Pecado Para a Morte

I João 5
14 E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.
15 E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos.
16 Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore..

Bem, hoje estamos chegando ao final do nosso estudo em 1 João. Em primeiro lugar, o capítulo 5, versos 13 a 21 é essencialmente o resumo, a conclusão da epístola. E nesta seção, João se concentra nas ‘certezas cristãs’, ou seja, naquilo que, como cristãos, temos absoluta certeza.

E, é claro, como cristãos verdadeiros, temos o compromisso com a verdade e autoridade bíblica. Baseamos nossas vidas, seja terrena ou eterna, sobre o que as Escrituras dizem, ou, em outras palavras, sobre o que Deus deixou escrito para nós.

Você se lembra que tanto no início do Evangelho de Lucas (1:4), como no livro de Atos, Lucas deixa claro que o objetivo dele ao escrever estes livros era trazer conhecida a verdade. E esse é o objetivo não só destes livros, mas de toda a Bíblia. Ela é a exata verdade.

Como cristãos, vivemos em certeza em um mundo de incertezas. De certa forma, estamos contra a cultura dominante. Somos um grupo intolerável em uma era de tolerância. O mundo pode tolerar quase tudo, exceto aqueles que vivem por princípios absolutos. Todavia, o cristianismo é baseado em absolutos.

Há meses atrás eu lhes falei sobre um paradigma simples para enquadrar esta ideia de viver em absolutos, apenas com cinco palavras:

1. A primeira é objetividade. Isso significa que nós acreditamos que a verdade está fora de nós, em vez de dentro de nós (o que seria subjetividade). Acreditamos na verdade de Deus, que está fora de nós. João 17:17: “Tua Palavra é a verdade.” Temos um documento, um documento oficial, não planejado por homens, por comissões, conselhos, mas temos um livro escrito por Deus, escrito por meio de instrumentos humanos, mas de autoria de Deus. Ele contém a verdade fora de nós, além de nós. Chegamos a ele trazendo apenas a necessidade de conhecê-lo e obedecê-lo.

2. A segunda palavra é racionalidade. Esta verdade objetiva contida neste livro é inteligível. Não é mística. Não tem significados ocultos, secretos. Ela não é criptografada, ou codificada apenas para ser desbloqueada por super mentes ou uma elite. É objetivo e é racional.

3. A terceira palavra é veracidade. “Tua Palavra é a verdade.” Chama-se a Palavra da verdade.

4. O quarto termo é autoridade. Este livro produz com precisão a verdade de Deus, então ele carrega autoridade. Sendo assim, ele é irrefutável em tudo o que afirma.

5. E isso leva à quinta palavra, que é incompatibilidade. Isso quer dizer que qualquer argumento que contradiz a Bíblia está errado. Este é o paradigma cristão de viver em um ambiente de absoluta da verdade.

A verdade está fora de nós, escrita em um livro. Entende-se por meios normais, racionais. Ela produz a verdade de Deus, que, em seguida, torna-se obrigatória, porque Deus é o soberano e é, portanto, incompatível com qualquer outro ponto de vista de qualquer argumento que a contradiz.

E isso tudo que acabei de dizer é praticamente intolerável em nosso tempo. Dizer que isso é certo e tudo o que o contradiz é errado, é intolerável. Como cristãos, vivemos em um mundo de absolutos e em um reino de certezas e todos os absolutos e todas as certezas vêm da santa Palavra de Deus e de nenhum outro lugar.

Fora da Palavra de Deus, a Palavra de Deus escrita, Gênesis a Apocalipse, você não pode ter certeza de nada. Um monte de pessoas hoje estão tentando ouvir a voz de Deus, ou chegar a uma profecia de Deus, ou uma palavra de conhecimento, ou uma palavra de sabedoria, ou ter o Senhor falando com eles de alguma forma.

