A autodisciplina do cristão – 1

Nós temos oportunidade nesta manhã de continuarmos nosso estudo sobre anatomia da igreja, e que alegria trazer para vocês outra série de mensagens sobre as  atitudes espirituais que a Bíblia nos ensina como essenciais para a saúde da vida da igreja. É claro que se aplicam a nós como indivíduos, não é mesmo? Afinal, somos a Igreja. Estas atitudes precisam existir em nossas próprias vidas.

A única metáfora utilizada no Novo Testamento para descrever a natureza da igreja é a de um corpo, um organismo vivo. É como um corpo conectado à cabeça, no sentido de que sua vida depende da Cabeça, que é Jesus Cristo. E as Escrituras nos explicam de modo maravilhoso esta analogia com o corpo.

Nós tomamos a liberdade de estender ou expandir um pouco esta analogia do corpo, não falando apenas do esqueleto, a forma rígida, o ponto de partida, ou seja, os princípios inegociáveis que dão rigidez e forma à igreja. Mas nós começamos falando sobre os sistemas internos.

Assim como um corpo possui sistemas, formados por órgãos que contêm vida, assim a igreja possui atitudes espirituais, verdades que estão embutidas nos corações de seus membros, motivações espirituais que transportam a vida da igreja. Quando a igreja exibe estas atitudes, ela se torna forte e eficiente. Da mesma forma, quando não as manifesta, torna-se fraca e ineficiente.

Temos falado de coisas como amor, fé, humildade, unidade, contentamento,  gratidão, alegria, perdão. Também temos falado em coragem, ousadia, força, que são atitudes necessárias à igreja.

Hoje queremos falar de outra atitude espiritual também necessária à igreja, que é a autodisciplina que deve estar presente em seus membros. Podemos chamar de autodisciplina, ou disciplina espiritual, ou a capacidade de ter disciplina sobre sua própria vida. Isso é essencial para o seu crescimento.

Pessoas que possuem grande capacidade de concentração, de manter o foco, de definir e permanecer em suas prioridades, tendem a obter muito êxito neste mundo. E autodisciplina é um componente essencial para isto.

Se falamos sobre alguma conquista acadêmica, algum tipo de façanha musical ou atlética, ou algum êxito na esfera dos negócios, artes, ciências, geralmente isto vem de pessoas que são muito focadas, que conhecem e administram bem suas prioridades. No mundo, tais são as pessoas disciplinadas.

A autodisciplina é uma característica muito útil na vida. Sou grato por ter tido pais muito disciplinados, que me criaram estabelecendo limites claros. Eu certamente queria viver fora desses limites, enquanto criança, mas foi sempre doloroso ultrapassá-los… Então, fui aprendendo que era sempre melhor estar dentro desses limites.

Meus pais estabeleceram padrões de vida para mim e eu era disciplinado para permanecer dentro desses padrões. Sua rigidez amorosa para comigo me fizeram aprender a ser uma pessoa disciplinada. Eles me disseram muitas vezes: ‘você não possui domínio próprio’. Ouvi o mesmo não só deles, mas também de professores.

E fui aprendendo a ser uma pessoa disciplinada através do ensino e disciplina amorosa de meus pais. E isto contribuiu decisivamente para alcançar a autodisciplina que possuo hoje.

Frequentemente, eu tenho oportunidade de falar aos jovens. Gosto de lhes falar sobre autodisciplina e bom aproveitamento de suas vidas. Geralmente lhes dou uma pequena lista de aspectos ou características nas quais eles precisam trabalhar.

Se você quer ser uma pessoa disciplinada, se vocês, como pais, querem incutir isso nas vidas de seus filhos, deixe-me dar alguns conselhos:

Comece se disciplinando em pequenos assuntos. Trate cada pequena coisa com importância, não por causa dela em si mesma, mas  por causa da sua integridade e credibilidade pessoal. Sua palavra deve ter importância mesmo em pequenas coisas. E é absolutamente essencial aprender a se treinar nesses pequenos assuntos.

Mantenha seu ambiente limpo. O que isto significa? Livre-se de tudo o que você acumula sem função, mantenha limpa sua mesa de trabalho ou estudo, seu quarto, garagem. Passe a ficar descontente com bagunça.

Faça uma agenda. Eu não estou sugerindo que você tenha que programar cada respiração. Mas, faça um planejamento e aprenda a segui-lo, para que você possa estabelecer uma sequência do que deve fazer, uma ordem, e se treinar a isto.

Afaste-se do entretenimento. Tenha domínio sobre isso. Não se deixe dominar por entretenimento. Se você está com tempo sobrando, procure fazer atividades que são produtivas, em vez de sentar e se divertir. Entretenimento traz muito, muito pequena contribuição para o seu bem-estar e para o seu progresso.

Se há tempo sobrando, gaste-o para ler ou dar um passeio com alguém, ou ter uma conversa, ou plantar flores ou algo assim.

Seja pontual. Isso significa que você pode ordenar seu pequeno universo para que possa chegar onde você precisa, na hora certa, vestido e no seu perfeito juízo. Aprenda a ser pontual. Mesmo em pequenas coisas, mesmo em compromissos insignificantes, porque isso diz muito sobre como sua vida é ordenada e como você planeja bem seu tempo.

É muito importante ser pontual com as pessoas, porque isso mostra a elas que você deu importância ao compromisso ou convite marcado.

Mantenha sua palavra. Mesmo nas pequenas coisas você deve manter, honrar a sua palavra. Se você diz que vai fazer, faça. E faça no tempo e modo que você disse que iria fazer, porque sua palavra é algo importante, que você deve honrar.

Não faça promessas que não se mantêm. Não assuma compromissos e os descumpra. Isso exige disciplina. Isso exige disciplina antes de fazer o compromisso, porque você tem que olhar e avaliar seu tempo, seu talento e a capacidade que você tem para cumprir o que está em jogo. Mas, depois de ter feito o seu compromisso, mantenha a sua palavra nas mínimas coisas.

