O chamado de Pedro – 3

Este texto é parte de uma série de 12 sermões sobre o chamado dos apóstolos. Veja os links dos demais textos no fim desta página.

Pelo limitado tempo que temos, vamos ver hoje apenas algo como “migalhas” daquilo que poderíamos ter plenamente. Mas acho que seremos abençoados profundamente pelo Senhor.

Em Lucas 6:12-16, somos apresentados aos doze apóstolos, escolhidos entre aqueles que seguiam a Jesus. Alguns desses seguidores foram diretamente chamados por Jesus, outros vieram voluntariamente.

Vimos que ‘discípulo’ quer dizer ‘aprendiz’. Ou seja, um grupo de aprendizes seguia a Jesus. Vimos também que ‘apóstolo’ era uma palavra bem conhecida dos judeus, e significava alguém que representava oficialmente outra pessoa, levando consigo toda a autoridade e mensagem do representado.

Jesus escolheu um grupo de homens para levar a frente sua obra, quando Ele não mais estivesse na terra.

E assim, aqui estamos no capítulo 6 de Lucas, no momento em que o Senhor Jesus começa o estágio dos doze. Até o capítulo 6, Lucas tratou do nascimento até o primeiro ano do ministério de Jesus (divididos em longos capítulos), e o restante de seu Evangelho é ocupado com os últimos dois anos.

Aqui Jesus chama aqueles escolhidos para seguirem a diante com Sua obra. Havia um tempo limitado para prepara-los, antes da cruz.

Lucas 6
12 E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus.
13 E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos:
14 Simão, ao qual também chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu;
15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote;
16 E Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.

Aí você tem os doze. Eles já tinham crido Nele, com exceção de Judas Iscariotes, que tinha apenas aparência. Agora, eles iniciariam um treinamento especial. Como Marcos 3:14 diz: “Para estar com Ele”.

Ele os puxou para fora da multidão, e em tempo integral os preparou para serem Seus enviados oficiais, Seus apóstolos. Eles eram homens comuns, nenhum deles era proeminente, conhecido ou com alguma projeção social, religiosa. Eles eram os mais comuns do comum.

Não só eles eram o mais comum do comum, mas também eram deficientes em discernimento e compreensão espiritual, em humildade, na fé, no compromisso, e em poder.

O Senhor tinha um trabalho tremendo a fazer para transformá-los em apóstolos e, então, eles virariam o mundo de cabeça para baixo.

Agora, o líder deste grupo de doze discípulos é claramente um homem chamado Simão, a quem Jesus também chamou de Pedro. Ele é identificado como o primeiro, o ‘protos’, o protótipo, o apóstolo líder, em Mateus 10: 2. É claro, que ele é o líder. Nas quatro listas dos apóstolos, citadas em Mateus, Marcos, Atos e Lucas, sempre seu nome é que está em primeiro lugar. Ele é o líder.

Mas ele não era ainda o líder que o Senhor queria que fosse. Houve um processo que se passou na vida de Pedro para molda-lo a ser o que o Senhor queria que ele fosse. E nós temos aprendido um pouco sobre esse processo.

Como vimos, para fazê-lo um líder, tinha que haver três elementos.

O primeiro é a matéria-prima

Líderes nascem e depois são moldados. Mas eles precisam ter isto em seu DNA. E então, é claro, deverão ser moldados adequadamente.

Sempre houve esse debate se uma pessoa é o que é simplesmente ou se o que ela é depende do seu no meio ambiente. No que se refere aos líderes, há uma questão sobre o que pesaria mais na sua liderança, se seria sua genética ou sua formação. E eu certamente não estou aqui para responder esse dilema.

Sei que nenhuma pessoa será o que ela pode ser, em qualquer sentido, sem a formação adequada. Pedro tinha a matéria-prima de um líder: curiosidade, iniciativa, envolvimento.

Ele também precisava das experiências certas.

E na semana passada, vimos como o Senhor trouxe em sua vida o ambiente necessário, as experiências necessárias, arrastou-o através do tipo de coisas na vida que moldam uma pessoa. E através de uma série de experiências, Pedro aprendeu lições absolutamente críticas para a sua futura liderança.

Ele aprendeu que não dependeria de uma mensagem humana, mas da mensagem que receberia de Deus. Ele aprendeu que Deus iria usá-lo para uma influência sobrenatural.

