A Morte Para a Glória de Deus


Este é o primeiro sermão de John MacArthur de uma série de 4 sermões sobre a ressurreição de Lázaro. Veja os links no fim do texto.


Em todo capítulo 11 de seu evangelho, João descreve, com detalhes, um milagre de Jesus. Nós vamos ter que dividi-lo em quatro partes. Precisamos ir devagar para que possamos absorver o máximo de verdades possíveis. Este é um capítulo incrível. Fala do milagre de nosso Senhor, quando ressuscitou Lázaro dentre os mortos. Este é o último grande milagre público que Jesus fez antes da cruz. Após este, Jesus apenas curou o servo do sumo sacerdote, quando ferido por Pedro, no momento de sua prisão (Lucas 22:50-51).

Sabemos a razão que levou João a escrever seu evangelho: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31). Neste milagre, descrito apenas por João, vemos ao máximo Sua obra milagrosa, a união de sua humanidade e sua divindade e Sua plena majestade. Vemos Sua humanidade, simpatia, afeições e seus relacionamentos com uma família terrena.

João escreve, sob a inspiração do Espírito Santo, todos os detalhes de forma muito cuidadosa. Este milagre declara uma incomparável e inegável prova de que Jesus era exatamente tudo o que Ele dizia ser: O Deus eterno encarnado. Foi a ressurreição de um homem que estava morto há quatro dias. Os judeus não embalsamavam os mortos, eles os sepultavam o mais rápido possível. Ou seja, ali estava um corpo em decomposição há quatro dias. O milagre também serviu para o aumento da fé daqueles que seguiam o Mestre.

João 11
14 Então Jesus lhes disse claramente: — Lázaro morreu.
15 Por causa de vocês me alegro de que não estivesse lá, para que vocês possam crer. Mas vamos até ele.

Também serviu para dar um impulso aos céticos a pressionar a questão do assassinato de Jesus, porque o tempo de Deus estava muito próximo. Isso aconteceu pouco antes de sua Páscoa final. Jesus iria morrer como o verdadeiro Cordeiro pascal. Os líderes religiosos vinham tentando e tramando a sua morte há algum tempo. Mas, o tempo de Deus ainda não havia chegado. Jesus somente morreria no tempo determinado desde a eternidade. O milagre da ressurreição de Lázaro eleva a hostilidade dos líderes religiosos ao grau máximo.

Vivemos em uma cultura que está sobrecarregada com enganos supostamente sobrenaturais. Histórias sobrenaturais falsas, milagres falsos, curas falsas e ressurreições falsas. Elas também são propagadas, a todo tempo, no meio da ‘igreja’, como coisas reais. E todas estas bobagens tendem a diminuir a realidade deste tipo de milagre real.

O mundo é implacavelmente bombardeado com entretenimento, que eleva, aumenta e satura com a fantasia, coisas irreais. Existem muitas pessoas que não sabem a diferença entre fantasia e realidade. Filmes e programas de televisão são apenas atolamentos embalados com o irreal, oferecidos como realidades. Em uma cultura que está envolvida com essas realidades pseudo-sobrenaturais, torna-se difícil para as pessoas verem a ressurreição de um homem, quatro dias depois de sepultado, em uma pequena vila na Judeia, há 2.000 anos atrás, como qualquer coisa que importa.

É um bem-sucedido esforço de Satanás para confundir as pessoas. Através dos filmes dotados de efeitos especiais e estórias mirabolantes, as pessoas perderam a noção da realidade e têm suas mentes envolvidas nas fantasias sobrenaturais. Oposto ao mundo, as parábolas de Jesus, usadas para ensinar sobre as realidades do Reino de Deus, não possuíam componentes de fantasias. Todas elas tinham a ver com situações perfeitamente normais e totalmente compatíveis com a vida real. Jesus nunca usou uma fantasia para articular uma verdade espiritual. Nunca. Ele sempre usou a realidade para comunicar a verdade.

Então, como chegamos ao capítulo 11 hoje, vamos apenas definir o cenário, mas você vai ser recompensado grandemente nos outros dias em que completaremos este capítulo maravilhoso. A luz brilhava na escuridão. A escuridão odiava a luz, mas não poderia colocá-la para fora, referindo-se a Cristo (João 1:4-5).

A profunda culpa do pecado do homem estava sendo demonstrada por Cristo (João 15:22). Com todas as evidências fornecidas pelo ministério de Jesus, a nação o rejeitou. Mas, naquele momento, ele deu um grande testemunho final e monumental à Sua natureza. E qual é o propósito deste milagre? “Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (v.4). Isso é colocar a Sua glória em exposição para que as pessoas pudessem crer.