Se você aprender a manter sua palavra nos assuntos pequenos, vai aprender a mantê-la nos grandes e muito importantes.

Execute em primeiro lugar a tarefa mais difícil. Sempre é melhor fazer a tarefa mais difícil em primeiro lugar. Deixe o mais fácil para o final. A maioria das pessoas fazem o inverso. E quando elas têm pouco tempo, ou ficam sem energia, forças, então, buscam uma desculpa para justificar por não terem feito o que deveriam, tendo deixado de fazer justamente a tarefa mais difícil que, provavelmente, era a mais importante.

Termine o que você começou. As vidas de algumas pessoas são apenas uma longa ladainha de coisas inacabadas. Se você iniciar algo, termine, conclua. Este é um princípio tremendamente importante de autodisciplina: termine o que começou.

Pratique a autonegação. Aprenda a dizer ‘não’ para si mesmo. Quer dizer, pode ser algo que você gostaria de fazer, pode ser algo que seria bom para fazer, mas diga ‘não’ a si mesmo, apenas para que você possa lembrar a você que ainda está no comando e você não está completamente ao sabor do seu impulso.

Eu sugiro, que da próxima vez que você tiver a oportunidade de comer um sanduíche triplo, ou uma super banana split, coberta com chocolate e tudo isso, você possa simplesmente dizer ‘não’. Só assim você pode dizer ao seu estômago: ‘Veja, eu ainda estou no comando!’ É muito útil a prática de autonegação.

Seja voluntário. Significa que você deve se oferecer para realizar tarefas, trabalhos. Isso implica que você tem que deixar um pouco de espaço em sua vida, você tem de ter a sua vida ordenada bem o suficiente para dizer: ‘Ei, eu gostaria de tentar isso, eu gostaria de cooperar nisso, gostaria de ajudar.’

E, assim, você se compromete com algo que realmente não é uma parte de sua própria agenda, mas é necessário e isso exige um pouco de ordem em sua vida.

Bem, nós poderíamos elucidar todos esses pontos e expandi-los e dar-lhe ilustrações, mas apenas quero entregá-los a você como simples princípios nos quais você pode trabalhar em sua própria vida pessoal e com os seus filhos, ajudando-os a desenvolver a autodisciplina.

Mas isso é puramente o lado humano da autodisciplina, e, francamente, há um lado humano nisso, porque somos humanos.

Por que  preciso ser autodisciplinado? Por que preciso querer ser autodisciplinado? E a resposta a essa pergunta leva você para a Palavra de Deus. Agora, temos uma questão bíblica em jogo.

Há uma série de pequenos comandos no Novo Testamento que tratam da questão da autodisciplina. Nós poderíamos começar por 1 Coríntios 9: 27a, que diz: “Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão…“, certamente é um verso que trata da autodisciplina.

Hebreus capítulo 12:2 também se refere a autodisciplina, pois há o comando de manter os olhos fixos em Jesus, que é o autor e consumador da fé. Em 1 Pedro 1:13, lemos: “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo“. Esse texto trata claramente da autodisciplina.

Cingir os lombos do vosso entendimento” significa ‘cingir sua mente para a ação’. Lembre- se que na semana passada nós falamos sobre Efésios 6:14 que diz que devemos ‘cingir os  lombos com a verdade’, lembra-se disso? Nós falamos que este texto se refere a um soldado romano.

Quando ia para a batalha, o soldado romano usava um tipo de túnica (vestido) muito longo. Então, para agir como um soldado e ter mobilidade, as quatro pontas da túnica eram puxadas para cima e presas nessa faixa. Com isso a túnica ficava num tamanho ideal para a batalha, pois se fosse muito comprida, atrapalharia os movimentos do soldado.

E isso é realmente onde a vitória espiritual começa. Ela começa com um compromisso pessoal de pegar as ‘pontas soltas da própria vida e seguir para a batalha preparado’. E essa é precisamente a ideia de autodisciplina. Cingir a mente significa ‘puxar todas os pontas soltas’ do seu pensamento. Puxe todas as pontas soltas do seu pensamento. É um conceito muito importante.

E Pedro segue dizendo: “seja sóbrio.” Literalmente, no grego, “mantenha-se sóbrio“. O que ‘manter-se sóbrio’ quer dizer? Bem, não diz respeito a alcoolismo. Nesse texto especificamente não é um comando referente a embriaguez alcoólica. Mas, o sentido do texto é ter a mente clara e ter compreensão das prioridades da vida. ‘Mente sóbria’ na Bíblia tem a ver com compreensão das prioridades.

É pensar naquilo que você deve pensar, naquilo que é prioridade. A mente disciplinada é uma mente que evita os elementos embriagantes e as seduções do mundo. Estamos falando sobre alguém cuja mente é clara, cujas prioridades são bem estabelecidas, que tem firmeza espiritual, que exercita autocontrole em seu pensamento, que tem prioridades equilibradas.

Trata-se de uma determinação moral, porque há princípios firmes na mente. É por isso que a sã doutrina é tão importante, porque você tem que fixar princípios na mente, a fim de estabelecer prioridades de comportamento, agilidade mental.

A vida de quem é sóbrio de mente é o oposto da pessoa que está à deriva, que  passa pela vida de modo imprudente apenas reagindo emocionalmente diante de cada situação. O sóbrio de mente é aquele capaz de limpar a desordem e complicações da vida e resolver o que realmente importa em sua mente.

Em Romanos, capítulo 13:13, Paulo disse: “Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja.” Aqui há a imagem da pessoa que passa apenas cambaleando pela vida, reagindo a cada desejo e impulso, sem compreensão da realidade, sem a priorização de qualquer padrão e sem clareza de pensamento.