A ele seria dado as chaves do reino, ou seja, sua vida e a mensagem que ele pregaria, recebida de Deus, teria um impacto tal, que iria desbloquear o reino de Deus, para que homens e mulheres pudessem entrar nele.

A maior possível influência que alguém pode ter sobre o planeta é ser usado por Deus para abrir a porta da vida eterna. Ele teria essa influência.

Assim foi para com os judeus, após o Pentecostes (Atos 2) e para com os gentios, a partir da casa de Cornélio (Atos 10).

Ele também teria que aprender, com a experiência, que poderia estar vulnerável a Satanás. Ele poderia alternar momentos falando o que vem de Deus e, em outros, o que viesse de Satanás.

Foi assim em Mateus 16, quando ele declarou sobre Jesus: “Tu és o Cristo, o filho do Deus Vivo”. Jesus lhe disse que tal verdade havia sido revelada do Pai para ele. Pedro estava proclamando uma verdade vinda de Deus.

Mas, quando Jesus falou da cruz, ele repreendeu o Senhor. Então, Jesus lhe disse que ele estava falando da parte de Satanás.

Ele também aprendeu, pela experiência, que era humanamente fraco e não podia confiar em sua própria vontade, força e determinação.

Ele havia dito que jamais negaria ao Senhor, ainda que todos fizessem isto. E ele o negou de forma tenebrosa. Ele aprendeu quão frágil a sua carne era e quão vigilante, cuidadoso e dependente de Deus deveria ser.

Mas, ele também aprendeu que, apesar de sua tendência a superestimar sua força, apesar de sua própria fraqueza real, a despeito de sua disponibilidade a Satanás, o Senhor queria usá-lo.

E, mesmo depois de todas as suas fraquezas, falhas e deserções, foi o próprio Senhor que o encontrou lá em João 21, pela costa do Mar da Galileia, e o recomissionou para o ministério, usando-o poderosamente a partir dali.

Como eu disse da última vez, Deus tem apenas essas pessoas a usar, porque todos nós somos assim. Ele tem apenas os fracos e os vulneráveis. Por isso, Ele tem que fazer algo do nada, e isso é o que Ele fez com Pedro e é isso que faz com todos nós.

E assim, na construção de um líder nas mãos do Senhor, têm que existir a matéria-prima correta e as experiências certas.

O terceiro elemento: deve haver o caráter certo

Entenda simplesmente que o caráter correto leva as pessoas a te respeitar, a confiar em você e a te seguir. Caráter faz a liderança possível e consistente.

Ausência de caráter inviabiliza a liderança. Tudo o que um líder sem caráter pode realizar é fazer com que outras pessoas sem caráter se sintam melhores acerca si mesmos.

A verdadeira liderança, no sentido mais puro, tem caráter correto e caráter produz respeito e respeito produz confiança e confiança produz seguidores.

Se você olhar para os traços, humanamente reconhecidos em um líder, você vai ouvir palavras como: confiável, respeitável, altruísta, humilde, consistente, autodisciplinado, autocontrolado, corajoso.

Esses traços são um reflexo da imagem de Deus no homem. São atributos de Cristo. Como homem, Jesus foi perfeitamente confiável, respeitável, altruísta, humilde, consistente, autodisciplinado, autocontrolado, perfeitamente corajoso e com perfeita integridade.

Então, se é para ser um líder espiritual, o objetivo é trazer as pessoas para a semelhança de Cristo. Deve o líder, portanto, ser um exemplo nessas virtudes.

É por isso que o padrão para a liderança na igreja é tão alto (veja I Timóteo 6, Tito 1). O objetivo espiritual de toda a liderança espiritual é a semelhança de Cristo. Portanto um líder deve ser capaz de dizer: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo” ( I Coríntios 11:1).

Uma liderança humana é caracterizada por autoconfiança. Uma liderança espiritual é caracterizada pela confiança em Deus e ausência de confiança em si mesmo.

Para a liderança natural, olhamos para alguém que conhece as pessoas. Na liderança espiritual, procuramos alguém que conhece a Deus.

Na liderança natural, queremos alguém que tome suas próprias decisões. Na liderança espiritual, queremos alguém que procure conhecer a vontade de Deus.

Na liderança natural, queremos alguém que seja ambicioso. Na liderança espiritual, queremos alguém cujo único desejo na vida é que Deus seja glorificado.