A única verdade que sabemos com absoluta certeza é que a Bíblia é verdadeira. E o que ela afirma é certo. O propósito de João ao escrever esta carta é de criar segurança em nossas mentes, as mentes dos verdadeiros cristãos, certeza sobre Cristo, certeza sobre a salvação e certeza sobre tudo o que Deus tem prometido.

É por isso que, como eu disse na semana passada, a palavra “sabemos” (ou conhecemos, em algumas traduções) aparece 39 vezes nesta epístola. Sete vezes apenas nestes últimos versos. Toda esta epístola é sobre ter certeza da verdade. E ele resume a sua carta com cinco certezas maravilhosas que realmente são um resumo do que foi dito através de toda a epístola.

Primeira certeza: sabemos que temos a vida eterna.

Veja o versículo 13: “Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus.”

Simplesmente sabemos que temos a vida eterna por causa do que foi escrito. Você não sabe que tem a vida eterna por causa de alguma experiência, você sabe por causa do que foi escrito. Isso nós sabemos, temos a vida eterna se crermos no nome do Filho de Deus.

Estamos aguardando a entrada para a vida eterna. Versículo 11 deste mesmo capítulo diz: Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho, aquele que tem o Filho tem a vida, quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.

Isto é verdade, temos a vida, mas ainda não entramos na experiência completa desta vida. Nós possuímos a vida de Deus em nós, mas a expressão plena dessa vida aguarda a manifestação da glória dos filhos de Deus, depois de deixarmos este mundo, depois de morrermos e entrarmos na presença eterna de Deus.

A segunda certeza: sabemos que Deus responde às nossas orações.

Sabemos que já temos a vida eterna. Porém, aguardamos a entrada na sua plenitude. Enquanto isso, nós temos necessidades. Enquanto isso, nós temos problemas, temos lutas, temos preocupações, nós temos problemas com os quais lidar. Porém, sabemos que Deus responde às nossas orações. Versículos 14 e 15:

E esta é a confiança que temos Nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos.

Aqui, novamente, encontra-se a palavra “sabemos”. Temos uma confiança de que tudo o que pedirmos segundo a Sua vontade, Ele ouve. E sabemos que, se Ele ouve, Ele vai responder. Sabemos que temos a vida eterna.

Mas antes de entrarmos na expressão plena desta vida, que ainda está por vir, temos várias necessidades, preocupações, questões, lutas, batalhas, tentações. Porém, ao mesmo tempo, sabemos que Deus responde às nossas orações. Esta é a confiança. O termo “confiança” no verso 14, no original grego, significa literalmente liberdade de expressão. Nós possuímos uma liberdade para ir diante do Senhor para orarmos sobre qualquer assunto e, livremente, corajosamente, pedir-Lhe.

Somos até mesmo instruídos nas Escrituras para chegarmos com confiança ao trono de Deus, a fim de buscarmos o que precisamos (Hb 4:16). A nossa confiança, então, não é só na vida que ainda há de vir, mas nossa confiança está no aqui e agora em termos acesso a Deus.

Nós não estamos ainda em Sua presença, ainda não chegamos ao céu dos céus. Nós ainda não entramos em nossa herança eterna que está guardada para nós. Mas, agora, temos acesso a todos os recursos de Deus através da oração.

E é por isso que João diz: esta é a garantia, esta é a confiança. Em outras palavras, esta é a confiança pela qual entramos em Sua presença e livremente pedimos tudo o que precisamos.

Eu amo essa pequena frase no versículo 14: “esta é a confiança que temos diante Dele.” Na verdade, significa “em Sua direção, em direção a Ele.” Ou melhor ainda, “em Sua presença.” Estamos confiantes o suficiente como crentes para irmos direto à presença do Deus eterno e ousadamente e livremente pedirmos o que precisamos.

E se pedirmos qualquer coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve (v. 14). A palavra ouvir, aqui, significa mais do que apenas ouvir e saber qual é o pedido. Mas, é um ouvir ativo, que vai despachar a resposta certa. Se pedirmos alguma coisa segundo a Sua vontade, temos um cheque em branco, literalmente. Esse cheque em branco é a Sua vontade. Qualquer coisa no ‘banco’ de Sua vontade, podemos solicitar.