O texto não apenas diz ‘seja sóbrio!’, mas acrescenta: “… e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo”. O que isso significa? Bem, é como ter a mente de Cristo, é pensar como Ele pensa.

Em 1 Tessalonicenses, novamente, no capítulo 5 ele diz no versículo 6: “Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios.” Isto é: não esteja apenas andando em um estado de passividade, não fique andando em um nevoeiro, sendo uma vítima de tudo o que acontece ao seu redor, mas, por outro lado, esteja alerta e compreenda as suas prioridades.

O verso 8 diz: “Uma vez que somos do dia,” isso significa que pertencemos ao Senhor, à luz, em vez de estarmos na escuridão, “sejamos sóbrios.” Devemos conhecer as nossas prioridades.

E então, em 1 Pedro capítulo 5, versículo 8, um verso final que expressa comandos semelhantes: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar.” Estabeleça suas prioridades. Seja sóbrio em sua mente. Seja vigilante.

Mais uma vez, eu digo, isso significa simplesmente ‘puxar todas as pontas soltas’ do seu pensamento. E, amados, é por isso que a sã doutrina é tão importante, porque é ela que nos permite ter algum ponto de partida para o estabelecimento de nossas prioridades. E, então,  podermos nos tornar pessoas espiritualmente autodisciplinadas.

Agora, quais são essas prioridades internas que vão nos fazer autodisciplinados? Para desenvolver a autodisciplina é necessário que estejam presentes, antes de tudo, as motivações corretas que vão nos impulsionar a desenvolver essa autodisciplina.

Quais seriam as prioridades fundamentais com base na sã doutrina que você precisa estabelecer em sua vida e que vão fazer de você uma pessoa disciplinada, de modo que você simplesmente não siga à deriva pela vida, cometendo loucuras, oscilando entre um pecado aqui e um pecado ali, a fim de que você tenha a disciplina que conduz ao controle pelo Espírito Santo, para ser um cristão eficaz?

Quais são esses princípios que levam um crente a ser disciplinado?

O primeiro princípio é lembrar quem possui você, quem é seu dono. Você vê, seu comportamento é um resultado direto de como você pensa e avalia tudo ao seu redor. É um resultado direto de informações que você tem em sua mente; e, como consequência, é um resultado direto do nível de compromisso que você tem com relação a essas informações.

Em outras palavras, você vai se comportar de acordo com o que você sabe e o que você pensa sobre o que você sabe. E uma vez que, como cristãos, você conhece a Palavra de Deus, você tem a base para sua crença. E uma vez que você está comprometido seriamente com a autoridade da Palavra de Deus, você crê na Palavra de Deus. Sua ação, em seguida, é um produto do que você sabe que é verdade e do que você acredita.

E a primeira coisa que é essencial para você nesta questão de auto-disciplina é crer que você não é dono de si mesmo. Agora, isso vai na contramão de tudo em nossa cultura, porque tudo nesta sociedade moderna é autocentrado. E a ideia dominante que é transmitida e propagada através de todos os meios possíveis e através de todo o sistema educacional é de que cada indivíduo é o rei de seu pequeno mundo, e você tem o direito de ser quem você quiser ser, não deixe que ninguém lhe diga o que você tem que ser, você é quem você é e quer ser.

E você é quem define seus objetivos e determina os seus próprios níveis de satisfação, deve perseguir seus próprios sonhos e não deixar ninguém ficar no seu caminho. Você deve escolher o seu próprio estilo de vida , etc., etc. Esta é a igualdade de direitos, são as liberdades pessoais. É assim que é estabelecido como padrão em nossa sociedade.

E aí vem a Bíblia e nos diz: ‘você não está no comando de sua vida’. Na verdade, não só você não se governa, mas você não é livre, você é um escravo. Você é um escravo e um servo de Deus em Cristo. E é aí que tem que começar.

Quando você olha para 1 Pedro 1:14 e lê a expressão: “Como filhos obedientes.” Agora pare para pensar que nós não apenas somos escravos e servos, mas somos também … o quê? … Filhos. E o que é exigido de filhos? Obediência.

Não só temos uma relação com Deus como escravos e servos para com um mestre, mas também como filhos para com um pai, uma relação de autoridade e submissão, eu poderia acrescentar.

Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo. E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação…”. (1Pedro 1:14-17).

Se você é filho de Deus, e você chama Deus de seu Pai, então você deve viver com temor com relação ao teu santo Pai, certo? Ele é quem tem autoridade sobre sua vida. Você não se pertence, você foi comprado por um preço.

E o preço é bastante surpreendente, versículo 18: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais“. Agora, aqui estão duas declarações muito fortes nesta passagem sobre quem está no comando de nossas vidas.

A primeira: somos filhos de um Pai que tem completa autoridade sobre nós. E, em segundo lugar, somos escravos de um Mestre que nos comprou por um preço imenso: o sangue de Jesus Cristo. E toda esta questão de autodisciplina começa quando percebo quem é que me possui. Eu não sou meu. Eu fui comprado. Este é um tremendo princípio.

I Coríntios 6:19, diz: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?“. Em Atos capítulo 20 versículo 28, o apóstolo Paulo lembrou aos pastores de Éfeso que eles foram comprados por Deus com o sangue de Cristo.

Você se lembra que Gálatas 3:13 diz que Ele nos resgatou fazendo-se maldição por nós. O preço foi Seu sangue derramado. O preço foi Seu sacrifício na cruz. O preço foi Ele se tornar uma maldição e ser separado de Deus quando Ele morreu na cruz. Fomos comprados com o sangue precioso. Isto é onde a autodisciplina começa.