Na liderança natural, queremos alguém que faz seus próprios planos e métodos, um pensador original. Na liderança espiritual queremos alguém que entende a Palavra de Deus e a obedece.

Na liderança natural, queremos alguém que gosta de comandar outros. Na liderança espiritual, queremos alguém que se alegra em servir aos outros.

Na liderança natural, queremos alguém motivado por considerações pessoais, motivado pelo sucesso. Na liderança espiritual, queremos alguém motivado pelo amor a Deus.

Na liderança natural, queremos alguém que seja independente. Na liderança espiritual, queremos alguém que seja totalmente dependente de Deus

Uma grande diferença! Então, o que eu estou falando com você aqui não é sobre liderança natural.

O líder precisa ter a matéria-prima. E Pedro tinha. Mas, ele foi moldado pelas experiências que o Senhor permitiu que chegassem a ele e, através delas, houve o desenvolvimento do caráter.

O caráter é fundamental em qualquer lugar, mas é mais crítico na liderança espiritual, porque a meta de toda liderança espiritual é a semelhança de Cristo e, se você estiver na posição de querer mover as pessoas em direção a ser como Cristo, você tem que ser um padrão para elas.

Como cristãos, temos que viver para nos parecer com Cristo. E, assim, os líderes da igreja devem ter isso como seu objetivo e padrão, pelo qual eles vivem suas vidas.

Pedro seria usado pelo Senhor, ele precisava se tornar o homem a quem o Senhor poderia usar. Ele precisava desenvolver o carácter certo e as virtudes certas.

Vejamos alguns pontos importantes do caráter de um líder, segundo o Senhor

Primeiro: Uma liderança espiritual deve ser caracterizada pela submissão.

O líder tem que ser submisso. Isso é contrário à definição do mundo, que diz: um líder natural tem de ser dominante, predominante.

No reino espiritual, precisamos aprender a submissão, porque tudo o que fazemos como líderes espirituais é em submissão a Deus, à Sua Palavra, ao Seu plano, ao Seu Espírito, ao Seu propósito.

Os líderes naturais tendem a ser autoconfiantes, dominantes, ansiosos e agressivos. E Pedro tinha isto nele. Ele falava e agia rápido. Ele era o homem que estava no comando. Ele poderia pegar o touro pelos chifres, certo, errado ou indiferente. E Jesus teve que ensiná-lo a submissão.

Há uma série de maneiras pelas quais Pedro aprendeu a submissão. Em Mateus 17:24-27, temos um exemplo bastante interessante. Cafarnaum era cidade natal de Pedro. E quando eles chegaram lá, um coletor de impostos perguntou a Pedro se Jesus não pagaria o imposto a Roma.

Pedro responde que “sim”. Mas isto foi um problema para Pedro. Os judeus odiavam Roma e seus impostos. Ele deve ter pensando: ‘Por que nós e o Messias, o Filho de Deus, devemos pagar impostos a um reino idólatra?’

Antecipando-se à pergunta de Pedro, Jesus disse-lhe: “Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra os tributos, ou o imposto? Dos seus filhos, ou dos alheios?”.

Pedro responde: “Dos estranhos”. Jesus então disse-lhe: “Logo, estão livres os filhos”. Ou seja, Ele disse, em outras palavras: ‘Se Deus é o Rei de tudo, e se somos filhos de Deus, deveríamos estar livres de tudo isso, certo Pedro?’

Mas, Jesus acrescentou que para não dar motivo a escandaliza-los, deveria pagar e assim fez. Mesmo que o Senhor não fosse obrigado, Ele buscou sempre trilhar um caminho de perfeita justiça.

De uma forma sobrenatural, Jesus providencia o valor a ser pago por Ele e por Pedro, e então diz a Pedro para pagar. Agora, isso foi um pouco confuso para Pedro. Ele inicialmente pensou que Jesus estava concordando com ele e deve ter se animado com as primeiras palavras de Jesus.

Mas a conclusão da fala de Jesus o surpreendeu, e ali ele estava aprendendo uma tremenda lição. Bem, o Pedro moldado por Cristo foi inspirado a escrever estas palavras:

Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem. Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao rei (I Pedro 2:11-17).

O Pedro de Mateus 17 é diferente do Pedro de Atos e das suas epístolas. A única explicação para isso é que houve enorme metamorfose na vida deste homem.

No início de sua primeira epístola, ele se dirige aos “estrangeiros”, ou seja, crentes espalhados por todo o Império Romano. Aqui ele os chama para se “sujeitarem a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior…”.