Ouvir, para Deus, é o mesmo que responder, segundo os versículos acima. Que espantosa confiança! Enquanto esperamos a plena redenção do nosso corpo, enquanto aguardamos a próxima vida, enquanto esperamos para receber tudo o que Deus tem preparado para aqueles que O amam, temos a confiança de que nossas orações serão respondidas.

Volte, por um minuto, ao capítulo 3, verso 21. Vamos tentar enriquecer essa ideia. Esta é uma afirmação muito semelhante, é por isso que eu disse que esta seção no final é realmente um resumo das partes anteriores da epístola.

Versículo 21: “Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus.” Em outras palavras, “se o nosso coração está certo, a nossa consciência está limpa, temos confiança para ir diante de Deus”.

Então, vem o versículo 22: “E qualquer coisa que lhe pedirmos, Dele a receberemos…”, e o motivo é: “Porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável à sua vista.”

E quais são estes mandamentos? A resposta está no verso 23: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento.”

Então, se você crer no Senhor Jesus Cristo, se você guarda os seus mandamentos, ama os irmãos, você pode pedir o que quiser, segundo a vontade Dele, e você vai recebê-lo. Você tem confiança ou garantia perante Deus que você vai receber o que você pedir, segundo a vontade Dele.

Em João, capítulo 15, há uma declaração semelhante que foi feita pelo nosso próprio Senhor. Verso 7, diz: “Se vós permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito.” Aqui está este mesmo cheque em branco, mas está condicionado a permanecer em Jesus, desfrutar Sua vida e obedecê-Lo.

Versículo 16: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai, Ele vo-lo conceda.” É mais uma surpreendente declaração.

Tudo o que você pedir, se você crer em Cristo, se você permanecer em Cristo, se Sua palavra permanece em você, se o estado de sua condição espiritual se manifesta na obediência a Cristo e no amor para com os outros, você pedirá o que você deseja, com a ressalva de que tem de estar de acordo com a vontade de Deus. E, é claro, você não iria querer pedir qualquer coisa diferente do que isso, não é?

Em João 14:13, Jesus coloca isto desta forma: “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.” A frase aqui ‘pedir em meu nome’ significa ‘pedir de acordo com a Sua vontade’. É equivalente.

Agir em nome de alguém significa agir de acordo com a vontade e natureza desse alguém. Dizer que eu estou orando em nome de Jesus não é apenas porque no final da minha oração eu digo “Em nome de Jesus, amém”. Não é isso.

Também não há problema em se fazer isso. Na verdade, na maioria das vezes que oro digo isto no final. Mas, dizer que está orando em nome de Jesus, ou invocar o Seu nome não é uma espécie de garantia de que Deus terá que responder minha oração positivamente, apenas porque usei o nome de Jesus. Em João 16:23 e 24, temos:

E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.

O nome de Cristo incorpora tudo o que Ele é. Anteriormente, Ele disse “para que o Pai seja glorificado no Filho”. Agora, Ele diz “para que a vossa alegria seja completa”. Em outras palavras, quando Deus responde à oração, Ele se coloca em evidência e também coloca o Filho em evidência, e, assim, recebem glória. Com isso, nossa alegria é completa.

Tiago compreendeu este princípio e o abordou do lado negativo. Ele diz: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” (4:3). Devemos pedir de acordo com a vontade do Senhor.

Aquilo que peço deve colocar o Pai em evidência, deve glorificar o Filho, deve ser consistente com quem é Jesus Cristo, com a maneira que Ele age (já que o pedido tem que ser em Seu nome).

