde eles começaram. E é por isso que eles estavam lutando. E eles estavam acostumados a isso, porque era assim no mundo em que viviam. Eles conheciam a ordem religiosa que existia em Jerusalém, na qual existiam todos os tipos de classificação das pessoas.

Isso sempre acontece com a falsa religião. Você sabe, em alguns dos falsos sistemas religiosos, quanto mais importante você é, maior o seu chapéu em forma de cone será,  ou mais adereços você terá ao redor do pescoço, ou mais longo será o seu manto. Quero dizer, isso era apenas uma parte do ambiente religioso da época. E eles estavam acostumados a isso. Eles estavam acostumados com os rabinos aumentando as borlas e ampliando as caixas pequenas em suas cabeças, elevando-se acima de todos os outros. Isso fazia parte de sua cultura, assim como faz parte da nossa cultura.

Já vivi tempo suficiente para ver a transformação em nossa cultura. Onde isso vai acabar? Existe algum fim para as cerimônias de premiação? E as cerimônias de honra? É realmente nojento. Você diz: “Bem, é bom dar prêmios às pessoas”. Sim, você sabe, então eles podem dizer que ‘eu sou melhor do que você!’. Você coloca um adesivo tolo no vidro do seu carro sobre o seu filho ser o melhor aluno da escola. O que você está dizendo a todos?

Deve-se dar a honra a quem é devido a honra, respeito a quem é devido respeito. E quando alguém faz algo digno de respeito, então nós lhe damos esse respeito. Mas, esta interminável e relativa classificação de pessoas de forma insignificante para fazer com que alguns se sintam superiores aos outros é como derramar gasolina no fogo do orgulho. Porém, é assim que está o mundo. As pessoas estão orgulhosas e eles alimentam seu orgulho. Agora elevamos o orgulho ao status de virtude e, portanto, de todas as formas possíveis, queremos que as pessoas se sintam orgulhosas. Isso é absolutamente contraditório com o que o Senhor deseja que sintamos.

Então, o que você obtém quando há orgulho são relacionamentos destruídos. Se esta sociedade continuar a inflar o orgulho do jeito que está fazendo, será impossível imaginar qualquer casamento que possa durar, qualquer família que possa permanecer em conjunto, qualquer relação que possa sobreviver, porque o egoísmo simplesmente destrói tudo, arruinando a unidade e elevando a relatividade para que haja esta ordem hierárquica de classificação e as pessoas se sintam inferiores e superiores umas em relação às outras.

O orgulho revela a depravação.

Pessoas orgulhosas estão manifestando sua principal depravação. Veja o versículo 47:  “Jesus, sabendo o que eles estavam pensando em seu coração…“, e vamos parar por um minuto. Você sabe, você diz: “Você está tirando muitas conclusões disto…”. Estou, porque há muito aqui. Jesus sabia que o problema estava no coração. Ele sabia disso.

De volta ao capítulo 5, verso 22, você tem a visão semelhante de Jesus em relação aos fariseus aí. No capítulo 5, versículo 22, Ele disse: “Que arrazoais em vossos corações?“. Em João 2:25, Jesus disse que não precisava de ninguém para lhe dizer o que havia no coração do homem, porque Ele sabia o que estava lá. Isso demonstra Sua onisciência. E o problema é sempre um problema no coração.

Mostre-me uma pessoa que manifesta orgulho e te mostrarei um coração orgulhoso. É por isso que o Antigo Testamento diz que entre as sete coisas que Deus odeia está um coração orgulhoso. E, a propósito, a palavra “pensando”, no versículo 47, é a mesma palavra traduzida como “discussão” no versículo 46, exatamente a mesma palavra, que é “dialogismos”. Eles estavam discutindo e Jesus sabia que a discussão surgiu por causa do que estava em seus corações.

E o verso 47 fala de um coração. A palavra coração está no singular nesse versículo. Eu acho que isso é muito interessante. “Jesus, sabendo o que eles estavam pensando em seu coração“, ou seja, eles estavam pensando em seu coração como um coração coletivo. E é um coração coletivo, isto é, dizer que todos os seres humanos têm um coração depravado. Existe um tipo de coração universal nesse sentido.