Ele alerta para que a vida deles não cause qualquer escândalo ou um impedimento ao Evangelho. Ensina a submissão ao rei (ou seja, a Roma). E nisto estava incluso o pagamento dos impostos.

Concluímos que Pedro aprendeu a submissão. Jesus o havia ensinado, em outras palavras: ‘Você é livre. Você é livre de leis humanas e reinos humanos em um sentido, mas não use isso como uma maneira de encobrir a sua ganância. Faça o que é certo para honrar a Deus’.
A submissão às autoridades lhe ensina a se submeter ao que é de Deus. Ele completa dizendo isto:

Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos Senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus. Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas”(I Pedro 2:18-21).

Em segundo lugar, Pedro teve que aprender a contenção.

No conceito humano, a raiva é um elemento da liderança. Eu não sei se você leu alguma coisa sobre liderança, de vez em quando eu leio isso.

Hoje, há um amplo movimento chamado de “gestão da raiva”, porque os líderes estão com raiva o tempo todo, devido aos muitos desafios e suas adversidades.

E a raiva é vista como um motivador para se alcançar metas. O líder não estará contido até alcançar suas metas. A raiva, então, desempenha um importante papel. Neste processo, seus casamentos são destruídos, pois eles levam para casa toda a pressão que isto lhes acarreta.

Isso era verdade com Pedro, em João 18. Uma multidão vem prender Jesus. Pedro fica irritado, saca uma espada e parte para cima daquela multidão.

A primeira vítima, provavelmente por estar na frente, é Malco, o servo do Sumo Sacerdote. É de se suspeitar que Pedro quis lhe cortar a cabeça, mas ele se desvia e tem sua orelha cortada.

Pedro nem se deu conta que aquela multidão estava acompanhada de soldados romanos, prontos para o combate.

Jesus cura o homem golpeado (Lucas 22:51) e diz a Pedro: “Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mateus 26:52). Ou seja: ‘Não é assim que você deve lidar com as coisas!’

Pedro perdeu a paciência naquele ponto. Ele estava tão irritado com o que ia acontecer, que ele entrou em um comportamento irracional. Ele precisava aprender a se conter. Ele aprendeu esta importante lição:

Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente (I Pedro 2:21-23)

Às vezes temos que sofrer. Às vezes temos que ser levados cativos. Às vezes temos que ser colocados na prisão. Às vezes temos que ser executados.

E ele diz que, no caso de Cristo, Ele estabeleceu um exemplo, porque Ele estava sofrendo, mas nunca havia cometido pecado e nunca se achou engano em seus lábios. Ele era inocente.

Às vezes você não é culpado de nada, mas você está sendo humilhado e ofendido. Você está sendo contrariado e prejudicado. Talvez você esteja sendo preso, torturado ou perseguido.

Foi exatamente esta situação que Pedro viu Jesus sofrer e ter dado o exemplo a todo tempo.
Você está passando por uma situação e diz: ‘Isso não é justo, não é certo, eu não mereço isso, eu não fiz nada para receber isso’.

Agir como Jesus é uma atitude muito difícil para um líder desenvolver. Você quer agarrar sua espada e praticar uma autojustiça.

Mas, esse tipo de atitude precisa ser quebrada. Uma nova atitude, tal como Cristo ensinou e viveu, é parte do comprometimento com Deus. Pedro aprendeu a submissão e ele aprendeu a contenção.

Em terceiro lugar, ele teve que aprender a humildade

Humanamente é natural os líderes terem motivos para se orgulharem. Eles são seguidos, elogiados, louvados e admirados. E tal como pode acontecer com os líderes, Pedro tinha uma enorme quantidade de autoconfiança.

Ele disse: “Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei” (Mateus 26:33). Ou seja, ele está dizendo: “eu não como as demais pessoas”. Orgulho tremendo, autoconfiança.

Mas Pedro fracassou nisto. Ele teve que aprender a não confiar em si mesmo. Ele teve que aprender a não se orgulhar.

E assim ele escreveu isto para os anciãos e pastores: “Revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte” (I Pedro 5: 5-6)

Ele aprendeu a submissão, ele aprendeu a contenção e ele aprendeu humildade.