  • Note que esse princípio não é algo isolado. O Novo Testamento está literalmente repleto desse princípio. E o encontramos também no Velho Testamento, como no Salmo 37: 4, “Agrada-te do Senhor e Ele te satisfará os desejos do teu coração.”
  • Se você está se deleitando no Senhor, se o seu prazer está Nele, Ele mesmo vai plantar em seu coração os pedidos que O glorificarão. E esses serão as suas orações e serão as respostas Dele.

Oramos em Seu nome, totalmente identificados com Ele. Oramos em Sua vontade, buscando apenas o que irá glorificar o Pai e produzir a verdadeira alegria espiritual. Agora, esta é uma promessa muito generosa, não é? Especialmente quando você se lembra que a Bíblia diz: “Orai sem cessar”.

Então, sem cessar trazemos nossos pedidos a Deus com ações de graças. Nunca mais ansiosos sobre qualquer coisa, mas em oração sobre tudo. A oração torna-se, então, o meio pelo qual o crente recebe o que Deus quer lhe dar. A oração torna-se o meio pelo qual nós nos alinhamos com a Sua vontade.

Há momentos em que não conhecemos Sua vontade para nós. Então, dizemos-Lhe: ‘qualquer que seja Tua vontade, Senhor’ ou ‘se for da Tua vontade’. Assim, nós sabemos essa verdade. Sabemos que Deus concede nossos pedidos que são segundo a Sua vontade. Nisso temos um cheque em branco para entrar em Sua presença.

Agora João tem, eu penso, uma estranha forma de enfatizar a extensão dessa certeza. Quer dizer, isso é tão maravilhoso. Você sabe, o mundo está cheio de pessoas que oram a Deus e quase todos oram em meio a crises. Porém, eles não têm qualquer garantia de que Ele vai ouvir e responder.

E eu posso dizer que, se eles não conhecem a Deus e não creem no Senhor Jesus Cristo, que é a única maneira de conhecer a Deus, Deus não tem o compromisso de responder às suas orações. Será que Deus sempre irá responder a oração de uma pessoa não regenerada?

  • A resposta a essa pergunta é que Ele pode escolher responder, mas não está comprometido a fazê-lo. Ele pode escolher responder, pode fazer o que quiser sempre, mas Ele não está sob nenhuma obrigação de responder. E, portanto, não há certeza que possa ser dada a um incrédulo de que Deus ouvirá suas orações.
  • É triste quando você pensa sobre isso, não é? Todas as pessoas em todas as falsas religiões do mundo, todas as pessoas nos falsos sistemas de Cristianismo no mundo que interminavelmente oferecem orações que Deus não tem obrigação de responder a qualquer uma delas.

Mas quando um verdadeiro crente ora em nome de Cristo, e de acordo com Sua vontade, Deus está comprometido consigo mesmo a responder. Esta é uma certeza cristã.

Temos um dia nacional de oração, quando chamamos a nação à oração [nos EUA]. Chamar os fiéis para a oração, faz sentido, porém convocar os incrédulos à oração, é inútil. Você diz: “Bem, você tem certeza sobre isso?” A Bíblia diz: “Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá.” Ele não está compromissado.

Portanto, a verdade é clara e é expansiva. Se pedirmos algo segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E nós sabemos que a ouvir, nesse caso, é o mesmo que responder. Então, se Ele ouve aquilo que lhe pedimos, nós sabemos que teremos a resposta.

O que é o pecado para a morte?

Agora, como eu disse, João ilustra a extensão disto de uma forma muito estranha. Veja os versículos 16 e 17, e há alguns que olham para essa passagem e se perguntam a razão de esses versículos estarem aí e o que eles significam. Versículos 16-17:

Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte.

Não é estranho? O que quer dizer tudo isso? Qual a razão desse assunto ter sido colocado junto com o que João estava tratando nos versículos anteriores, sobre oração e certeza da resposta?

Vou dizer-lhe como entender. O apóstolo está simplesmente dizendo que Deus vai responder a todas as suas orações, todas as suas orações consistentes com o Seu nome e consistentes com a Sua vontade, exceto uma. E a exceção é se você está orando por alguém que tenha cometido pecado para a morte.