Estou convencido de que até você entender que você não se possui, que alguém tem o domínio completo e direito sobre a sua vida, você não terá a motivação para ser uma pessoa autodisciplinada. Eu sou um homem de Deus. Eu pertenço a ele. E você é um homem de Deus e uma mulher de Deus e você pertence a Ele e a mais ninguém, muito menos a si mesmo.

Você não é seu. Isso é muito importante. E o Senhor pagou um preço tão infinito para nos comprar, porque Ele queria o prazer de ter-nos com Ele por toda a eternidade em Sua presença.

A nossa obediência ao Seu Senhorio, a nossa submissão à Sua paternidade não é algo opressivo, pesado, porque geram bênçãos no tempo presente e uma recompensa eterna na vida futura. Fomos comprados a um custo tão elevado. E você vai começar a buscar uma vida santa, quando você começar a entender o preço que Jesus Cristo pagou por você.

Nós sempre repetimos esta verdade quando compartilhamos a ceia do Senhor. Passamos por passagens na Bíblia o tempo todo para falar sobre o sacrifício de Cristo. E entendemos que  quanto mais nós o compreendemos, mais maravilhoso ele se torna e mais impactante será a graça de Deus, de modo que isto afetará a forma como vemos a nós mesmos.

Eu penso que uma das coisas que constrangia  o apóstolo Paulo diante da graça de Cristo era o fato de ele saber que era um pecador podre e desgraçado. Chamou a si mesmo de ‘o maior dos pecadores’. Ele estava fora da graça, como você sabe, perseguindo Cristo, por assim dizer, perseguindo os cristãos, jogando-os na prisão e até mesmo os conduzindo à execução.

Diante de tudo isso, ele era um homem mau, do ponto de vista de Deus. E quando ele foi salvo por Jesus Cristo na estrada de Damasco, em um ato de poder sobrenatural e soberano, foi tão esmagador para ele, que nunca deixou de estar perplexo pelo fato de sua salvação.

Creio que isto estava na raiz de sua enorme dedicação, que era a consciência de saber que houve um preço alto pago pelo resgate de uma pessoa indigna, tão podre, miserável.

E quando você começa a entender o que Deus realizou em Cristo para te resgatar, para fazer de você Seu servo, para comprar você, adotá-lo, torná-lo Seu filho e que Ele é responsável por você e você compreende a plenitude da riqueza dessa realidade, isso por certo vai ter um impacto sobre a forma como você conduz a sua vida.

Em segundo lugar, é preciso lembrar do pacto da salvação. Você deve se lembrar da aliança da salvação. Você se lembra que quando foi salvo, isso não foi um ato unilateral? Você se lembra que quando você foi salvo e veio a Cristo  pedindo que te perdoasse e salvasse, você estava implorando por perdão, por purificação, desejando sair das trevas para a luz, e na sua fé simples você disse: ‘Sim, Deus, eu recebo o dom da salvação, eu quero Jesus Cristo em minha vida como Senhor e Salvador’?

Lembra-se que naquele tempo você também confessou Jesus como seu Senhor? Você se lembra daquele instante em que você estava dizendo ‘Eu Te dou a minha vida’? Em outras palavras, houve uma promessa da parte de Deus para perdoá-lo e derramar graça sobre graça e para trazê-lo para a glória.

Porém, houve também uma promessa por parte do pecador, uma promessa de obediência, uma promessa que fez você dizer: ‘eu vou Te obedecer, eu vou Te seguir, eu Te confesso como meu Senhor e meu Mestre’. Essa foi a transação da fé salvadora.

Você vê, a fé salvadora reconhece o pecado e, portanto, a fé salvadora engloba arrependimento. E a fé salvadora reconhece o senhorio de Cristo e, portanto, a fé salvadora engloba submissão. E, assim, você veio com um coração de submissão.

A questão é, se ou não você ainda é obediente. Eu não creio que quando as pessoas vêm a Cristo compreendam plenamente as implicações da sua confissão. Eu não creio que elas compreendam plenamente o que significa  submissão, o que a obediência a Cristo vai implicar, porque elas ainda não entendem completamente as Escrituras e não compreendem plenamente a vida cristã com todos os seus desafios.

Mas, mesmo assim, houve uma aliança de salvação em que o pecador assumiu o compromisso de seguir a Jesus Cristo.

Agora, quero que você olhe para isso em 1 Pedro, capítulo 1, no início do capítulo, versículos 1 e 2. “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros…“, todos nós, que somos salvos, somos estrangeiros neste mundo. Estes cristãos a quem Pedro dirige sua carta foram espalhados  no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, uma região ao redor do nordeste do Mar Mediterrâneo.

Assim, Pedro está escrevendo para estes crentes dispersos que estão em todos os lugares. E ele os identifica de uma forma mais interessante. Primeiro de tudo, no versículo 2, ele os identifica desta forma: “Eleitos segundo a presciência [conhecimento] de Deus Pai...”.

Assim, com base no conhecimento pré-determinado de Deus, Ele escolheu certas pessoas para a salvação. Isso é muito claro. Eles são escolhidos de acordo com a presciência de Deus.

Algumas pessoas pensam que a presciência de Deus significa que Deus sabe de alguma coisa antes que aconteça, mas Ele não tem influência sobre seu acontecimento. Isso não é o que essa palavra significa. Deus tem toda influência sobre o que acontece, em primeiro lugar, e em segundo lugar, a presciência [ou pré conhecimento] significa predeterminar um relacionamento.

Por exemplo, você tem que ter muito cuidado quanto ao significado da palavra ‘conhecimento’ na Bíblia. Quando em Amós 3:2 Deus disse a Israel: “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido…“, Ele não quis dizer que eles eram as únicas pessoas no mundo que Ele sabia a respeito. Ele quis dizer que tinha um relacionamento íntimo com eles.

