A Visão Bíblica da História

Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão (II Pedro 3:10).

O problema da história está se tornando crescentemente o primeiro problema dos filósofos e de todos que se preocupam, ainda que indiretamente, com a questão geral da vida e do seu significado. Em geral é o grande tema do século 20. Temos experimentado choques tão grandes, acontecimentos tão inesperados, que as ideias concebidas anteriormente se tornaram um tanto ridículas.

Nota do site: Os pensadores, a partir do século XVII, entendiam que a racionalidade humana resultaria em paz e prosperidade sustentável. Jean Baptist Say (1767-1832) dizia que os gastos militares acabariam no futuro, pois o homem seria tão racional, que iria concluir que as guerras não valeriam a pena, resolvendo seus conflitos pacificamente.

As ideias de estabilidade mundial foram abaladas. O século XX foi um século de guerras sangrentas. E, então, se multiplicaram as perguntas sobre se há um objetivo ou um propósito que dirige a história.
As incertezas produzem perguntas, como: Haveria um propósito na história? Haveria nela algum objetivo? A que ela vai levar? O que está adiante de nós?

Algumas explicações humanas sobre a história

1. Até o século XIX, prevalecia a ideia de um progresso inevitável e que o homem está ficando cada vez melhor. Esta proposta foi concebida inicialmente pelo filósofo alemão Hegel. Para ele as contradições se fundirão numa só realidade (dialética), proporcionando sempre um grandioso processo de desenvolvimento, até um desfecho perfeito.

Nota do site: Para Hegel, a dialética começa com uma posição posta em discussão (tese), provocando então a oposição à esta tese, ou seja, uma afirmação contraditória (antítese). Dessa oposição, de tese e antítese, nasce a síntese. Esta síntese voltará a sofrer oposição e o ciclo da dialética se perpetua até que se chegue à verdade.

2. Karl Marx usou o pensamento de Hegel, afirmando que essas contradições estão na vida material, na luta de classes sociais, que produzirão uma realidade final de bem estar para todos, que seria produzido pelo comunismo.
Os adeptos desse pensamento creem que ele pode explicar todas as guerras do passado, todo o avanço da civilização e todos os avanços científicos. Cada passo gerado por essas contradições leva a um estado superior, até à perfeição inevitável, que seria o comunismo.

3. Há um conceito antigo, sustentado pelos filósofos gregos, que considera a história uma questão de ciclos. A humanidade alcança certo nível e então começa a descer, aí vem um novo ciclo e assim por diante. Isto explicaria a ascensão e queda de grandes civilizações.
Isto seria uma questão de destino, do acaso. Há forças cegas operando nesta vida e que estão por trás de tudo. Ninguém as controla e entende, e o mundo gira dessa forma e sempre girará em círculos.

4. Há o moderno conceito científico que nos diz que a história terá um fim. Fala da segunda lei da termodinâmica. Essa lei diz que o mundo é como um relógio ao qual foi dado corda, mas que aos poucos vai perdendo o impulso e se enfraquecendo, e chegará o tempo em que perderá toda a corda, e a vida neste planeta se acabará, ou seja, a vida na terra ficará insustentável [Muitos cientistas falam abertamente que a vida na terra se tornará inviável].

5. Há ainda outro conceito, segundo o qual, a história é uma sequência de acontecimentos sem sentido, sem leis e sem forma, restando aos historiadores profissionais observarem os fatos e tentar fornecer alguma explicação.

A fragilidade dos pensamentos humanos

A dinâmica gerada pelas contradições vistas por Hegel, e adaptadas por Marx, estão melhorando o homem? Olhando, à luz da Bíblia, para esses pensamentos diversos, será que podemos imaginar que o mundo está progredindo e o homem está se tornando cada vez melhor? O homem atual é melhor que o homem de outros tempos?

Pensar assim significa que eu e você não temos qualquer importância como seres humanos. Não passamos de dentes da roda que tem que girar até que a perfeição seja finalmente produzida. Aí então o homem terá uma vida maravilhosa.