Em quarto lugar, Pedro também aprendeu a amar

Normalmente líderes naturais não amam. As pessoas são um meio para seu fim. Eles usam as pessoas. Eles estabelecem as pessoas em uma estrutura para atingir seus objetivos.

Isto pode até mesmo ocorrer na igreja, onde as pessoas podem ser simplesmente como peões no tabuleiro de xadrez, um meio para um fim. Os líderes tendem a ter tarefas orientadas ao invés de pessoas orientadas. Pedro precisava aprender o amor e o Senhor o ensinou.

Em João 13, Jesus e os apóstolos tinham vindo para jantar no cenáculo que tinham alugado para a noite de Páscoa. Eles estavam em Jerusalém. Jesus seria traído naquela noite por Judas.

E naqueles dias as estradas eram barrentas e empoeiradas. Eles estavam com os pés sujos. E o costume comum era que quando você entrasse em uma casa para uma refeição, o mais baixo dos servos viria lavar seus pés. Era o menos desejável de todos os trabalhos.

O próprio Jesus levantou-se da ceia, deixou de lado suas vestes, pegou uma toalha, enrolou-a em torno de si mesmo, colocou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e os enxugou com a toalha com que estava cingido.

Ele assumiu o papel do mais baixo dos baixos escravos. Ele está lavando os pés sujos daqueles homens. Mas, você sabe o que aqueles homens estavam discutindo pelo caminho? Sobre qual deles era o maior. Jesus, então, faz o que nenhum deles faria.

Simão disse: “Senhor, tu lavas-me os pés a mim?”. Eles ficaram chocados com o que Ele estava fazendo. Ou seja, ele diz: ‘O que você pensa que está fazendo?’. Este é novamente o ousado e corajoso Pedro.

Jesus respondeu, e disse-lhe: “O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois” .

Em suma, ele estava dizendo: ‘Você acha que isso é humilhação demais para mim, mas você não viu nada. Espere até ver-me preso, escarnecido, cuspido e coroado com espinhos e crucificado. Você ainda não compreendeu a humilhação.’

Bem, Pedro responde: “Nunca me lavarás os pés”. Como se dissesse: ‘Eu realmente não sei sobre isso, mas nunca me lavarás os pés’.

Isto é Pedro. O mestre das afirmações absolutas: ‘Eu nunca vou te negar. Eu morreria por ti. Você nunca vai lavar os meus pés’. Jesus lhe disse: “Se eu te não lavar, não tens parte comigo”. Ou seja: ‘Paramos por aqui todo o relacionamento que eu tenho contigo’.

Pedro responde: “Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. Ou seja, ‘Eu quero o relacionamento contigo’. Este é Pedro mais uma vez. Não há meio-termo com ele. Ele é o primeiro homem a sair e o primeiro a entrar.

Jesus estava mostrando que se ele não pudesse aceitar sua humilhação, sua cruz, não poderia haver um relacionamento entre Ele e Pedro.

E Jesus disse: “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos”.

Isso é uma espécie de símbolo espiritual aqui. Você tomou seu banho para o dia. Estou apenas limpando seus pés para que possamos comer.

O mesmo é verdade espiritualmente. Você foi lavado, você foi convertido, salvo, mas você precisa deste lava-pés diário que eu quero dar a você.

[Embora salvos, temos contato diário com este mundo perdido no maligno, e sempre precisamos nos limpar daquilo que nos contaminou pelo caminho. São os pés que estão em contato com o chão].

Então, Jesus lavou todos os pés de todos eles, incluindo os de Pedro. Em seguida identificou Judas como um traidor, que, tomado por Satanás, saiu para consumar seu miserável intento.

Então Jesus disse-lhes: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (V.34-35).

Eles estavam discutindo quem seria o maior entre eles. Jesus colocou-se na posição de servo, lavou-lhes os pes e os ensinou a amar uns aos outros da mesma forma que Ele os amava.

Um amor de humilhação a si mesmo e servindo ao outro nas coisas mais baixas na escala de valores humanas. Um amor que não busca a proeminência. É difícil para os líderes lavar os pés dos que estão, humanamente, abaixo deles. Mas, é exatamente isto que os faria conhecidos como Seus discípulos.

Pedro aprendeu a amar? Em 1 Pedro 4:8 ele escreveu: “Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados”.

No grego, o sentido é amar aos outros até o limite máximo de sua capacidade. Não se trata de emoções, sentimento. Não é sobre ser amável.

