O Poder de Uma Vontade Rendida

“O poder pertence a Deus” (Sl 62.11), contudo há uma condição sob a qual esse poder é concedido a nós: rendição absoluta a ele.

“Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça” (Rm 6.13).

Novamente, em Romanos 6.22, lemos: “Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna”.

O grande segredo da benção e do poder está descrito nesses versos. “Oferecei-vos [rendei-vos] a Deus” – o segredo inteiro está contido nessas palavras. A palavra traduzida como oferecer na versão Atualizada aparece como apresentar em diversas outras. Significa colocar-se à disposição de alguém. “Coloque-se à disposição de Deus” é a ideia. Em outras palavras, coloque-se em rendição absoluta a Deus, para ser propriedade dele, para que ele faça com você o que ele quiser e o use como ele desejar.

Se alguém perguntar: “Qual é a única coisa que devo fazer se tenho o desejo de conhecer tudo o que Deus tem para mim?”, a resposta é muito simples: renda-se absolutamente a Deus. Diga a ele: “Pai Celeste, daqui em diante não tenho mais vontade própria. Tua vontade será feita em mim, através de mim, por mim e a meu respeito em todas as coisas. Eu me coloco incondicionalmente em tuas mãos – agora, faze comigo o que desejares”. Quando alguém faz isso, Deus, que é amor infinito, sabedoria infinita e poder infinito, faz o que há de melhor com aquela pessoa.

Uma vontade rendida traz conhecimento da verdade

O conhecimento da verdade vem com a rendição da vontade. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é e Deus, ou se eu falo de mim mesmo…” (Jo 7.17). Nada torna a visão espiritual tão clara quanto a rendição da vontade a Deus. “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (1 Jo 1.5).

Render-se a ele abre os nossos olhos para ver a luz que é ele próprio. Isso nos coloca de uma só vez em harmonia com toda a verdade.

Nada cega a visão espiritual tanto quanto a vontade própria ou o pecado. Já vi perguntas que incomodaram pessoas por anos e que foram respondidas prontamente quando elas simplesmente se renderam a Deus. O que antes era escuro como a noite se tornou claro como o dia. “Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas”… (Mt 6.22-23).

Vida e vontade rendidas é o segredo da luz e do conhecimento. Muitos homens me confidenciaram que estavam vagando na escuridão, sem saber no que acreditavam e duvidando se acreditavam em alguma coisa. A essas pessoas, eu sempre pergunto: “Você não quer render sua vontade a Deus? Renda-se a Deus para que ele faça com você o que ele quiser!” E quando fizeram assim, todos, sem exceção, disseram: “Minhas dúvidas se foram, todas as incertezas sumiram, minha escuridão desapareceu. Tudo é luz agora”.

Uma vontade rendida traz poder na oração

O próximo resultado de render a vontade e a vida é poder na oração. A maior chave da oração que prevalece é aquela que João relata de sua própria experiência jubilosa em 1 João 3.22:

E aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos diante dele o que lhe é agradável.

Preste atenção nessas maravilhosas palavras. “Aquilo que pedimos, dele recebemos.” Pense nisso! Nenhuma oração, grande ou pequena, deixa de obter o que foi solicitado. Veja, também, a razão para isso: “Porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos diante dele o que lhe é agradável.” Uma vida inteira rendida à vontade de Deus, conforme revelada em sua Palavra, fazer diante dele o que lhe é agradável, ter uma vida completamente rendida ao prazer e à vontade de Deus, completamente à disposição dele – esse é o segredo da oração que prevalece.

Você se pergunta por que não recebe o que pede, por que não pode dizer como João que “tudo o que peço, recebo”? Não é porque ele era um apóstolo, e você apenas um cristão comum. É porque ele tinha condições de dizer: “eu guardo os seus mandamentos e faço as coisas (e apenas tais coisas) que lhe são agradáveis”. E você não pode dizer isso. É porque a vida de João estava completamente rendida a Deus, e a sua, não.

Muitas pessoas ficam confusas porque suas orações parecem nunca chegar aos ouvidos de Deus, mas caem impotentes de volta à terra. Não há mistério nisso. É porque você ainda não cumpriu a grande e fundamental condição da oração que prevalece – uma vontade rendida, uma vida rendida.

É quando fazemos da vontade de Deus a nossa que ele faz da nossa vontade a dele. “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl 37.4).

Jesus disse ao Pai: “sempre me ouves” (Jo 11.42) Mas, por quê? “Oh”, você diz, “porque ele era seu único Filho.” De forma alguma; era porque Jesus podia dizer: “Eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.38). E, novamente: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou…” (Jo 4.34). Ainda outra vez: “Para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10.7).

Render a vontade e a vida a Deus é o grande segredo da oração que prevalece. George Müller talvez se destaque como um homem que, acima de todos os outros, realizou grandes coisas por meio da oração. Por quê? Porque, no início de sua vida, ele decidiu ser e fazer apenas aquilo que Deus queria que ele fosse e fizesse e a ponderar profundamente, todos os dias, na Palavra de Deus para poder conhecer a sua vontade. Ele se rendeu a Deus. Não há ninguém que não possa se tornar um poderoso príncipe de Deus se fizer a mesma coisa.

Uma vontade rendida traz plenitude de alegria

O terceiro resultado de uma vontade rendida é o coração transbordando de alegria. Diante da terrível tribulação e agonia pela qual em breve teria de passar, Jesus disse aos seus discípulos:

Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e no seu amor permaneço. Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo (Jo 15.10-11).

Jesus havia encontrado alegria em guardar os mandamentos de seu Pai e em render-se completamente à sua vontade. Agora, se os discípulos seguissem esse mesmo caminho, a alegria de Jesus estaria neles, e a alegria deles seria “completa”. Esse é o único caminho para encontrar plenitude de alegria: rendição completa e incondicional a Deus. “Rendam-se a Deus.” Não há muita alegria em uma vida cristã medíocre.