O problema que Jesus reconheceu foi no coração. O coração é enganoso acima de todas as coisas e desesperadamente perverso. Romanos 2:5, diz: “…segundo a tua dureza e teu coração impenitente…“. O coração gosta de se exaltar. Na verdade, se você examinar Marcos 7, por um minuto, acho que seria edificante para nós lembrarmos alguns ensinamentos que Jesus dá nesse contexto.

No capítulo 7 de Marcos, vou apenas buscá-lo no versículo 14, onde Jesus começou a dizer: “Ouvi-me vós, todos, e compreendei…“, isto é: ‘aqui é algo que você precisa saber’. “Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar…“. O que há de errado conosco não veio do exterior. Não é nosso ambiente. Não é o que nos rodeia, “…mas o que sai dele isso é que contamina o homem.” O problema está dentro de nós. É nossa queda.

E então, no versículo 18, Ele disse ainda: “Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas?“. E aqui ele está usando uma analogia: você come algo, ocorrem os processos corporais e depois o resíduo é eliminado. Isso não é o que o contamina, pois entra e sai. Não é o que está fora que contamina o homem. É o que vem do interior. E é exatamente isso Ele diz no versículo 20 e seguintes:

O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.

Então, onde quer que você veja o orgulho, você está simplesmente vendo a manifestação, a revelação da depravação. Assim, o que estamos dizendo aqui? Bem, o orgulho destrói os relacionamentos, destrói a unidade, criando conflitos. Ele cria ordens hierárquicas de importância. Cria níveis de classificação. Ele cria hierarquias. E então, também polui, contamina, porque simplesmente deixa a depravação do coração fluir. O orgulho é algo feio. É destrutivo e prejudicial.

Conclusão (as outras três características do orgulho serão tratadas no próximo sermão)

Bem, para esses três primeiros pontos, nosso Senhor responde com uma lição. E é uma lição sobre a humildade. Volte para o versículo 47: “Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si“. Agora é hora de uma lição e Ele vai dar uma lição usando uma criança como ilustração.

A criança, diz o texto, ficou junto a Ele, então a criança era grande o suficiente para ficar de pé. Marcos 9:36 diz que Ele escolheu a criança e a colocou nos braços, o que demonstra que também ela era pequena o suficiente para ser segurada. Então, era uma criança muito pequena.

E, como eu disse, poderia ser um membro da família de Pedro se, de fato, aquela fosse a casa de Pedro, como é possível que seja. Porque Jesus faz aquilo? Por que Ele escolhe uma criança pequena? Porque uma criança pequena era a pessoa mais baixa da escala social. Ainda hoje as crianças são. Não quero dizer com isso que não as amamos de maneira especial, nós as amamos sim. Mas, analisando a sua contribuição como membros de uma sociedade, elas fazem o mínimo.

No que diz respeito às conquistas, realizações, elas não têm nenhuma. Elas não conseguiram nada. É bom que Deus as tenha feito tão fofas, pois, caso contrário, poderíamos não prestar atenção nelas. As crianças pequenas tomam, recebem, mas não dão nada em troca. Os rabinos costumavam dizer que eles não ensinariam a Torá a uma criança com menos de 12 anos, porque era um desperdício de seu tempo.

Os rabinos judeus na época de Jesus desprezavam as crianças, não se incomodavam com elas, consideravam as crianças pequenas as mais fracas, as mais inoperantes, as mais vulneráveis, as menos valorizadas, as que não contribuíam praticamente com nada e não desperdiçariam suas vidas e tempo com elas, já que a maioria delas não sobreviveria até a idade adulta, porque a taxa de mortalidade infantil era muito elevada.

É nessa estrutura social que Jesus fez o que Ele fez. Então, Ele pega uma criança pequena, porque essa criança não possui praticamente nenhuma conquista. Ele coloca aquela criança pequena diante dos discípulos e a acolhe em Seus braços, porque essa pequena criança se tornará uma ilustração para Sua lição sobre humildade.

Agora, como eu disse, Marcos 9 é uma passagem paralela a  Mateus 18. E quero que você abra Mateus 18 por um momento, porque eu quero preencher as lacunas de Marcos com o que Mateus registra das palavras de Jesus nesta mesma ocasião. Os discípulos finalmente soltaram a pergunta: “Quem é o maior no reino dos céus?“. No começo, eles ficaram em silêncio, diz Marcos. Jesus sabia que eles estavam discutindo sobre isso. Eles perceberam que Ele sabia e, assim, eles queriam que Ele respondesse a sua pergunta.

