A Disciplina de Deus

As pessoas que fazem a diferença são aquelas disciplinadas, que são capazes de ficar dentro dos parâmetros necessários para se obter o sucesso. Espiritualmente falando, isto também é uma verdade.

Deus está envolvido em uma operação na vida de Seus filhos com o objetivo de que eles sejam bem sucedidos, ou seja, que eles vivam dentro de Sua vontade.

Deus está ocupado disciplinando-os ao longo do caminho, compelindo-os a permanecerem dentro de Seus parâmetros, forçando-os a exercitar seus músculos espirituais e resistência, com o objetivo de que eles sejam tudo o que Ele quer que eles sejam. Se há alguma resistência em nós, Ele continuará insistindo.

Isso é precisamente o que diz o capítulo 12 de Hebreus. Os versículos 5-11 falam sobre a disciplina de Deus, o que Deus faz para obter os resultados desejados na vida de um cristão.

O escritor usa a metáfora de um pai e um filho, ou seja, um pai disciplina uma criança a fim de trazer um certo tipo de resultado, e isso é exatamente o que Deus faz conosco.

Pedro diz: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.” (I Pedro 5:10).

Em outras palavras, Deus permite o sofrimento como uma forma de nos fortalecer e amadurecer. Isso é parte do plano de Deus. Essa é a questão aqui.

Tiago 1:3-4 diz que Deus permite certas coisas em nossas vidas para nos tornar maduros e perfeitos, para alcançarmos Seu objetivo em nós.

“Sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”.

Agora, vamos para nosso texto de hoje, Hebreus 12:5-11, que diz:

Hebreus 12
5
E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desanimes quando por ele fores repreendido;

6 Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho.
7 Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?
8 Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.
9 Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?
10 Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.
11 E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.

Sei que a maioria de vocês está familiarizada com este texto, e acho que seu coração será enriquecido com o que vamos aprender hoje à luz dele.

A chave para esta passagem é a palavra “disciplina” ou “correção”, nos versos 5,7,8,10 e 11. Todas as traduções delas vêm de “paideia”, palavra grega usada para a formação e educação dos filhos.

É uma palavra muito ampla e fala não só do castigo físico, como um meio de disciplinar seu filho, mas também de qualquer ato que um adulto praticaria para cultivar a alma de uma criança na direção correta da maturidade e piedade.

Qualquer tipo de esforço para corrigir o erro ou para conter a paixão de um jovem estaria envolvido nesta palavra.

Por outro lado, esta palavra fala de qualquer coisa que você faria para despertar o jovem em direção à virtude e a uma vida sólida.

Por isso, “paideia” não só tem a ideia de correção, mas tem a ideia de criar um padrão, ou seja, tem a ver com a totalidade da formação de uma criança.


Na formação de um filho, ora vamos usar recursos para afastá-lo do erro, ora vamos usar recursos para encorajá-lo no que está correto.

Há três razões pelas quais Deus disciplina, castiga e limita o crente: retribuição, prevenção e educação.

Há uma diferença muito importante entre a punição divina e disciplina divina. Há um sentido em que a disciplina incorpora punições, mas do ponto de vista bíblico não é isto.

Deus não pune seus filhos, no sentido forte da palavra, no sentido de condenação. Não há nenhum sentido em que Deus literalmente nos puna por nossos pecados.

E a razão é porque alguém já foi punido pelos nossos pecados, e esta pessoa foi o nosso Senhor Jesus Cristo. Não há punição restante a ser paga por aqueles que experimentaram a graça salvadora. “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1). Veja Isaías 53:5-6, que diz:

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos.

Nossa dívida diante de Deus foi cancelada pela cruz de Cristo. Colossenses 2:14 diz que Deus “havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.

A expiação foi completa. Não há mais castigo pelo pecado. A obra de Jesus foi perfeita e completa. Ele disse na cruz: “Está consumado!” (João 19:30).

Mas se Deus não nos pune como uma compensação pelos pecados, há o fato de que Deus está empenhado em nos disciplinar, e, às vezes traz, com amor, Sua vara de correção.

Mas retenha isto em sua mente: é um corretivo e não uma punição por um erro seu. Não fique confuso sobre isto. É muito importante esta distinção.

Deixe-me ajudá-lo a compreender isto melhor. Castigando, Deus age como juiz, mas, disciplinando, Deus age como pai.

No castigo, o objeto é o inimigo. Na disciplina, o objeto são Seus filhos. No castigo, a condenação é o objetivo. Na disciplina, a justiça é a meta.