Muitos daqueles que se denominam cristãos só possuem religiosidade suficiente para torná-los miseráveis. Não conseguem mais apreciar o mundo e ainda não entraram na “alegria do Senhor”. Permanecem ali no meio do caminho, privados dos “pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos” do Egito e, também, sem o leite e o mel e o melhor do trigo de Canaã. Esse é um lugar miserável para se estar.

A saída é simples: rendição absoluta a Deus. Lá, sua alegria será completa.

Conheci muitos que entraram nessa plenitude de alegria. Algumas vezes, isso só aconteceu após uma grande luta interior. As pessoas têm muito medo de se renderem absolutamente a Deus, de dizer: “Oh, Deus, eu me coloco incondicionalmente em tuas mãos. Faze comigo o que quiseres”.

Geralmente, elas temem que Deus lhes peça algo muito difícil, de que diga aos seus ouvidos “China”, “Índia” ou “África” – e, às vezes, ele realmente chama para um lugar assim. Em alguns casos, é preciso fazer algo que o mundo considera um grande sacrifício, como desistir de ambições preciosas, entregar parentes ou entes queridos, abrir mão de grandes valores de dinheiro, talvez de tudo o que tinha. Mas, depois, o resultado é alegria, alegria “completa”, alegria ao máximo.

Em um caso que me recordo, havia muita dor na vida de uma pessoa que estava prostrada, com uma perna quebrada e engessada; ao mesmo tempo, havia alegria, tanta alegria transbordando que, mesmo sofrendo naquele leito, seus olhos dançavam, seu rosto brilhava, seu coração palpitava e ela gritava: “Glória, glória, glória!”

Há apenas uma maneira de encontrar plenitude de alegria: por meio de uma vida rendida. Quando a vontade e a vida estiverem completamente rendidas ao Deus do amor, a pessoa terá alegria em quaisquer circunstâncias. Em tempos antigos, aquele que se rendia a Deus era levado para ser queimado na fogueira, e ele jogava os braços para o alto no meio do fogo e gritava: “Seja bem-vinda, cruz de Cristo! Seja bem-vinda vida eterna!”

Uma vontade rendida traz Cristo a nós

O quarto resultado de uma vida rendida é Cristo se manifestando a nós. Na noite em que Jesus foi traído, ele disse aos seus discípulos: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”. (Jo 14.21)

A rendição do “eu” a Cristo traz Cristo a nós. A manifestação completa de Jesus será, de fato, naquele glorioso dia quando “o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus…” (1 Ts 4.16). Entretanto, há uma manifestação presente de Jesus para nós agora, quando o Filho e o Pai vêm a nós e fazem sua morada em nós (Jo 14.23).

Ele se manifestará a nós. Alguns dirão: “Eu não sei o que isso significa”. Você se rendeu a ele, está guardando os seus mandamentos, sem perguntar se o mandamento é grande ou pequeno, se é importante ou não, mas apenas procurando saber se é mandamento dele a fim de guardá-lo? Se está fazendo isso, você saberá o que é ele se manifestar a você, e o gozo que isso traz.

Em outro texto, lemos: “Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor” (Jo 20.20). Você se alegrará quando vir o Senhor, e você o verá quando for a ele e disser: “Eu rendo definitivamente minha vida a ti, agora, mostra-me a ti mesmo”.

Uma vontade rendida traz o Espírito Santo a nós

Finalmente, mais um resultado de render a vida e vontade é receber a grande chave da vida cristã, o Espírito Santo. Pedro nos relata em Atos 5.32: “… o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem”.

Tudo depende da rendição. Nós podemos buscar libertação de pecados individuais e podemos chorar para Deus nos enviar a unção do Espírito Santo, mas a menos que haja uma rendição total a ele no centro do nosso ser, a menos que nos ofereçamos a ele – provavelmente não conseguiremos nada.

Oh, quantos já buscaram, oraram e agonizaram para que o Espírito Santo viesse sobre eles, mas ele não veio. Não houve rendição completa, não houve submissão de si mesmos a Deus.

Porém, quando alguém se submete a Deus, prostrando-se e dizendo: “Oh, Deus, eu me rendo e me entrego completamente a ti. Eu me coloco incondicionalmente à tua disposição. Não vou reter nada e não vou me recuar em nada que me pedires”, à medida que ele se prostra, o Espírito Santo desce sobre sua vida.

A vinda do Espírito pode ser com grandes e impressionantes ondas de poder e alegria; ou, então, com uma calma suave que vai tomando conta de todo o ser; talvez, com uma voz pequena e calma que sussurra: “… se pedirmos alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito” (1 Jo 5.14-15).

Indiferente do modo de manifestação, ele vem. E quando ele vem, o poder também vem. A grande chave do poder de Deus é o Espírito Santo vir sobre nós (At 1.8). E a grande chave do Espírito Santo vir sobre nós é a rendição da vontade, a entrega completa da nossa vida. Oh, quão maravilhoso, quão abençoado, quão glorioso é o poder do Espírito Santo!

Você quer esse poder, meu irmão? Você quer esse poder, minha irmã? “Oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça” (Rm 6.13). Você não quer fazer isso? Quer fazer agora? Deseja render-se a Deus?

Oh, quão tolo, completamente tolo é todo aquele que não se rende ou que hesita em se render a Deus! Você está roubando de si mesmo tudo aquilo que faz a vida valer a pena e tudo o que torna a eternidade brilhante e resplandecente de alegria, beleza e glória. Eu convido você a se render hoje!

R. A. Torrey

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