Em outras palavras, a decisão final já foi feita por Deus quanto ao futuro dessa pessoa e não vai haver mudança. Isto é, se a decisão final já foi tomada sobre o futuro dessa pessoa e da sua morte, portanto, todas as suas orações em relação a essa pessoa não têm nenhuma possibilidade de serem ouvidas e atendidas. Como eu disse, é uma forma estranha de abordagem.

Mas, ao mesmo tempo, se você olhar para todo esse assunto do lado positivo, ele está dizendo que a certeza e o privilégio de ter as orações ouvidas é tão grande, tão expansiva, que apenas no caso mais extremo, onde já existe uma decisão final sobre o destino dessa pessoa e que ela vai morrer, então não se deve orar sobre o assunto, porque se isso já foi determinado, então a oração não vai ser respondida.

Você pode orar por uma pessoa que tenha caído em pecado, um irmão que caiu no pecado e se não foi um pecado que, por determinação de Deus, leva à morte, então Deus vai ouvir a oração e Deus vai responder a essa oração e Deus dará a vida para o indivíduo, se não é um pecado que leva à morte.

Literalmente, no grego, a expressão usada aqui é ‘há um pecado para morte’. E quando se diz que não se deve orar por essa pessoa, significa dizer que ‘não espere que qualquer coisa mude através de sua oração, se aquela pessoa cometeu pecado para a morte’.

Qual é o pecado que leva à morte? Há duas possibilidades apenas.

1. Primeira possibilidade: Isso se refere ao pecado de um não-cristão, que leva à morte eterna.

Qual é o pecado de um não-cristão que leva à morte eterna? Rejeição definitiva a Cristo, certo? E aí engloba aqueles que declaradamente se rebelam contra a autoridade de Cristo, como também aqueles que professam a fé cristã, mas não são cristãos verdadeiros, estão na comunhão com a igreja, mas seus corações estão longe de Deus.

Então, se você vir o pecado na vida de um falso cristão (que você mesmo nem saiba que esta é a verdadeira condição espiritual dele), e você orar para que ele seja restaurado, pode ser até que ele se mostre recuperado, restaurado, e você talvez nem perceba que é um falso cristão, mas aos olhos de Deus essa pessoa é totalmente apóstata, vive longe da verdade voluntariamente.

Essa condição espiritual também pode ser vista em Hebreus 6, que trata da pessoa que nunca pode ser restaurada, sendo que ela está pisoteando o sangue da aliança. Outro texto que também fala desta condição está em 1 João 2:19, que diz:

Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.

Se esta é a condição espiritual da pessoa, nada adiantará orar por sua restauração. Porém, observe, a Palavra não está nos ordenando: “Não orem por essas pessoas!”, isso porque não sabemos quem elas são. O que o apóstolo está dizendo é que esse assunto não será atendido.

Eu só estou tentando dizer a você é que você poderá interceder por alguém que você acredita ser um cristão, porque você o está vendo em pecado, e você decide orar por sua restauração. Inclusive você pode pensar que orar para alguém ser liberto do pecado é algo segundo a vontade de Deus, logo, a sua oração será atendida pelo Senhor e o irmão será liberto e restaurado.

Só que você vai se gastar em oração e nada vai ocorrer, pois apesar de essa pessoa se designar como cristão e estar na comunhão com a igreja, ela de fato é alguém que rejeita Cristo.

2. Segunda possibilidade: trata-se de um cristão, um verdadeiro cristão, e não apenas um irmão professo, mas um verdadeiro irmão que comete um pecado para a morte.

E o que significa isso? Não se trata de apostasia, nem de uma rejeição a Jesus Cristo. Não se trata também da situação tratada em Hebreus 6. Mas, trata-se de verdadeiros cristãos. Eles não são apóstatas, não rejeitaram a fé, não rejeitam a Cristo, eles não rejeitam o Evangelho.