Você tem que amar aqueles com os pés sujos e lhes lavar os pés. É algo sublime, acima de qualquer conceito humano. Pedro aprendeu isso. E assim ele ensinou a todos os crentes.

Em quinto lugar, outro atributo maravilhoso que Pedro precisava aprender era a compaixão

No momento em que Pedro disse “Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte” (Lucas 22:33), o Senhor disse-lhe: “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos peneirar como trigo” (Lucas 22:31).

Oi seja, ‘Satanás vai te segurar como se segura um feixe de trigo. Ele vai te sacudir, assim como o trigo é sacudido para ser purificado, para que a palha voe para longe e apenas o grão seja armazenado. Você será sacudido! Mas, vou deixar que isso aconteça, de modo que quando você sair dessa, possa fortalecer os outros.’

O que foi isso? Bem, os líderes tendem a ser deficientes quanto à compaixão e são fracos como consoladores. Eles tendem a ser impulsionados pelas metas e pelos objetivos. Eles não param muito tempo para cuidar dos feridos. Pedro precisava aprender alguma coisa.

O Senhor poderia ter dito a Pedro: ‘Eu não vou deixar Satanás fazer isso com você, seja forte’. Mas Jesus não agiu dessa forma. Ele disse:

Eu vou permitir que Satanás faça isso com você. Que ele te sacuda nos fundamentos da sua vida, que peneire você como o trigo, para que reste apenas o grão. Vou permitir que ele sacuda você até não haver mais nada em você, a não ser a realidade de tua fé. Tua fé não vai fracassar. Eu te prometo que a fé salvífica é um dom de Deus para a eternidade, por isso ela não poderá fracassar. Mas, você precisa ser sacudido até restar apenas o núcleo, o grão, a verdadeira fé.

Por quê? ‘De modo que quando isso tudo acabar, você possa fortalecer os irmãos’. O que isso significa?

Isso significa que para o resto da sua vida ele teria compaixão de pessoas que lutam, de pessoas que pensam que são mais fortes espiritualmente do que realmente são. Ele teria compaixão de pessoas que lutam com a tentação, dúvidas e pecado.

Os líderes precisam disso. Eles precisam ser compassivos, bondosos, amáveis, confortando aqueles que lutam com o pecado. Terrível ver pessoas hipócritas brutalizando alguém que caiu em pecado, como se eles próprios não tivessem pecado.

Pedro aprendeu esta lição:

Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá ( I Pedro 5:8-10).

Como ele sabia disso? É que ele já tinha estado nesta posição. Este é um líder que entende a fraqueza humana. Este é um líder cujas debilidades foram jogadas na cara dele. E ele entendia o que os homens e as mulheres passam. Ele é como nosso Sumo Sacerdote, Jesus, que sabe o que é ser humano, e se compadece de nós (Hebreus 4:15).

Um líder espiritual como Pedro tinha que ser submisso, contido, humilde, amável, compassivo e corajoso.
Você deve ter coragem para ser um líder espiritual, porque você vai ter oposição.

O reino das trevas batalha contra o reino da luz. Mentiras são contra a verdade. Satanás é contra Deus. Os demônios são contra os propósitos sagrados de Cristo.

Em João 21, Jesus disse a Pedro: ‘Apascenta as minhas ovelhas. Isto vai lhe custar a vida. E sua morte me glorificará’. Bem, Pedro não apresentava muita coragem. Ele nega a Jesus na frente de vários grupos de pessoas. Mas, quando você entrar no livro de Atos, algo diferente aconteceu, e sério.

Quando ameaçado pelo Sinédrio, o mesmo que levou Jesus à cruz, para que não falasse mais no nome de Jesus, ele respondeu:

Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido (Atos 4:19-20).

Ou seja: ‘Devemos obedecer a vocês ou a Deus?’. E ele foi em frente e pregou. Ele não vacila. Ele está caracterizado pela coragem.

Estes são os componentes do caráter que eram necessários para fazer de Pedro o homem que Deus queria que ele fosse, para transformá-lo de Simão para Rocha.

Pedro aprendeu a submissão, moderação, humildade, amor, compaixão e coragem do próprio Senhor e da obra do Espírito Santo em seu coração. E ele se tornou um grande líder.

No livro de Atos temos que Ele foi o único que se moveu para substituir Judas por Matias (Atos 1). Ele foi o porta-voz da igreja no dia de Pentecostes. Ele fez sinais pelo poder do Espírito Santo. Juntamente com João, desafiou o Sinédrio.