Este é o sétimo milagre que João registra em seu evangelho. Os outros seis: transformou água em vinho (2:1-11), curou o filho de um oficial do rei (4:46-54), restaurou o paralitico de Betesda (5:1-15), multiplicou pães e peixes (6:5-14), andou sobre o mar (6:16-21) e deu vista ao cego (9:1-41). E agora dando vida a um homem morto.

E esta não foi a primeira vez que Jesus ressuscitou alguém dentre os mortos. Nós temos outras duas ocorrências que são explicitamente indicadas nos evangelhos do Novo Testamento.

  • No evangelho de Marcos, Jesus ressuscitou a filha de Jairo (Marcos 5:22-43). Quando Ele encontrou Jairo, ela estava apenas doente, mas morreu, e Ele a ressuscitou imediatamente.
  • Temos também a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-15). Em pleno cortejo fúnebre, Jesus ordena que o defunto se levantasse, e foi o que aconteceu.

Em ambos os casos são mortes recentes, mas no caso de Lázaro, ele estava morto há quatro dias.

João 11
1 Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
2 E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo.
3 Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas.
4 E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
6 Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava

Hoje vamos apenas olhar para os personagens da história: Lázaro, suas irmãs, os discípulos e, claro, o mais importante, que é Cristo. [Clique no índice abaixo para ler a encontrar os links dos demais sermões traduzidos]

No verso 1 temos “um certo Lázaro”. Isso é tudo o que sabemos sobre ele. Esta é a única vez que ele é mencionado. Nós não temos ideia sobre o seu passado. Podemos supor que ele era um crente no Senhor Jesus Cristo, porque Jesus o amava muito, assim como amava suas irmãs, Marta e Maria (v.5), que também criam no senhor.

Maria era a mesma que ungiu os pés do Senhor com bálsamo e os enxugou com os cabelos, numa atitude tremenda de adoração (João 12:3).
Portanto, era uma família que havia crido em Cristo. Isso é tudo o que sabemos sobre eles. Este Lázaro não deve ser confundido com a parábola do rico avarento e Lázaro (Lucas 16:19-29).

Não sabemos qual era a enfermidade de Lázaro, mas sabemos a razão de sua doença, conforme Jesus disse: “Para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (v.4). Lembre-se da cura do homem que nasceu cego: “E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: “Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus” (João 9:2-3).

  • Nestes dois casos temos doenças que existiram para que a glória de Deus fosse manifestada
  • Mas, há doenças que são apenas naturais. Elas existem porque vivemos em um mundo caído. São inevitáveis.
  • Há doenças que são disciplinas de Deus contra seu próprio povo: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (I Coríntios 11:28-30).
  • Há doenças que são julgamentos divinos: “E no mesmo instante feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu glória a Deus e, comido de bichos, expirou” (Atos 12:23).

Jesus foi informado que Lázaro, a quem ele amava, estava muito doente (v.3), mas ficou ainda dois dias no lugar onde estava. Em sua divindade, Jesus tinha controle sobre todas as coisas. E movia-se no tempo do Espírito Santo.
A palavra amor usada aqui é do “Phileo”, que quer dizer amor de um amigo, uma afeição. É evidente que o amor de Jesus é perfeito e completo (Ágape), mas aqui João descreve também um amor de amigo.
Isto nos dá uma visão de Jesus: Totalmente divino e totalmente humano. Ele era um homem e, como todas as pessoas, ele requer um amigo. Um homem perfeito, com todas as necessidades de um homem. Ele amava com um amor divino e com um amor humano.

João 11
7 Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judeia.
8 Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?
9 Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;
10 Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.

Jesus, então, comunicou a seus discípulos que teria que retornar para a Judeia. Eles ficaram apreensivos, afinal de contas Jesus quase tinha sido apedrejado lá (João 10:31) e disseram: “Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?” (v.8) Veja duas situações:

  • Os discípulos temiam pela vida de Jesus, caso ele retornasse para a Judeia.
  • Mas Marta e Maria não queriam que Jesus tivesse saído de lá. Elas disseram “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (João 10:21,32).
  • Duas vontades opostas, mas Jesus apenas caminhava na direção do Espírito Santo. Havia momento de ficar, de sair e de retornar.