Eles estavam discutindo sobre isso e então, ‘Ei, vamos resolver, quem é, Senhor? Quem é o maior no reino dos céus? Diga Seu veredicto!’. Suponho que eles presumiram que Jesus poderia dizer: Pedro. Mas, sabendo que Pedro ‘pisou na bola’ algumas vezes, Ele poderia ter respondido que era João e acredito que Filipe e André, dotados de tanta discrição, poderiam ter pensado: Bem, talvez seja eu. Quem sabe o que estava acontecendo em suas mentes?

E Jesus fez algo incrível, tomando a criança e a colocando no meio deles. Então, voltando ao registo de Lucas,  Ele pega a criança, mas a primeira coisa que Ele diz é registrada em Mateus 18:3: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.“, isto é, a menos que vocês mudem, homens, e se tornem como crianças, vocês não vão estar no reino.

Você deve perceber que você não é nada. Você não tem classificação diante de Deus. Você não tem nenhuma conquista que classificaria você melhor do que qualquer outra pessoa. Você não possui nada que seja grande. Você é o mais baixo do baixo, é como uma criança que não alcançou nada por si mesma. Seu valor é mínimo. É o que Ele está dizendo para os discípulos.

Você tem a idéia errada aqui, pessoal! Esse orgulho que destrói a unidade, que rompe o relacionamento, que cria uma ordem classificatória, esse orgulho que polui, porque manifesta a depravação do coração, isso deve ser tratado. E a maneira como você lida com isso começa aqui: você não é nada e você precisa saber disso. Você não é absolutamente nada. Você não tem nada de conquista para se gloriar. E, olhando para os discípulos, Ele poderia estar dizendo:

Não me importo se você tem vinte e poucos anos, não me importo se você fez isso, aquilo ou outra coisa. Não me importo quantas obras poderosas você fez. Eu não me importo com as curas que você fez e que só foram possíveis através do poder delegado que Eu dei. Em você mesmo, você não é nada, nada.

E eles precisavam entender isso. Então, no versículo 4, Jesus diz: “Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus.” Escute isso, você está pronto para o que vou lhes dizer? Você vai gostar: grandeza no reino não é relativa. É absoluta. Todo mundo no reino é ‘o maior’, todos. De fato, em outra ocasião, Jesus disse que João Batista era o maior homem que viveu até o seu tempo, mas, no entanto, o menor no reino é maior que João. A grandeza não é relativa no reino de Deus, não existe uma ordem hierárquica no reino de Deus. A grandeza é absoluta.

Você é bom porque sua grandeza reside no fato de que Deus vê você coberto com a justiça de Jesus Cristo e todos os crentes cobertos com a mesma justiça são, portanto, iguais perante Deus. Portanto, não há nenhuma ordem hierárquica ou classificatória aqui. É por isso que eu não uso uma roupa especial e nem um chapéu de cone e uma túnica nem sou chamado de santo, reverendo, Dr. Alguém, ou mesmo Pai [ref. a padre], ou me sento em um assento especial em algum lugar. Não há tal ordem no Reino de Deus.

E então, Jesus está dizendo a eles: “vocês precisam se converter – e aqui não está se falando de conversão no sentido de salvação – vocês têm que se virar e seguir em outra direção, pois estão indo na direção errada“. Volte para Lucas 18, por um minuto, porque ensina o mesmo e quero fazer um comentário ou dois sobre isso. Em Lucas 18:15, eles estavam levando seus bebês até Jesus. Olhe para o versículo 14, Jesus havia lhes dito: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, o que se humilha será exaltado“. Todas as pessoas que se exaltam acabarão sendo humilhadas.

Ele está falando sobre juízo. Todas aquelas pessoas que estão em orgulho e auto-exaltação – e Ele está falando sobre os líderes religiosos de Israel, auto-justos – todos serão humilhados por Deus em juízo. Mas, todos aqueles que se humilham acabarão sendo exaltados. Ouça novamente, eu digo: não há classificações relativas no reino de Deus, todos nós seremos igualmente exaltados, todos nós receberemos o mesmo salário, todos nós seremos excelentes, ok? Porque tudo o que possuímos foi imputado a nós, tudo foi concedido a nós e, então, será dado a nós em nossa forma glorificada, para que haja igualdade nesse sentido.