Ele lidou com a hipocrisia de Ananias e Safira na igreja. Ele lidou com o problema de Simão, o mágico, curou Enéas, levantou Dorcas dos mortos, levou o Evangelho aos judeus, levou o Evangelho aos gentios.

Ele escreveu duas epístolas maravilhosas, 1 e 2 Pedro, nas quais cita as lições que ele tinha aprendido com o Senhor.

Ele era um homem perfeito? Não. Em Gálatas 2 ele agiu hipocritamente. Ele parou de comer com os gentios para tentar agradar os judaizantes. E Paulo o repreendeu (Gálatas 2: 11-13).

Não sabemos por que ele fez isso, poderia ser que ele estivesse tentando ser inofensivo… o que seria novidade para ele. E muito bom foi este registro, pois se tudo em Pedro tivesse se tornado perfeição, como nos identificaríamos com ele?

Mas, como terminou a história de Pedro? A tradição bem unânime da igreja primitiva nos diz que Pedro foi crucificado, como o Senhor previu que ele seria em João 21.

Mas, de acordo com Eusébio, um dos pais da igreja, em sua História Eclesiástica, antes que Pedro fosse crucificado, ele foi forçado a assistir a crucificação de sua amada esposa e teve que ficar no pé da sua cruz até que ela tivesse morrido.

Eusébio escreve que Pedro estava ao pé da cruz de sua esposa e repetia para ela: “Lembra-te do Senhor, lembra-te do Senhor, lembra-te do Senhor”.

Depois que ela morreu, é dito que ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, porque ele não era digno de morrer como o seu Senhor havia morrido. E ele foi crucificado de cabeça para baixo, porque ele não iria negar a fé.

A vida de Pedro poderia resumir-se nas últimas palavras da última carta que ele escreveu:

Crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém (II Pedro 3:18).

E isso é o que ele se tornou: Rocha, o grande líder da igreja.

Pai, Pedro poderia cantar o hino “Ó cruz levantada acima da minha cabeça, não me atrevo a pedir para voar e partir de ti, eu me deito no pó, a glória da vida morre. E no chão há flores vermelhas, a vida que deve ser interminável.”

Isso é tão verdadeiro em Pedro. Ele está morto, mas fluindo de sua morte, há vida para milhões de pessoas que já leram o registro de sua vida e de suas epístolas.

Quando nós o encontrarmos um dia, Senhor, na Tua presença, nós o encontraremos perfeito. Nós te agradecemos porque Tu fizeste dele o homem que ele se tornou na primeira vez que pregou e 3.000 pessoas foram salvas.

E, depois disto, ele pregou novamente e milhares mais foram convertidos. Sua história nos Evangelhos e suas epístolas continuam a dar frutos para a eternidade até hoje.

Agradecemos-Te que podemos ver neste homem um padrão pelo qual Tu constrois um líder. Tu construíste teu próprio líder para liderar os Doze na tarefa mais formidável, humanamente impossível e divinamente crítica, que já foi confiada aos homens.
Nós agradecemos por ter nos mostrado como Tu podes escolher os mais comuns do comum e virá-los de cabeça para baixo para que eles possam virar o mundo de cabeça para baixo.
Usa-nos poderosamente, nosso Pai, como Tu quiseres. Em nome do Salvador. Amém.


Esta é uma série de 12 sermões sobre o chamado dos apóstolos

01. O chamado dos doze apóstolos
02. O chamado de Pedro (Parte 1)
03. O chamado de Pedro (Parte 2)
04. O chamado de Pedro (Parte 3)
05. O chamado de André e Tiago (irmão de João)
06. O chamado de João
07. O chamado de Filipe
08. O chamado de Natanael (Bartolomeu)
09. O chamado de Mateus e Tomé 
10. O Chamado de Tiago (filho de Alfeu), Simão (o zelote) e Judas Tadeu 
11. O chamado de Judas Iscariotes – Parte 1
12. O chamado de Judas Iscariotes – Parte 2


Este texto é uma síntese do sermão “Common Men, Uncommon Calling: Peter, Part 3”, de John MacArthur, em 03/06/2001.

Você poderá ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

http://www.gty.org/resources/sermons/42-74/common-men-uncommon-calling-peter-part-3

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


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1 Response

  1. osman santos da Silva disse:

    Temendo este texto!

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