Portanto, na disciplina, não há um Deus irado julgando Seus inimigos com a condenação, mas um Pai amoroso disciplinando Seus filhos para a justiça.


E assim, quando Deus nos disciplina, sofremos por nossos erros, mas não estamos pagando alguma culpa, estamos aprendendo a fazer o que é justo.

Agora, vamos ver com mais detalhes as três razões, pelas quais, Deus castiga e disciplina seus filhos.

Número um: retribuição
.

Agora, por favor, tenha em mente o que eu disse. Deus está reagindo ao nosso pecado e não nos punindo pelo pecado.

Quando Deus vê que estamos pecando, Ele trará a correção em nossas vidas, não para nos punir pelo pecado, mas para nos ensinar a não fazê-lo novamente. Uma punição seria como uma expiação, ou seja, um atestado de insuficiência da obra da cruz. E não é isto.

Em I Coríntios 11 há uma ilustração disso, dentre muitas na Escritura. Há uma retribuição para com aqueles que vieram sem santidade e reverência à mesa do Senhor.

No verso 29 diz: “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”.

A palavra usada aqui não é o grego “Katakrino”, que envolve “condenação”, mas trata-se uma punição corretiva. É um castigo como disciplina: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.” (v.30).

Em outras palavras, alguns haviam morrido. Temos a indicação de que algumas pessoas estavam doentes por causa do pecado. Por seus pecados, Deus literalmente os afligiu com doenças. Essa é a retribuição.

Isto não foi para expiação de algum pecado
, mas para que eles fossem corrigidos a andar conforme a vontade de Deus. Para isto Ele leva até mesmo alguns para a morte, a fim de retirá-los antes que possam cair novamente.

Eu penso sobre Davi e seu pecado com Bate-Seba, não só o pecado da imoralidade e luxúria, mas o pecado de assassinato.

Deus trouxe correção retributiva sobre Davi. Não que Davi pudesse expiar o seu pecado ao passar por toda a sua agonia. Ele aprendeu que não poderia ser abençoado por Deus em meio a uma vida pecaminosa.


Davi pôde aprender uma dura lição, e não ser tão tolo a ponto de cair no mesmo pecado.

E assim, quando um verdadeiro crente está sob o castigo de Deus, ele não diz: “Deus está me punindo por meu pecado. Ele está me fazendo pagar pelo meu pecado!” Não. Não é isto.

Ele deveria dizer: “Deus está me corrigindo em Seu amor, para que eu não volte a cair neste pecado e para que eu possa ser conforme a imagem de Cristo”.

Deus disse a Davi: “Agora, pois, a espada jamais se apartará da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher” (II Samuel 12:10).

Pelo resto da vida, Davi conheceu a dor que Deus trouxe como consequência do seu pecado, embora ele tivesse sido chamado de “um homem segundo o coração de Deus” (I Samuel 13:14).


No Salmo 89, há uma declaração de Deus a Davi, os versos 20-21 e 28-34 dizem:

Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi. A minha mão será firme com ele, o meu braço o fortalecerá. Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e, firme com ele, a minha aliança. Farei durar para sempre a sua descendência; e, o seu trono, como os dias do céu. Se os seus filhos desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos, se violarem os meus preceitos e não guardarem os meus mandamentos, então, punirei com vara as suas transgressões e com açoites, a sua iniquidade. Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade. Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram.

Deus não altera Sua aliança com seus verdadeiros filhos. Ele os disciplinará até que eles aprendam o que é aceitável.

Há uma disciplina extrema em I Coríntios 5:5, quando Paulo diz: “Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus”.

Isto equivale a expulsar alguém da comunhão da igreja. Ela sofrerá muito a disciplina e castigo da parte do Senhor e deixará de ser uma má influência para a igreja.

Chegando ao fundo do poço, essa pessoa terá mais oportunidade de ser salva do que sendo aceita no convívio da igreja.

E, geralmente, funciona. Funciona na família. Se você corrige seu filho, com a vara, sobre algo que ele não deve fazer, ele vai perder o desejo de fazer aquilo. A disciplina é necessária.

Em segundo lugar, a disciplina também é prevenção.

Há um certo tipo de disciplina que é prevenção.

Às vezes você pode dizer para si mesmo: “As coisas estão indo tão ruins para mim, mas não consigo descobrir o que eu fiz de errado. Tenho checado minha vida, e realmente não tenho caído em nenhum pecado grave. Tenho confessado meus pecados e tentando andar no espírito e eu continuo tendo tantos problemas”

Abra sua Bíblia em II Coríntios 12, e eu vou dar-lhe uma ilustração sobre isto. Paulo tinha um problema, um espinho na carne. Poderia ter sido uma doença ocular ou outra coisa que o deixou com um aspecto horrível, doloroso e desconfortável.