Trata-se, porém, de um cristão, um verdadeiro irmão que comete um pecado por causa do qual Deus tira a sua vida. E isso pode acontecer? Sim, isso pode acontecer. Já aconteceu? Sim, aconteceu.

  • Foi, por exemplo, o que aconteceu na igreja de Corinto. Há alguns pecados muito graves para os quais a punição de Deus é a morte. Você se lembra de 1 Coríntios capítulo 5? Havia um homem que cometeu adultério com a mulher de seu pai, provavelmente, sua madrasta, um incesto.
  • E tal homem não foi morto, mas os irmãos foram orientados a colocá-lo para fora da igreja, certo? Porque um pouco de fermento leveda a toda a massa. Foi colocado para fora da igreja e entregue a Satanás, a fim de que ele aprendesse a não blasfemar.
  • Existem, então, alguns pecados muito graves, mas que não produzem a morte. No entanto, por outro lado, 1 Coríntios 11 relata que houve algumas pessoas que vieram para a mesa do Senhor e que vieram com tanta superficialidade, com tanta hipocrisia, sem um honesto e sincero lidar com o seus pecados, que eles abusaram da mesa do Senhor. E Paulo diz: “Devido a isso, alguns de vocês já morreram.” Deus matou algumas pessoas.
  • Houve também o caso de Ananias e Safira, descrito em Atos 5. Deus tirou suas vidas, porque eles publicamente mentiram ao Espírito Santo, diante de toda a igreja.
  • Logo, vemos aí dois casos de pecados que são punidos com a morte, ou seja, tanto a profanação da mesa do Senhor, como mentir diante da igreja.

Assim, quais seriam os pecados que levam à morte de quem os pratica?

É aquele pecado que o Senhor determina ser o suficiente para que Ele tire a vida de um cristão. Não é qualquer pecado. O texto não indica que seja um único tipo de pecado. É o pecado numa época, num lugar, que compromete a igreja e o testemunho de Cristo a um grau tal, que o Senhor tira a vida do cristão.

Isso é proteção para a igreja. É proteção para a integridade e a pureza do Evangelho e o testemunho da igreja. Há cristãos que se envolvem em algum pecado, a tal ponto que o Senhor determina em sua soberania que eles estão em melhor situação no céu e a igreja é melhor sem eles, comprometendo o seu testemunho.

E, então, quando isto acontecer, não se deve orar sobre isso (v.16). Não se trata de uma ordem para não orarmos por esse irmão, não estaremos pecando se orarmos, porque inclusive não sabemos quem são todas as pessoas que são genuinamente cristãs e as que não são, no meio da igreja.

Não sabemos também se, sendo um cristão verdadeiro, Deus considerará o seu pecado digno de morte. Em outras palavras, o que o apóstolo está dizendo que não devemos esperar que a oração seja ouvida, que a pessoa se arrependa ou que seja restaurada.

E, então, vem o versículo 17: “Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte.” Vamos deixar isso claro. Somos todos provas vivas disso, não somos? Podemos cometer pecados, e todo pecado que cometemos é um ato injusto, contrário à justiça de Deus. Mas, nem todo pecado leva à morte.

Há pecado de rejeição entre os incrédulos que não levam à morte, certo? Incrédulos estão aqui vivendo e respirando. Há pecado de crentes que não levam à morte, estamos aqui e temos pecado. Mas, no propósito e plano de Deus, Ele não considera que devemos ser removidos da terra para o bem da igreja. Não até agora.

  • Você sabe, há sempre um toque de julgamento quanto a esse assunto. Há momentos em que eu gostaria de ajudar o Senhor a determinar o critério do que seja um pecado para a morte. Você já teve esse pensamento? Do tipo: ‘Senhor, se não há um pecado para a morte, no caso de um falso profeta, o que é um pecado para a morte?’
  • Ou então: ‘Se profanar o nome de Jesus Cristo, deturpá-Lo e ainda se autoafirmar como um apóstolo do Senhor não é o mais hediondo dos pecados, o que é, então?’ Davi fez isso em alguns Salmos, os chamados salmos deprecatórios, lembra? Várias vezes ele clamou: “Deus, mate meus inimigos!” Davi queria ajudar Deus a tomar essa decisão.