Quando se diz “Caim conheceu sua mulher, e ela deu à luz um filho…“, o conhecimento se refere a uma relação muito íntima que resulta no parto. Quando se diz que José não conheceu Maria enquanto ela estava grávida de Jesus, a palavra conhecer aí está se referindo a esse mesmo relacionamento íntimo.

Quando Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço…”, Ele não quis dizer que ‘eu sei sobre elas’, mas quis dizer que ‘eu tenho um relacionamento íntimo com elas’.

Deus predeterminou uma relação íntima  com certas pessoas de modo que Ele, em seguida, as escolheu para a salvação. Então, isso é o que a palavra conhecimento se refere no texto de 1 Pedro 1:2.

Logo, a salvação realmente começa nos propósitos de Deus na eleição. Mas observe como Pedro continua: Vocês são escolhidos de acordo com o conhecimento de Deus Pai “em santificação do Espírito…” (v. 2). E aí ele está se referindo à salvação, ok? Eu acho que a maioria das pessoas pode pensar que a palavra “santificação” tem a ver com o que acontece depois da salvação.

Não. Mas, tem a ver com o que começa na salvação. Santificação inclui a salvação. Ser santificado significa ser separado. Você foi separado do pecado no momento da sua salvação. E essa separação tem continuidade.

A santificação abrange a sua justificação, a sua conversão, a sua regeneração. A santificação começou quando fomos separados do pecado para Deus. E essa eleição se deu na eternidade passada, antes que o mundo existisse. Fomos separados do pecado pela obra santificadora do Espírito que continua então até a glorificação.

E, em seguida, o terceiro aspecto deste milagre, desta salvação, é: “…para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo…” (v. 2).Agora, esta é uma declaração muito importante. Quando você foi escolhido, você foi escolhido para ser salvo. Quando você foi salvo, você foi salvo para ser obediente.

É por isso que várias vezes Paulo se refere à ‘obediência à verdade’, e Pedro também. Neste mesmo capítulo, no versículo 22a, temos: “Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade…”.

Quando você veio para a salvação, houve um ato de obediência. A Bíblia diz: “Arrependei-vos e crede“, e você obedeceu a esse comando. O Pai disse: “Este é o meu Filho amado, ouvi-O“, e você obedeceu a esse comando. A salvação é um ato de obediência. É por isso que ela é chamada de ‘a obediência da fé’ por Paulo em Romanos capítulo 1:5.

Então, é aí que começa a obediência, com a salvação. E deve continuar. Efésios 2:10, “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Portanto, se você está salvo, as boas obras devem fluir. “A fé sem obras é…” o que? “Morta”.

Se não houver nenhuma dessas boas obras, se não há nenhuma obediência, não há verdadeira fé salvadora. Jesus disse em João 8:31: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos.”

Ele também disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama.” (João 14:31a). Por isso, a obediência  é um componente essencial na salvação. Ela atesta se houve a salvação de fato.

Quando você veio a Cristo, isso só ocorreu porque você foi escolhido antes da fundação do mundo, porque foi santificado e separado do pecado através da obra salvadora do Espírito Santo. E, no momento da sua salvação, você fez um compromisso e uma promessa de obedecer ao Senhor e lhe foi dada, pelo Espírito Santo, a graça para cumprir essa promessa.

Então, a obediência é um elemento essencial e  importante na salvação. Atesta se houve salvação. Agora, observe a próxima instrução e é nela que eu quero focar: “…para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo…” (1 Pe 1:2).

À primeira vista, você pode dizer para si mesmo: ‘Bem, isso deve se referir à cruz, que deve se referir à salvação, e, portanto, a ordem aí está trocada, pois deveria vir primeiro a palavra aspersão para depois vir obediência, pois primeiro você é salvo e depois obedece.’

Observe bem o texto que estamos lendo: primeiro Pedro fala de eleição, então vem salvação, depois vem a obediência. Como é que aspersão do sangue de Cristo vem depois disso tudo? Parece que ela deveria vir logo depois da eleição e antes da santificação. Mas, isso não acontece, porque Pedro não está falando sobre a aspersão do sangue com um foco direto sobre o aspecto salvífico da morte de Cristo.

Esse não é o foco aqui. Na verdade, nenhuma passagem do Novo Testamento que lida com a salvação, nenhuma passagem que lida com a morte de Cristo fala sobre o sangue sendo aspergido, literalmente. Então, onde é que Pedro foi buscar essa figura? De onde veio?

Bem, claramente ele usa essa expressão ‘sangue aspergido’ por causa de seu conhecimento do Antigo Testamento, pois tendo sido criado como um judeu, ele conhecia o Antigo Testamento. E há um lugar no Antigo Testamento, onde é encontrada essa expressão, que é em Êxodo capítulo 24.

Esta é uma parte muito importante da Escritura e é o único texto que Pedro estaria fazendo alusão quando se refere ao sangue aspergido. Lembre-se agora, ele diz “…para a obediência…” (1Pe 1:2) ou em outras palavras, ‘para que você seja obediente…’, e, em seguida, fala sobre a aspersão do sangue.

E, então, a questão é: o que é que essa obediência tem a ver com a aspersão do sangue? Bem, aqui está a resposta, em Êxodo 24. Moisés vem diante do povo, versículo 2, e ele estava anteriormente no Monte Sinai, onde recebeu a Lei de Deus. Deus lhe deu não só o decálogo ou os Dez Mandamentos, mas também as leis que estão escritas no Pentateuco, e havia muitas ordenanças.

Então, no versículo 3, Moisés está diante do povo e conta ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos. Ele vem diante do povo e diz mais ou menos assim: ‘Tudo bem, deixem-me apresentar-lhes o Pacto Mosaico. Deixem-me apresentar-lhes a promessa de Deus. Aqui está ela!’, e ele recita todas as palavras que recebeu de Deus.