E, de acordo com o que ele escreve em algumas de suas epístolas, era algo que incomodava às pessoas que tinham que olhar para aquilo que ele chamou de “espinho na carne”.

Seja lá o que fosse esse “espinho na carne”, era um grande peso em seu coração. E ele diz nos versículos 7-8: “Foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim”.

Era como se dissesse: “Senhor, já tenho tantos problemas com as perseguições e sofrimentos, livra-me deste espinho, que tanto me incomoda e acompanha por todos os lugares!”

Mas, Paulo descobriu o motivo daquele espinho: “Para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações… a fim de que não me exalte” (v.7).

Ele tinha muitas revelações de Deus, visões incríveis do próprio Cristo, três vezes ele tinha visto Cristo, foi arrebatado ao terceiro céu e viu coisas que não poderiam ser proferidas.

Deus lhe deu o espinho para mantê-lo humilde. Era um preventivo. Não era porque ele estava orgulhoso, mas para que ele não se tornasse um orgulhoso. Você entende isto?

Penso que Deus traz algumas coisas assim em nossas vidas, em algum momento, para nos humilhar. Eu sei isto a partir de minha própria experiência. Às vezes eu pergunto ao Senhor o porquê de certas coisas.

Por vezes me sobrevêm coisas repentinas que produzem grandes dificuldades. E minha reação é dizer ao Senhor: “Bem, Senhor, eu não sabia que isto aconteceria, mas o Senhor já sabia. Louvado seja Teu nome, quero permanecer na Tua dependência”.

Paulo entendeu tudo quando o Senhor lhe disse: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Esta era a mensagem que Deus queria lhe ensinar.

Deus estava disciplinando Paulo de forma preventiva. E alguns dos problemas que temos, amados, são para nos manter de joelhos. Você entende isso? Graças a Deus por nossas provações! “Em tudo dai graças”.

E Paulo entendeu bem isto: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte”.

Há um terceiro tipo de disciplina, que é a educativa.

Em outras palavras, para nos ensinar algo sobre as experiências da vida, dotando-nos de sensibilidade para com aqueles que estão passando por problemas.

Agradeço a Deus pelos problemas que já enfrentei e que me educaram, de modo que, quando alguém tem esses problemas, eu sou um pouco mais simpático.


Penso que Deus traz certas coisas, ao longo de nossas vidas, apenas para este propósito.

Veja o caso de . Satanás disse a Deus que Jó era um homem fiel apenas porque tudo corria bem com a vida dele (Jó 1:8-11). E Deus permitiu que coisas terríveis acontecessem a Jó (Jó 1:12).

Ele provou todo o tipo de sofrimento que poderia cair sobre um homem. Ele perdeu sua família, seus bens e sua saúde. Mas, no final, ele aprendeu lições maravilhosas.


No final do livro de Jó, capítulo 42, versos 1 a 6, temos isto:

Então, respondeu Jó ao Senhor: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.

Você entendeu? Ele diz que costumava ouvir falar sobre Deus, Seu poder e maravilhas, mas agora ele contemplava isto com seus próprios olhos.

E aquele ponto de vista da majestade de Deus foi tão forte, que trouxe a Jó um terrível senso de sua própria indignidade.

Amado, deixe-me dizer-lhe uma coisa: as duas maiores lições que você pode aprender é sobre quem Deus é e quem você é. Tendo isto, o maravilhoso milagre da salvação significará algo muito tremendo para você.

E então, em Jó 42:10, é dito: “Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra”.

Mas, você sabe o que mais? Ele orou por seus amigos (v.8-9). Ele aprendeu sobre Deus. Ele aprendeu sobre si mesmo, e ele aprendeu a orar pelas necessidades dos seus amigos. Você sabe como ele aprendeu tudo isso? Porque Deus lhe deu problemas, correção, disciplina.

Amado, Deus pode discipliná-lo por causa do pecado ou para evitar o pecado ou apenas para que você possa aprender mais sobre Ele e sobre a sua própria pequenez, e como ministrar às necessidades dos outros.

Agora, enquanto nós pensamos sobre essas três facetas da disciplina de Deus , vamos rapidamente olhar para o texto de Hebreus 12: 5-11. Eu só quero compartilhar com vocês algumas reflexões importantes.

Não sabemos quem escreveu a Carta aos Hebreus, mas sabemos que o autor a escreveu para algumas pessoas que foram submetidas a sérias perseguições e a duros sofrimentos.