Quando vejo o Senhor sendo desonrado, Sua glória diminuída, isso me dói e penso que entendo nessas horas os Salmos deprecatórios de Davi. Mas, embora não conheçamos quais os critérios do Senhor para julgar um pecado dessa forma, sabemos que o Seu critério será sempre misturado com misericórdia e graça e, assim, será sempre perfeito.

Assim, se você vir um irmão em pecado e orar por sua restauração e nada acontecer, embora objetivamente seja da vontade de Deus a santificação e restauração, se esse irmão na verdade é um falso cristão, sua oração não será respondida mesmo. Ele está caminhando para a morte eterna.

Ou também se por determinação do Senhor, um cristão chegou a um certo padrão de pecado que leva à sua morte física em benefício da igreja, não haverá qualquer atendimento às orações feitas por sua restauração ou para evitar sua morte. E isso é tudo determinação da soberania de Deus.

Portanto, fora essas exceções, qualquer outra coisa que você pedir em oração, que seja segundo a Sua vontade, Ele ouve e se Ele ouve, Ele responde. E se Ele responde, você tem o que você pediu. É incrível, não é? Temos grandes recursos à nossa disposição na oração.

Vimos duas das cinco certezas que temos como cristãos: sabemos que temos a vida eterna e sabemos que temos nossas orações respondidas. As outras três, trataremos da próxima vez.

Pai, obrigado novamente pelo esclarecimento da Tua palavra. Obrigado por Teu poder, Teu refrescante e confortante trabalho instrutivo em nossos corações. É tão emocionante, Senhor, entender a magnanimidade da Tua bondade, a amplitude da Tua bondade e misericórdia, ao ouvir que o Senhor nos deu acesso ilimitado a tudo, de acordo com Tua vontade. E nós sabemos que Tu desejas para nós e para todos os Teus filhos o que é melhor.

E, assim, podemos orar e ter a certeza de Tua resposta. E, Senhor, ensina-nos que nossas orações devem ser focadas mais do que em coisas físicas, do que estar bem, ou ter alguma vantagem temporal ou conforto temporal. O que estamos falando aqui são de orações para o desenvolvimento espiritual, crescimento espiritual, edificação, santificação, orações para o crescimento e graça e no conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Transforma nossas orações em orações espirituais, orações que têm a ver com a alma e o espírito, e não tanto o corpo. Que nas nossas orações, bem como em nossa vida espiritual, venhamos a buscar primeiro o Reino e todas as realidades espirituais nele contidas, deixando a comida e as roupas ao cuidado do Deus Criador, que veste a erva e os lírios e alimenta as aves. E que saibamos que tudo o que acontece conosco fisicamente nunca é o foco, embora que Tu uses todas as nossas experiências difíceis para o nosso bem espiritual.

Então, podemos fazer orações que lidem com realidades espirituais, sabendo que Tu prometeste que, se pedirmos alguma coisa segundo a Tua vontade, Tu vais ouvir. E, essa graça é tão extensa, que somente no caso das exceções, quando se tratar de um apóstata ou de um crente pecando voluntariamente, de modo que seja melhor tê-lo fora da igreja, é que nossas orações não serão ouvidas e atendidas. Obrigado por esta confiança, esta certeza, esse privilégio. Em nome de Cristo. Amém.


Clique aqui e leia mais sermões da 1ª cartão de João


Este texto é uma síntese do sermão “Christian Certainties, Part 2”, de John MacArthur em 21/09/2003.

Você poderá ouvi-la integralmente (em inglês) no link abaixo:

http://www.gty.org/resources/sermons/62-41/christian-certainties-part-2

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


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1 Response

  1. Pastor Catarino Conceição Ribeiro disse:

    Sensacional este estudo.

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