No final de tudo, Moisés lhes revela o seguinte:  “Certamente, se vocês obedecerem, serão abençoados, mas se desobedecerem … o quê? … serão amaldiçoados.” OK? Esse é o pacto. Deus promete abençoar a obediência e punir a desobediência, depois de ter revelado ao povo todas as suas ordenanças.

Verso 3b: “…então o povo respondeu a uma voz, e disse: Todas as palavras, que o Senhor tem falado, faremos.” Admiro esse entusiasmo. Mas, eles obedeceram? Não. Naquele momento eles fizeram, por unanimidade, o compromisso. ‘Vamos obedecer a tudo’. Provavelmente, muito bem intencionados.

O versículo 4a, diz: “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor.” Ele as havia recitado para o povo. E, então, ele sentou-se para escrevê-las, para que nós pudéssemos tê-las ao longo da história humana, no Pentateuco. Ele escreveu e, em seguida, depois de fazer tudo isso, provavelmente na maior parte da noite, levantou-se de manhã e construiu um altar ao pé da montanha, com doze pilares para as doze tribos de Israel.

Este altar, é claro, era um altar dedicado a Deus, onde um sacrifício seria feito. E enviou alguns jovens dos filhos de Israel e ofereceram holocaustos e sacrificaram touros jovens, como ofertas pacíficas ao Senhor. Eles fizeram seus sacrifícios normais, ofertas normais a Deus.

E Moisés tomou a metade do sangue, e a pôs em bacias…” (v. 6a), e deve ter havido uma grande quantidade de sangue, várias ofertas, várias touros. “…e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar.” (v. 6b). Estes animais foram sacrificados, o sangue foi coletado e Moisés tomou a metade do sangue e espirrou, espargiu sobre o altar.

Deve ter sido um rio de sangue, dada a quantidade de animais. E essa era a forma de todos os altares da economia do Antigo Testamento, eles eram banhados de sangue. E como eu disse antes, os sacerdotes viviam sujos de sangue até os cotovelos, quando exerciam seu ofício. Eles eram banhados de sangue da cabeça aos pés. Ser um sacerdote era um exercício muito, muito, sangrento.

E, assim, Moisés espargiu (borrifou) o altar com metade do sangue, o que representou a assinatura ou compromisso de Deus em cumprir Sua parte na aliança (pacto, acordo) que estava sendo feita entre Ele e o povo de Israel, tendo Moisés como intermediário.

Nos tempos antigos, as alianças, pactos, acordos eram selados com sangue. Você pode lembrar que quando Deus fez a aliança com Abraão, esta foi selada com sangue. Essa era a maneira tradicional do povo antigo em firmar seus contratos e acordos. E, assim, o altar estava coberto com o sangue dos animais sacrificados, e o que estava Deus dizendo era: “Eu vou manter a minha aliança. Eu vou cumprir a minha parte nesse negócio, e selei com sangue.”

E, em seguida, Moisés tomou o livro da aliança, versículo 7, que ele tinha escrito e o leu aos ouvidos do povo. Portanto, esta é a segunda vez que  o povo ouve as palavras da aliança. E, novamente eles disseram, afirmaram: “Tudo o que o Senhor tem falado, faremos e seremos obedientes.

Então, Moisés tomou a outra metade do sangue, que estava nas bacias, e aspergiu sobre o povo, até que todo aquele sangue acabou. E ele disse: “Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor tem feito convosco sobre todas estas palavras.” (v. 8b).

Deus fez uma promessa, segundo a qual se o povo obedecesse Sua lei, Ele o abençoaria, mas, se a desobedecesse, haveria punição, castigo. E o sangue foi salpicado para selar a promessa de Deus. O povo também fez uma promessa. O povo disse: ‘vamos obedecer, vamos cumprir tudo’, e o sangue foi salpicado em cima deles, para selar a sua parte na promessa.

Essa é a imagem que Pedro está usando (e agora você pode voltar para 1 Pedro…), significando que, quando você veio a Cristo como Seu eleito, você foi salvo e santificado, separado do pecado pelo Espírito Santo, e os seus pecados foram perdoados e você se tornou um filho de Deus, você prometeu obediência a Jesus Cristo e, simbolicamente, você foi salpicado, aspergido com o Seu sangue para selar (assinar) a sua parte nessa aliança.

Às vezes, penso que presumimos que o Pacto Mosaico foi uma aliança unilateral. Mas não foi. E tenho certeza que muitas pessoas presumem que a Nova Aliança de salvação é um tipo de pacto unilateral, em que Deus promete tudo e nós não prometemos nada. Mas não é.

Quando você vem a Cristo, você está dizendo algo, você está se comprometendo. Você está dizendo que confessa Jesus como Senhor, e você está se oferecendo como Seu servo. Você está confessando Deus como Pai e pedindo para ser feito  Seu filho. E, em ambos os casos, você se torna um submisso a um Pai, que detém toda autoridade, e a um Senhor soberano. Você se comprometeu a obedecer. Essa é a obediência da fé. Essa é a obediência à verdade, que Pedro fala no verso 22.

E, amados, o que eu quero enfatizar aqui é que se você quer ser uma pessoa autodisciplinada, você deve olhar para trás e se lembrar da promessa que você fez no início, e, assim, ser uma pessoa com integridade, ser uma pessoa que mantém a sua palavra, que tem a integridade de manter a promessa que fez quando veio a Cristo.

Estávamos todos tão ansiosos quando chegamos a Cristo para obter o perdão, certo? Estávamos tão desesperados em nosso pecado, queríamos o perdão, queríamos o céu, queríamos evitar o inferno, queríamos esperança e graça e misericórdia, amor, alegria e bênção. E parecia fácil dizer: ‘sim, eu vou comprometer minha vida com Cristo e  vou obedecê-Lo com alegria.’