Veja o que ele diz no capítulo 10, versos 32 a 34:

Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições. Em parte fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações, e em parte fostes participantes com os que assim foram tratados. Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, e com alegria permitistes o roubo dos vossos bens, sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente.

Mas, eles estavam começando a reclamar sobre tudo isto. O escritor diz nos versos 4 e 5:

Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desanimes quando és repreendido.

A qual exortação ele está se referindo? É uma citação de Provérbios 3:11-12, que diz: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enfades da sua repreensão. Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem”.

Há dois perigos na disciplina. Um deles é você desprezá-la e o outro é o desânimo diante dela. Um a está atacando e o outro está se rastejando em meio a ela.

Um deles é uma reação externa e o outro é uma reação interna. Há sempre aqueles dois perigos, e você deve pensar sobre eles.

Você sabe que há algumas pessoas que ficam insatisfeitas com Deus, quando Ele as corrige. Isto é uma tolice. Tudo o que Deus está fazendo é nos conformar a Cristo, é para o nosso próprio bem. É o mesmo princípio que acontece quando disciplinamos nossos filhos, ou seja, é para o bem deles.

Quanto Israel padeceu por rejeitar a disciplina do Senhor? Quantas vezes Israel se voltou contra Deus diante das dificuldades? Bem, o resultado disto você conhece muito bem.

Arthur Pink disse:

Isto é o que os hebreus fizeram no deserto, e ainda há muitos murmuradores no acampamento de Israel. Um pouco de doença, e nos tornamos tão irritadiços que nossos amigos ficam até com medo de chegar perto de nós. Alguns dias na cama, e lamuriamos e bufamos como um novilho não domado. Perguntamos de forma impertinente: por que essa aflição? O que eu fiz para merecer isso? Olhamos ao redor com olhos invejosos, e ficamos descontentes porque os outros estão carregando uma carga mais leve. Cuidado, meu leitor: isso pesa contra os murmuradores. Deus sempre corrige duas vezes se não somos humilhados na primeira. Lembre-se de quanta escória ainda há no ouro. Veja as corrupções do seu próprio coração, e maravilhe-se que Deus ainda não tenha ferido você duas vezes mais severamente.

Podemos reclamar ou ficar desanimados e entrar em colapso diante das pressões e das dificuldades. Mas Deus quer que aprendamos onde estão os nossos limites, para nos conformar com Cristo.

“Muitas são as aflições do justo” (Salmo 34:19), mas nos momentos de aflições temos que dizer: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu”. (Salmo 42:11).

Não há nenhuma razão para murmurarmos ou desanimarmos diante da disciplina do Senhor. São dois perigos na disciplina, nunca entre nesses dois caminhos.

Há duas provas na disciplina: “Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (v.6). Ou seja, Ele corrige ou açoita e Ele ama.

Ouça, os momentos de duras disciplinas são os momentos em que Deus está mais próximo de você. O pensamento comum é este: “Oh, Deus está muito longe de mim, por isto estou com esta dificuldade”. Não, isto não é uma verdade.

Choramos como o atribulado no Salmo 10 e dizemos: “Por que Tu estás longe, Senhor? Por que te escondes nos tempos de angústia?”.

Mas “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Salmo 46:1).

No meio da angústia, temos que crer que Ele nos ama. As dificuldades que passamos são bem-vindas, pois elas serão usadas por Deus para nos conformar a Cristo.

Lembro-me, alguns anos atrás, que eu estava no meu escritório lutando em meu próprio espírito, querendo ser tudo o que Deus queria que eu fosse. Não queria ser apenas um jovem espiritual, mas um pai espiritual.

E me derramei de joelhos diante do Senhor e clamei para que Ele fizesse esta obra em mim. Que ele me fizesse parecido com Cristo.

Tive a coragem de pedir que Ele fizesse tudo que fosse necessário. Eu sabia que isto implicaria experimentação e tribulação.

Mas, sabe de uma coisa, tem sido algo maravilhoso. Aprender a ter a mesma reação diante de coisas boas e ruins é parte do processo, há nisto uma alegria com fundamento.

Penso que todo cristão tem que estar numa posição em que possa dizer: “Senhor, seja qual for o preço, faz-me andar, com alegria, no caminho que Tu queres que eu ande”.

E quando perceber que o Senhor está fazendo exatamente isto, ficar bem certo de que o amor Dele está trabalhando, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Escute isto: se nenhuma tribulação corretiva ocorre em sua vida, há algo errado em sua condição espiritual perante Deus. Você deve considerar os versos 7 e 8 de Hebreus 12, que dizem:

É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos.