Quanto à ideia de ciclos, há algo na história que vai além deste girar em círculos, pois não seria verdade que o mundo todo, e como um todo, está se movendo para adiante? Qualquer coisa que acontece hoje afeta o mundo inteiro.

E quanto à ideia do historiador profissional, é típica do fundamental ceticismo e desespero do homem que assume uma visão materialista da vida e que não aceita o ensino bíblico a respeito de Deus, do homem e do universo. Se eles pudessem eliminar o Evangelho de Jesus Cristo, talvez pudessem encontrar alguma consistência em seus pensamentos.

Deus controla a história

A história, diz a Bíblia, primeiramente e antes de tudo, está definitivamente sob o controle de Deus. Não é cega ou destituída de inteligência. Não é o desenvolvimento de uma força cega ou de poderes invisíveis sem pé e nem cabeça. Se olharmos a história de Israel, a história de Jesus e da igreja, vemos que há outro plano, outra ordem de acontecimentos.

Deus iniciou o processo, inventou o tempo, introduziu o tempo e inseriu o tempo no esquema das coisas. Deus irrompeu no tempo e tem em Sua mão o relógio do tempo. Essa é a primeira declaração.

A Bíblia não discute conosco a questão da história; ela faz a sua exposição e somos deixados na posição de aceitar ou não seu ensino e a revelação que dela vem, ou então, somos deixados com o ceticismo do historiador moderno.
O mundo, suas teorias e seus filósofos estão completamente frustrados e desnorteados. Mas contrariamente a isso tudo, há grande revelação que se declara sobrenatural e essencialmente miraculosa.

A chave para o entendimento da história é o fato do pecado

Depois que Deus criou o homem, tendo-o feito perfeito e o colocado num mundo perfeito, este se rebelou e pecou contra Deus. Assim, entrou na vida outro elemento, discordante e oposto à mente, à vontade e ao propósito de Deus. Todas as contradições, dificuldades e problemas surgiram desse fato, e somente dele. Quando o homem pecou, não só afetou a sua própria história, mas também a de toda a criação. Deus amaldiçoou a terra por causa do pecado (Gênesis 3:17).

Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora (Romanos 8:20,22).

A história humana é diferente do que poderia ter sido, mas também o próprio mundo no qual vivemos é diferente. Não podemos conceber o que este mundo era quando Deus o criou. A perfeição era algo que nem sequer podemos imaginar. O pecado mudou o mundo, nada neste mundo é mais o que era. O pecado afetou completamente toda a criação.

É por isto que há esses ciclos aparentes. O homem reteve alguns poderes, apesar de haver pecado contra Deus, e tem demonstrado isso em suas realizações ao longo da história.

Os homens se organizaram em torno de Babel (Gênesis 11) para construir uma torre, mas Deus desfez seus intentos e confundiu as línguas. Deus mostrou que é Senhor sobre a terra, permitindo que o homem vá avante até certo ponto, quando Ele realiza uma intervenção soberana.

É por isto que a história é contraditória, é por isso que parecem ocorrer ciclos recorrentes. Há poucos anos, o homem parecia estar construindo uma nova torre de babel. Confiante nas evoluções científicas, acreditando soberbamente ter encontrado, por seus próprios esforços, os caminhos da harmonia e do progresso infinito. 

Mas aí irrompem duas brutais guerras mundiais, com suas terríveis consequências. Tudo que se imaginava ter sido construído veio abaixo, destronando o orgulho humano.

Nota do site: Um dos pensadores mais influentes da Idade Moderna foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Ele dizia: “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Pensamentos antibíblicos como este (Romanos 3:10-17; 5:12) alimentaram as transformações na sociedade, mas não impediram o progresso do mal.

A explicação disso é o pecado. Se não aceitarmos a doutrina bíblica do pecado, não podemos entender a história e o mundo moderno no qual vivemos. Por causa do pecado não pode haver progresso ininterrupto. Esta realidade põe abaixo o orgulho do homem e todos seus pensamentos. Enquanto o homem estiver em inimizade contra Deus, nenhuma estabilidade se sustentará.