E como o tempo passa, podemos esquecer a promessa que fizemos e começarmos a perder nossa integridade e ficarmos encantados com o pecado e não conseguirmos manter a aliança com o Senhor, que, por sinal, nunca viola a Sua aliança conosco, certo? Nunca.

E devo acrescentar que em algum lugar na operação da Nova Aliança ainda há o princípio de que se você obedece, o Senhor irá te abençoar, e se você não obedece, sofrerá castigo, disciplina. E Deus vai manter sua aliança perfeitamente.

Autodisciplina começa quando você entende que não é dono de si mesmo, mas que pertence a Deus e que você deve ter integridade suficiente para ser fiel à promessa de obediência que fez a Cristo. Vou dar um terceiro princípio para esta manhã e então nós vamos acabar. E este é também um princípio espiritual muito importante.

Terceiro: você deve reconhecer todo o pecado como uma violação de um relacionamento. Quando pecamos, não ocorre apenas a quebra de um credo, de um código, não estamos apenas a pecar contra a igreja, ou contra a liderança, ou uma instituição. Mas, quando pecamos, estamos pecando contra uma pessoa.

Voltemos ao texto de 1 Pedro 1 e vamos para o versículo 14: “Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância.” Versículo 17: “E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação.”

Se você é um filho de Deus, aja como tal. Não viole essa relação. Quer dizer, isso é o cerne da experiência cristã. “Aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele.” (1Co. 6:17). Cristo está indissociavelmente ligado ao seu próprio povo, de modo que,  se nós pecarmos, unimos  Cristo, por assim dizer, ao pecado.

Primeira Coríntios diz que se você se juntar com uma prostituta, você estará juntando Cristo com uma prostituta, ou seja, você peca contra Ele de maneiras assustadoras … maneiras assustadoras.

O pecado tem implicações em todos os tipos de direções, mas o pecado é primariamente contra Deus. É a violação de um relacionamento.  É tão importante ensinar essa verdade. E é tão importante entendê-la.

Quando você está criando os seus filhos, é importante que eles compreendam que você é a autoridade. Eles devem saber que têm que te respeitar, amar, reverenciar, honrar e temer. E eles precisam ter um temor saudável e salutar de violar essa relação.

Eu posso entender quando um pai diz a seu filho que está vivendo em rebelião, em desobediência, vivendo uma vida de pecado, sem respeito ou honra para com seus pais: ‘Eu te amei, eu me importava com você, eu alimentei você, te vesti, apoiei você, eu te trato com gentileza e carinho, eu te ensinei, eu protegi você, não é demais pedir que você me respeite, honre e obedeça?’

Isso é essencialmente o que quebra o coração de um pai. Não é que seu filho apenas tenha quebrado uma regra. Mas é que seu filho desprezou a relação, o relacionamento com seu pai, certo?

Seu filho fez pouco caso do relacionamento e não faz questão de ter um relação amorosa, significativa com seu pai. Isso é o que esmaga o coração do pai. Não é a violação de um código, é a violação de um relacionamento.

Seus filhos precisam saber o quão importante é esse relacionamento. Patricia e eu estávamos conversando outro dia – pois temos conversas ainda sobre o passado na criação de nossos filhos -, olhando para trás ao longo dos anos e tentando avaliar quão fiel e como maravilhosamente Deus trabalhou na vida de nossa família para que pudéssemos incentivar outras pessoas.

E nós estávamos falando sobre o fato de que os nossos filhos cresceram com temor para conosco. Creio que o amor foi equilibrado. Era uma relação de amor e temor. E Patricia me disse que estava tendo uma conversa com um dos nossos filhos outro dia e ele revelou que muitas vezes não fez o que não deveria fazer, quando era criança e jovem, por medo de nos desapontar e nos ferir como pais. E, esse temor depois foi transferido para com Deus. Eles aprenderam a temer a Deus, primeiramente temendo a nós.

Eu entendi o que nosso filho quis dizer. Eu também cresci em uma família assim. Eu não podia suportar sequer pensar que pudesse fazer algo que trouxesse desonra para os meus pais, ou que fizesse perder sua confiança em mim, ou causar vergonha a eles, ou fazer pouco caso de seu amor por mim, ou ser ingrato.

Quero dizer, seria uma experiência esmagadora para mim, se tivesse que experimentar o desgosto dos meus amados pais. E eu temia a sua autoridade com um medo saudável. Então, esse tipo de relacionamento, esse temor reverencial, é o mesmo que temos que ter em relação a Deus.

Eu não quero violar o meu relacionamento com Ele. Deixe-me dar uma ilustração disto em Filipenses 2. Eu não quero dizer ao Senhor que O amo e depreciá-Lo pela minha indiferença,  falta de respeito ou desonra. Não pode ser uma declaração de amor da boca para fora.

Em Filipenses, Paulo tem algumas exortações para fazer e elas são muito fortes, muito fortes. Uma delas está no verso 2: “Completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa.” Ele está realmente chamando a igreja para a unidade, a parar com o pecado de facções, parar com o pecado das separações.

E, em seguida, no verso 3: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” Versículo 4: “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” Ele está realmente dando alguns comandos muito fortes.

Versículo 14: “Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas.” Eles estavam discutindo, resmungando, queixando-se, eram orgulhosos, vaidosos, egoístas. Quer dizer, era uma igreja típica, eu acho que, de certa forma, todas essas batalhas eram travadas  lá.

Mas, note como ele começa o capítulo antes de  entrar nesses comandos: “Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões…” (v. 1). O que você está dizendo, Paulo?

Aqui está o que ele está dizendo: ‘ter Cristo não quer dizer nada para vocês? Ter o Espírito Santo não significa nada para vocês? Cristo tem trazido encorajamento, consolo, ajuda e conselho? Ele lhes trouxe o conforto de Seu amor, o cuidado gentil, a ternura, o perdão, a graça, a misericórdia de Sua profunda afeição? Será que a comunhão do Espírito Santo, que Cristo providenciou para vocês, significa alguma coisa?’