Então, em resposta a isso, as pessoas trouxeram bebês até Jesus, para que Ele pudesse tocá-los e os discípulos os viram e começaram a repreendê-los: ‘Retirem os bebês daqui! Retirem os bebês daqui!’. Veja, eles seguiram o padrão rabínico, pois isso era o que era feito em seu ambiente religioso. ‘Tirem esses bebês, não temos tempo para lidar com bebês! Eles não têm nenhum nível na escala social, eles não têm nenhuma importância. Jesus não pode estar gastando Seu tempo com esses bebês!’

Jesus lhes disse: “Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus.” (v. 16). Em outras palavras:

Tragam esses bebês aqui, porque eles fazem uma boa ilustração do que vocês precisam ser. Eles me dão a oportunidade de lembrá-los de que é só quando vocês se vêem sem valor, sem qualquer conquista é que vocês entrarão no reino.

Mas, creio que há algo mais aqui. Eu não acho que Jesus estava apenas usando esses bebês como um objeto de ilustração.  Na verdade, esses bebês são alvos dos cuidados especiais de Deus e têm um lugar em Seu reino. E foi isso que eu tentei apontar neste livro que será lançado em alguns meses chamado ‘Salvo nos Braços de Deus: as Palavras do Céu sobre a Morte de uma Criança’. Estou convencido de que Jesus estava afirmando aqui que Deus tem um cuidado especial sobre os pequeninos, quando eles são frágeis e incapazes de crer ou rejeitar ou entender a verdade.

Nosso Senhor aborreceu a sabedoria convencional dos apóstolos, que era influenciada por sua cultura, dizendo: ‘Eu me importo com as crianças. Você pode não se preocupar com elas. Você pode não querer se incomodar com as crianças, mas Eu me importo com as crianças’. Na verdade, em Marcos 10:16, é dito: “E, tomando-os nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou.”

Então, Jesus está dizendo a eles: ‘Eu me importo com essas pequenas crianças. Vocês podem não se importar com elas. Mas, Eu me importo com elas’. Mas também, o ponto principal do ensino de Cristo aqui é que:

Eu me importo que você entenda que é somente quando você se torna como essas pequenas crianças, e não contando com suas próprias realizações, é que você poderá entrar no Meu reino.

A santificação, então, é manter a mentalidade de que eu sou diante de Deus um filho sem realizações, sem credenciais e sem realização e é por misericórdia que Ele me fez grande. Certo? Essa é a lição. Ele usou o mais fraco de todos para ensinar o que realmente é ser o maior de todos. A grandeza no reino não é relativa, é absoluta e pertence apenas aos humildes, que são, como o hino antigo diz: “Nada na minha mão eu trago, simplesmente à Tua cruz eu me apego”.

Próxima vez: mais três características do orgulho e mais do ensino de Jesus. Vamos orar.

Senhor Deus, conhecemos a realidade do orgulho remanescente em nossas vidas. Este não é um mistério para nós. Isto é a realidade na qual lutamos. Pedimos que Tu faças o que precisas fazer para nos purificar, fazendo a poda da Palavra e através de Tuas providências em nossas vidas para trazer as provações necessárias para evitar que nos exaltemos, a fim de que possamos entrar no reino humildemente, vivamos humildemente e andemos humildemente diante de nosso Deus, para que possamos ser mais úteis para Ti, mais abençoados e para trazer  honra ao nosso Cristo, em cujo nome oramos. Amém.


Esta é uma série de 2 sermões ,  conforme links abaixo.

01. Marca da real grandeza – Parte 1
02. Marca da real grandeza – Parte 2


Este texto é uma síntese do sermão “The Mark of True Greatness, Part 1″, de John MacArthur em 30/03/1983.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/42-130/the-mark-of-true-greatness-part-1

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

 

 

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1 Response

  1. Amanda disse:

    Deus abençoe grandemente esse ser iluminado pelo Espírito Santo para escrever e esclarecer em nossos corações a real realidade de entronizar em nossos corações tudo aquilo que coloca em cheque a adoração ao verdadeiro Deus.

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