Jesus responde de uma forma que parece estranha: “Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz” (v.9,10). Ele quis dizer:

Ninguém pode alongar e nem encurtar a luz do dia, certo? Tudo foi fixado por Deus. Assim é a minha vida. Nenhum inimigo pode reduzi-la e nenhum amigo pode alonga-la. Nada vai acontecer comigo fora do plano eterno. Eu não estou indo no escuro. Vou sob a luz divina. Um dia não pode terminar antes de ser ordenado seu final.

Ou seja, o tempo de seu ministério terreno foi fixado pelo Pai. Nada poderia mudar. Aquele tempo não poderia ser alongado por quaisquer medidas preventivas ou ação de amigos e nem diminuído por ação de inimigos. Ele não temia homem algum. Seu dia na cruz era aquele determinado por Deus, então foi em frente com confiança e ousadia.

Quando sua hora chegou, conforme ele havia revelado aos discípulos entre os capítulos 12 e 16 de João, ele apenas disse a seus inimigos: “Esta é a vossa hora e o poder das trevas” (Lucas 22:53). O Senhor Jesus, em sua divindade, deixou-se ser preso quando o momento estabelecido pelo Pai havia chegado.

Se você está andando no Espírito e serve ao Senhor, você tem seus dias determinados pela soberania de Deus. Ser um covarde, ter todos os tipos de medidas de precaução e não ser fiel não vai aumentar seus dias. E ser ousado diante do inimigo de nossas almas e dos ímpios, não vai diminuir seus dias, porque tudo está sob a soberania do Altíssimo. O que você deve fazer? Ande somente na vontade de Deus.

João 11
11 Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.
12 Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo.
13 Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono.
14 Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto;
15 E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.
16 Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.

Jesus disse: “Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono” (v.11). Foi uma forma serena de se referir à morte. Os discípulos não entenderam, imaginando que Lázaro dormia e o sono iria ajuda-lo na recuperação de sua enfermidade. (v.12,13). Jesus então diz claramente: Ele está morto (v.14).

Com isto ficou evidente que Jesus iria ressuscitá-lo. Mas aqueles discípulos sempre estavam se debatendo com a fragilidade da fé deles. Jesus diz: “Por causa de vocês me alegro de que não estivesse lá, para que vocês possam crer.” (v.15). Aqueles homens criam em Jesus, mas precisavam ter a fé fortalecida e reforçada. Não somente eles, mas Marta, Maria e outras pessoas.

Em seguida, no versículo 16, encontramos Tomé. Ele é bem conhecido por ser um pessimista e cético. “Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele”. Dídimo quer dizer que ele tinha um irmão gêmeo. Este é um pessimista corajoso. Este não é um pessimista covarde. Ele não disse: “Vamos sair daqui ou vamos todos morrer com Ele”. Ele disse: “Vamos morrer com Ele”.

Ele ouviu Jesus dizer: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lucas 9:23). E assim, quando eles chegam, Lázaro estava morto fazia quatro dias. Agora, a história fica muito fascinante, e isso é para a próxima vez, como você poderia muito bem dizer. Vamos orar.

Senhor, estamos gratos por tais detalhes sobre pessoas, lugares e problemas reais. A Bíblia é tão histórica, natural e, ao mesmo tempo sobrenatural.
Este milagre é uma prova tremenda de João sobre a divindade de Jesus. Este milagre fortaleceu a fé daqueles que já criam e tornou-se uma motivação para a fé daqueles que estavam prestes a crer.

Este milagre tornou-se o impulso final para os incrédulos, de coração duro, matar o Filho de Deus. Mas tudo aconteceu no momento, local e através do que o Senhor havia determinado na eternidade.

Pai, que possamos colocar em Ti toda nossa confiança, sabendo que Tu tens tudo nas mãos.
Que a nossa fé possa ser fortalecida, para que possamos marchar em total fidelidade a Ti, sem temores. Em nome de Jesus, amém.


Este sermão faz parte de uma série de 4 sermões sobre o capítulo 11 do Evangelho de João. 

Parte 1: A morte para a glória de Deus
Parte 2: Eu sou a ressurreição e a vida – Parte 1
Parte 3: Eu sou a ressurreição e a vida – Parte 2
Parte 4: Eu sou a ressurreição e a vida – Parte 3


Esta é uma série de sermões traduzidos de John MacArthur sobre todo o Evangelho de João.
Clique aqui e acesse o índice ordenado por capítulo, com links para leitura.


Este texto é uma síntese do sermão “A Death for the Glory of God”, de John MacArthur em 07/09/2014.

Você poderá ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

http://www.gty.org/resources/sermons/43-57/a-death-for-the-glory-of-god

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


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