O Significado da Cruz para Cristo

João 14
28 Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu.
29 Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.
30 Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim;
31 Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou…

Hoje estamos reunidos em torno da mesa do Senhor para celebrar a ceia do Senhor. Uma ocasião muito especial, sagrada e alegre na vida da igreja.
Nosso Senhor disse: “Fazei isto em memória de mim” (Lucas 22:19-20) Uma ordem muito simples. É um ato de recordação. Fazemos isso para lembrar o que o Senhor fez.

Naturalmente, a simplicidade da mesa do Senhor não requer um monte de explicações profundas. Pão e o cálice. O pão do seu corpo dado para nós. O cálice do Seu sangue. É uma lembrança de Sua morte na cruz.
Então, nesta noite, quero lembrá-lo, em primeiro lugar, da sua morte e, em seguida, algo do significado disso.

E, chegando ao lugar chamado Gólgota, que se diz: Lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinagre misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber. E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes. E, assentados, o guardavam ali. E por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS. (Mateus 27:33-37)

Em linguagem muito simples e direta que Mateus nos mostra a crucificação. Tanto quanto sabemos, a primeira prática conhecida da crucificação foi pelos persas. E, aparentemente, Alexandre, o Grande, que conquistou o grande Império Persa, parece ter introduzido esta prática na zona do Mediterrâneo. E a partir da influência de Alexandre, os romanos passaram a praticá-la.

Quando os romanos descobriam algo que lhes agradassem, eles tinham uma maneira de formalizá-lo, refiná-lo e aperfeiçoá-lo para seu próprio uso.
E eles fizeram isso com a crucificação, tornando-a ainda mais cruel. E em torno da época de Jesus Cristo, cerca de 30.000 pessoas foram crucificados.

Normalmente, a cruz era composta de duas partes. O poste vertical e uma barra transversal. Na maioria das vezes, a barra transversal era colocada no topo do poste na forma de um T. Era costume o homem condenado carregar a cruz da prisão até o local da execução, para que o mundo inteiro soubesse que ele era um criminoso. Um embaraçoso e humilhante ato angustiante de sofrimento. E vindo ao lado ou na frente dele um homem segurando uma placa que indicava a sua acusação. Antes disto, o condenado era chicoteado e espancado.

E lá no Jardim do Getsêmani (Mateus 36-46), Jesus pôde antecipar a realidade da morte na cruz. O perfeito e puro, que a Bíblia diz que “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar” (Habacuque 1:13), estava próximo de tomar sobre si a maldade da humanidade e as trevas do pecado.

Ele, “posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lucas 22:44). Isto é um fenômeno bem documentado que ocorre sob grande estresse emocional, quando minúsculos capilares nas glândulas sudoríparas se rompem, misturando assim o sangue com o suor.

O processo da morte numa cruz é lento e tenebroso. Ainda mais por ter sido um ato inexplicável de horror contra o adorável Filho de Deus.
Mas o sofrimento físico foi a parte fácil para Jesus. Veja o que diz Pedro:

Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente (I Pedro 2:21-23).

Em outras palavras, tudo o Pedro está dizendo é que Ele fez tudo isto de bom grado. Ele tomou a cruz sem uma palavra, sem um gemido e sem uma queixa. Você sabe o motivo?

Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados (I Pedro 2:24)

A parte mais fácil foi a dor física. A parte mais difícil foi a de suportar as trevas do pecado sobre si. O puro e santo tento proximidade com o pecado. E assim, amados, quando nos lembramos da cruz, quando nos reunimos na mesa do Senhor, não estamos simplesmente a lembrar da agonia de um mártir. Estamos lembrando o ato da pessoa de Jesus, Deus que tomou a forma de um homem totalmente santo e carregou sobre si o pecado da humanidade.

Nós não estamos simplesmente concentrando-se em alguém que passou por uma morte terrível, mas em quem levou os nossos pecados em Seu próprio corpo, para que pudesse dar a nós a Sua própria justiça. Ele tomou sobre si o cálice da ira de Deus (Apocalipse 14:10).