Ouça, nós vemos o amor de Deus e O vemos nos chamando de filhos em Sua disciplina. É o Seu amor que nos torna semelhantes a Cristo. É o Seu amor que trabalha no sentido de nos levar à conformidade de Cristo, ao padrão celestial.

Veja a palavra “açoite” no verso 6. No original o sentido é “flagelo”, um “chicote”. É um sentido espiritual, mas assim sabemos a forma como Deus faz para que sejamos o que Ele deseja de nós.


Meus pais me disciplinaram com a vara de forma consistente e com firmeza. Com o passar dos anos eu pude contemplar tudo aquilo como uma demonstração do amor deles para com a minha vida.


Saber que Deus está me disciplinando é a maior indicação possível de que eu sou Seu filho.

Se você é um pai amoroso, que disciplina seus filhos, pode se deparar com uma criança rebelde em algum lugar, mas você nada poderá fazer, pois não é seu filho.

Isso é essencialmente o que Deus está dizendo para nós aqui. É com o filho legítimo que o Pai se preocupa, a quem Ele ama e disciplina. Mas aquele que não é Seu filho, Ele não disciplina.

Então, nós encontramos dois perigos: você pode desprezar a Deus ou você pode ficar desanimado diante de correção.
Mas, duas provas há na disciplina divina: Ele te ama e você é Seu filho.

E, por último, há dois propósitos na disciplina, dois objetivos que Ele quer realizar, versículo 9: “Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos?”.

O que Deus quer produzir em nós? O primeiro produto da disciplina é viver uma vida plena, significativa, espiritual. O segundo é a santidade.

Nossos pais fizeram o melhor que podiam e, por vezes, eles estavam errados, mas Deus é perfeito e sempre faz isso para nosso proveito, e Ele sempre faz isso com a santidade em mente, para nos conformar a Cristo, para nos fazer santos.

Você pode responder à disciplina com gratidão e louvor, isto é glorioso. Mas também pode responder com murmuração e desânimo, um desastre.

Ele conclui no verso 11: “E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, mas de tristeza…”. Se você olhar para o presente, você está tendo tribulação. Mas, o texto continua: “…mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” As pessoas que usam as disciplinas divinas para desenvolverem seus ‘músculos’ espirituais, vão descobrir quão benéficas elas são para isto.

Aqui está a chave, se você entende que a disciplina de Deus é como um ‘levantamento de pesos’ espiritual, ela vai te fazendo ficar mais e mais forte, de modo que você possa ser cada vez mais o homem ou a mulher que Deus deseja que você seja.

Dessa forma é que enxergamos a disciplina de Deus. E, assim como as abelhas fabricam o mel a partir do néctar amargo que sugam das flores, assim também sua confiança em Deus é fabricada a partir de amargas provações.

Eu sempre penso em Maria quando olho para este texto. Maria de pé no túmulo vazio. Ela chorava profundamente. E você sabe de uma coisa? Ela estava chorando sobre algo que traria a ela imensa alegria. Jesus estava vivo, mas ela não pôde vê-Lo. Ela só via a dor do momento.

Nós temos que ver além. Temos que ver o que Jesus quis dizer quando falou: por causa da glória que seria revelada, por causa da alegria que estava adiante, Ele suportaria a cruz, sabendo o que alcançaria após.

Amado, seja por retribuição, prevenção ou educação, deixe Deus fazer Sua obra perfeita. Depois que Ele a tiver feito e você tiver sofrido, Ele irá te fortalecer, firmar, estabelecer, a fim de te conformar à imagem de Jesus Cristo.

Vamos nos inclinar em oração.

Nosso Pai, nós te agradecemos por este tempo nesta noite em que compartilhamos esses ensinos.
Somos gratos pela riqueza da Tua Palavra. Mas, ela é tão simples ao mesmo tempo, de modo que mesmo um tolo não tem como não entender.
Somos tão gratos pelo fato de o Senhor nos chamar de filhos e porque o Senhor nos amar o suficiente para nos disciplinar, a fim de nos transformar naquilo que o Senhor quer de nós.
Faça isso, Pai, seja lá o que for, para que nós sejamos tudo o que podemos ser para a Tua glória. No nome de Jesus. Amém.


Este texto é uma síntese do sermão “The Discipline of God”, de John MacArthur em 03/07/1977.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

http://www.gty.org/resources/sermons/1255/the-discipline-of-god

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


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1 Response

  1. Rafaella Masson André disse:

    Amém!!
    Que texto glorioso!
    Que Ele cresça e eu diminua!
    E que como bons despenseiros de Cristo sejamos achados fiéis!

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