A Bíblia diz que há um plano progressivo e que está em desenvolvimento

Há um nítido propósito na mente de Deus. Há uma história da salvação. É o tema da Bíblia. A Bíblia não é a história do mundo, é a história da salvação, da ação de Deus no mundo.

Deus fez uma promessa, chamou Abraão e fez dele uma nação. Através dessa nação, Deus deu testemunho sobre Si mesmo a todas as outras nações. E prosseguindo, tudo foi levado a algo; e então, na plenitude do tempo, Cristo veio. Ele é o centro da história.

E por determinado conselho e pré-conhecimento de Deus, desde a eternidade, Cristo foi morto na cruz para resgatar aqueles a quem o Pai chamou desde os tempos eternos. Este plano divino vai prosseguindo em seu curso até a consumação final.

Haverá uma última e final consumação

É isso que Pedro nos relembra neste versículo:

Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão (II Pedro 3:10).

Neste presente momento, Deus está chamando Seu povo. Ele trata com indivíduos, resgata-os, liberta-os do mundo e os introduz no novo reino. Ele os acrescenta nesta dimensão invisível aos olhos do mundo e vai conduzindo tudo até o fim; e o fim é a volta de Jesus, quando Ele virá para glorificar Sua igreja e julgar os ímpios.

Neste momento, o pecado, e tudo que pertence a este mundo serão destruídos. A terra, o mundo e a criação como conhecemos hoje, serão destruídos pelo fogo.

O mundo moderno considera ridículo tudo isto. Mas se alguém crê no ensino bíblico da salvação, não pode por em dúvida esta realidade futura. Este é um assunto que faz parte da história da salvação. A esperança que temos é esta:

Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça (II Pedro 3:13).

Um novo céu e uma nova terra serão produzidos para os redimidos por Cristo, que receberão um corpo glorificado e desfrutarão da gloriosa presença do Senhor eternamente. Haverá uma terra glorificada e um céu glorificado, e os redimidos viverão nessa terra e debaixo desse céu. Esta é a visão bíblica definitiva do fim da história. E os cristãos são aqueles que esperam com gozo e alegria por este dia.

O que penso das coisas como se veem no presente? Como me mantenho no curso desta vida? O que é que me capacita a viver?

Estaria eu vivendo na esperança de que alguma coisa maravilhosa vai acontecer? Que todos os problemas serão banidos e que tudo estará bem dentro de alguns anos? Estaria eu ainda apegado a algo que vai acontecer nesta vida e neste mundo para minha felicidade?

Essa seria uma mente mundana, uma mente carnal. Essa não é uma visão bíblica. A Palavra de Deus nos fala de uma bendita esperança que move nossos corações e mentes, um profundo desejo de ver o pecado finalmente destruído.
As predições bíblicas sempre apresentam a volta de Cristo em um contexto em que o mundo vai de mal a pior, em um quadro de rara fé na terra.

Deus não nos prometeu um tempo maravilhoso nesta terra, resultante do esforço humano. As predições falam de guerras, rumores de guerras, aflições etc. Se nós somos verdadeiros cristãos, devemos estar esperando este tipo de cenário, sem que isto nos cause depressão.

A esperança do cristão é o novo céu e a nova terra que nos aguardam com Deus em Cristo. Sou realista quanto à realidade imediata. Só o tolo pode ser persuadido de que o esforço do homem produzirá esperança nesta terra, como assim pensam os historiadores profissionais.

Há somente uma consolação, uma esperança. Esta foi a doutrina pregada pelos cristãos do primeiro século. Esta doutrina os levou a morrerem alegremente na boca dos leões, por não negarem o nome do Senhor. Esta é a fé que tem sustentado o povo de Deus através dos séculos.

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo (I Pedro 1:3-5).

Sintetizado de um sermão pregado em 1947 por Martyn Lloyd Jones (1889-1981). 

Leia também do mesmo autor: Deus e o tempo

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