‘Aquilo que vocês desfrutam através da obra do Espírito na regeneração, santificação, segurança ,oração, dons espirituais, ensino, significa alguma coisa? E quanto ao carinho, compaixão, misericórdias que vocês têm recebido, será que isso significa algo? Significa alguma coisa o fato de que Cristo tem incentivado vocês, ajudado, aconselhado? Será que isso significa alguma coisa? Ou vocês podem simplesmente virar as costas para tudo isso com indiferença?

Veja, o ponto central desse versículo 1, capítulo 2 de Filipenses é que todos estes ‘se’ fluem de um modo a nos lembrar da nossa relação com Cristo, para nos alertar de como temos enxergado o pecado, se reconhecemos que o pecado é uma violação de um relacionamento (nosso com Deus) e não apenas a violação de uma regra. E o pecado coloca esse relacionamento em risco quanto à sua alegria e realização.

Quando meus filhos desobedecem e desprezam meu amor, violam nosso relacionamento e se rebelam, eu não deixo de ser seu pai, mas a relação é terrivelmente ferida. Você tem que ver o pecado como aquilo que devasta o seu relacionamento com Deus.

Veja o caso de Davi, no Salmo 51. Ele tinha cometido adultério com Bate-Seba, que era a esposa de um homem chamado Urias, e até mesmo a engravidou. E, em seguida, querendo tirar Urias para fora do caminho, tramou para que ele fosse colocado em uma situação muito vulnerável no campo de batalha e isso foi responsável por seu assassinato.

Davi pecou contra Urias. Ele pecou contra Bate-Seba. Ele pecou contra a nação Israel. Ele pecou contra os seus próprios filhos, que tiveram um exemplo ruim vindo do pai, sendo que um deles, Absalão, até mesmo liderou um golpe contra seu pai, a fim de tentar destroná-lo.

Davi pecou em muitas direções diferentes, mas isso é o que ele diz no Salmo 51, quando  confessa seu pecado: “Contra ti, contra ti somente pequei“. E sua perspectiva estava correta. A lista dos ofendidos empalidece em comparação a pecar contra Deus. Todo pecado deve ser visto como uma violação de um relacionamento. Isso é o que ele realmente é.

Como em 1 Tessalonicenses, capítulo 4, Paulo está falando sobre imoralidade, pecado sexual, paixão lasciva, e ele não apenas está alertando para não cometê-los. Mas, adverte seriamente que se você rejeitar esse alerta, você não estará rejeitando o homem – versículo 8 – mas, a Deus, que nos dá o Seu Espírito Santo.

Agora, por que ele disse isso? O Deus que tem sido tão bom e que te deu o melhor presente possível, que é o Espírito Santo, o que mais poderia Deus dar-lhe já que deu o Espírito Santo para fixar residência em sua vida, para selar você para a glória eterna, para santificá-lo? Quer dizer, o Espírito Santo é o maior presente que Ele nos dá.

O Espírito Santo é aquele que nos regenera, que nos faz novas criaturas, que nos dá a promessa da vida eterna e mantém isso. O Espírito Santo é a força da nossa perseverança. O Espírito Santo é a fonte de toda nossa aprendizagem e compreensão da Palavra de Deus. O Espírito Santo é a fonte da nossa esperança.

Assim, o que Paulo está simplesmente dizendo no verso 8 de 1Tessalonicenses 4 é que se você rejeita tudo isso e vai cometer imoralidade sexual, você está basicamente dizendo a Deus: ‘eu não ligo para o que Tu fazes por mim e vou fazer o que eu quero fazer’. E você está violando um relacionamento com alguém que lhe deu o melhor que o céu tem a oferecer.

Vejam o pecado pelo que ele é, amados, é uma violação de um relacionamento. Ora, estes são elementos importantes no início,  a fim de puxar as pontas soltas de seu pensamento, a fim de viver uma vida autodisciplinada.

Vamos orar.

Pai, obrigado novamente pelo lembrete da importância, da urgência de viver uma vida disciplinada. E nós queremos começar com as pequenas coisas da vida e começar a puxar todas as pontas soltas e pô-las em ordem. E, Senhor, queremos fazê-lo pelas razões certas, ou seja, para Tua honra e glória. De coração, ajuda-nos a lembrar que o Senhor nos possui e nos comprou pagando um grande e imenso preço, incalculável. Queremos olhar para trás, para a promessa de submissão que fizemos quando chegamos para Ti como pecadores trôpegos e tão ansiosos para sermos salvos. Faça-nos pessoas de integridade. E nós também, Senhor, queremos reconhecer que todo pecado é primariamente uma atitude que despreza um relacionamento, o mais maravilhoso relacionamento imaginável entre pecadores e um Deus santo. Pai, inicia-nos neste caminho de autodisciplina espiritual. Ajuda-nos a estabelecer essas prioridades, a lembrar que Tu nos possui, que nos comprou, a lembrar a nossa promessa de obediência e a considerar como nossos pecados Te ofendem. E que isto funcione como motivação para buscar desenvolver nossa disciplina, cingindo nossas mentes para a ação espiritual que Te trará glória, e manter as nossas prioridades. Obrigado novamente por este tempo maravilhoso, nesta manhã, em nome do Teu Filho. Amém.


Este sermão é uma série de 2:

A autodisciplina do cristão – 1
A autodisciplina do cristão – 2


Este texto é uma síntese do sermão “Fundamental Christian Attitudes: Self-discipline”, de John MacArthur em 01/12/1996.

Você poderá ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/resources/sermons/90-130/fundamental-christian-attitudes-selfdiscipline-part-1

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno 


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1 Response

  1. Rafaella disse:

    Muito bom. Preciso ler isto todos os dias. Como preciso de tudo isso em minha vida.

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