E por isso, lembre-se da cruz. É para os cristãos uma doce recordação. Somos as únicas pessoas no mundo que têm como símbolo da nossa alegria um instrumento de tortura. Por quê? Por que, para nós, é um sinal de alegria? Por causa de todos os pecados que Ele levou naquela cruz. Nós não temos que carregar nosso pecado. Através dessa cruz temos acesso às tremendas bênçãos espirituais, e por causa dela, temos comunhão uns com os outros. E assim dizemos como Paulo:

Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado (I Coríntios 2:2).

Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo (Gálatas 6:14).

Por isso cantamos:

Contemplo esta cruz, porque nela Jesus, deu a vida por mim, pecador. Desde a glória dos céus, o Cordeiro de Deus, ao Calvário humilhante baixou, essa cruz tem pra mim, atrativos sem fim, porque nela Jesus me salvou. Nesta cruz padeceu, e por mim já morreu, meu Jesus, para dar-me o perdão.

É por causa da cruz que temos a salvação, o perdão, a redenção, a liberdade e a vida eterna.

Mas só por um momento esta noite, eu quero te mostrar o que a cruz significou para Jesus. Olhe para João 14:28. Jesus está no cenáculo com os discípulos. Por esta altura, Judas já tinha saído de sua presença e foi traí-lo. Apenas os onze permanecem, e eles são leais, tanto quanto onde a lealdade deles poderia ir.

E Jesus lhes disse que Ele iria embora. Pedro havia perguntado: “Senhor, para onde vais?” (João 13:36). Jesus havia respondido: “Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás” (João 13:36). Em outras palavras: “Você vai deixar-nos, Senhor? Você está indo embora? “

E mais tarde, Tomé disse: “Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?” (João 14:5). Seus corações estão quebrados. Jesus diz a eles: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (João 14:1) e “Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27).

Por quê? Eles estavam perturbados. Eles estavam dilacerados. Três anos de suas eles haviam dados a Jesus. Eles o seguiram ao longo de seu ministério. Eles haviam dito adeus a suas vidas anteriores, à seus parentes, seus amigos e à antiga religião deles. E eles tinham saído, por assim dizer, a uma ilha. E Jesus era a ilha. E agora estava a ilha afundando? Para quem iriam agora?

  • Quando precisavam de dinheiro para pagar seus impostos, Jesus encontrou-o na boca de um peixe.
  • Quando eles estavam com fome, Jesus operou milagres.
  • Quando eles não sabiam a resposta, Jesus lhes ensinava.
  • Quando eles estavam em perigo, Jesus estava ali com eles contra seus inimigos.
  • Eles ficaram em estado de choque, com medo do desamparo solitário que se seguiria.

Eles não eram diferentes de um monte de gente que só consegue ver as coisas em relação a si mesmas. Na verdade, ainda mais cedo, no capítulo 13 de João, quando o Senhor estava preparando o seu próprio coração para a Sua morte, eles estavam discutindo sobre quem ia ser o maior no reino.

Veja no versículo 28: “Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós”. Ou seja, Ele quis dizer: “Vocês sabem que eu vou voltar. Vocês sabem que eu não vou abandonar vocês”. Mas tudo o que eles podiam ver era que Ele estava indo embora.

E você sabe, eu já vi isso tantas vezes, mesmo em funerais, onde alguma pessoa querida que ama ao Senhor Jesus Cristo morre e vai para o céu, e alguém na família permanece excessivamente desanimado por longo tempo.

Quando um cristão morre, um pouco de tristeza é normal. Algumas lágrimas são saudáveis. Mas o desespero constante manifesta um egoísmo bruto.
Parece que muitos não lembram que “preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (Salmos 116:15). Olhe novamente para os discípulos angustiados porque tudo o que podiam ver era a morte.

Eles não viram que a cruz significava quatro grandes coisas para Jesus. Sempre nos lembramos do que a Cruz significa para nós, e muitas vezes não atentamos para o que ela representou para Cristo.

Em primeiro lugar: A cruz seria a exaltação de Cristo 

Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu (v.28).

É uma referência à exaltação do Senhor. Ele estava deixando o mundo. Ele estava indo para o Pai. O que Ele está dizendo é o seguinte:

Eu assumi o papel de um servo, e eu vou voltar a quem eu sirvo para ser recompensado, exaltado e glorificado por ter terminado meu trabalho.

Um pouco depois disto, Jesus disse:

[Pai]Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse (João 17:3-4).

Se os discípulos tivessem realmente um puro amor, eles teriam se alegrado, pois Ele iria voltar à presença do Pai. Na sua humilhação Ele havia conhecido na Terra o duro e amargo para alguém sem pecado. Ele tinha sofrido como homem. Ele tinha sofrido o ódio dos homens. Ele tinha sofrido o ódio daqueles que Ele amou eternamente e sem reservas. Mas agora, Ele seria glorificado juto ao Pai. Ele é digno. Mas tudo o que os discípulos podiam ver era eles mesmos.

Eu só posso imaginar como deve ter sido para a glória da Santíssima Trindade. Jesus veio a esta terra e foi cuspido, caluniado e desprezado. Foi rejeitado, odiado e ridicularizado e assassinado. E o tempo todo Ela era amado do Pai. E agora Ele está dizendo: “Eu vou voltar para Aquele que é maior do que eu”. Ele iria voltar para Aquele que O enviou para fazer uma obra e oferecer a obra plenamente concluída. Ele veio em um caminho de profunda humilhação e agora aguardava Ele as alturas da glória.

Em segundo lugar: As suas palavras seriam cumpridas, testemunhadas e escritas

“Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis” (v.29). Não só Sua pessoa era digna, mas a sua verdade seria documentada. Ele está dizendo: “Olha, eu vou morrer. E eu vou voltar, de modo que tudo o que eu venho dizendo a vocês vai acontecer. Não falarei mais em palavras, mas em ação”.

Ele havia dito desse o início: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (João 2:19). E Ele não estava falando do templo de Jerusalém, mas o templo do seu corpo. Ele disse: “Eu vou morrer e eu vou subir.” E Ele havia prometido enviar o Espírito Santo para eles. Ele lhes havia prometido Sua ressurreição.

Ele disse: “Eu vou para o Pai, e isso significa que minha verdade será documentada. Levantarei da sepultura e o Espírito Santo virá como eu já vos disse”. É isso que Ele está dizendo em outras palavras.
“Eu lhes disse antes para que vocês creiam quando acontecer.” A razão pela qual a Bíblia contém tantas profecias é para o fortalecimento de nossa fé.

E então eles deveriam ter sido animados com a sua morte, porque deveriam ter lembrado que significava Sua ascensão e glorificação. Eles deveriam ter sido animados sobre sua ida para o pai, pois significava o envio do Espírito Santo, que iria habitar neles para sempre.

Penso que a maior prova da divindade de Cristo e da verdade das Escrituras é o fato de que Deus pode prever a história. Jesus disse que Ele iria morrer daquela forma, e isto aconteceu. Ele disse que seria levantado, e Ele esteve na cruz. Ele disse que iria ascender ao Pai, e Ele ascendeu. Ele disse que enviaria o Espírito Santo, e Ele enviou.

Ele prometeu salvação. Ele prometeu a vida eterna. E ele deu-nos exatamente como disse. Ele prometeu que haveria uma união sobrenatural entre o crente e Ele, e foi o que aconteceu. Ele prometeu que iria colocar um professor da verdade no coração de cada cristão, e Ele cumpriu através do Espírito Santo. Ele prometeu a paz e Ele deixou-nos sua paz. Em outras palavras, Ele estava dizendo: “De agora em diante, você vai ver tudo acontecer”. E aconteceu.

E em terceiro lugar: O inimigo seria derrotado.

Em certo sentido, Ele não podia esperar mais para chegar à cruz porque foi na cruz que Ele deu o golpe esmagador em Satanás. Veja o versículo 30: “Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim”. Ele estava antecipando a cruz como um conflito com Satanás. E Satanás era um inimigo a ser derrotado.

Na verdade, Jesus veio ao mundo para destruir o poder de Satanás. Ele veio ao mundo “para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hebreus 2:14-15). Ele veio para destruir o reino do usurpador. Ele veio para esmagar a cabeça da serpente (Gênesis 3:15).

  • Satanás tentou parar Cristo. Ele tentou matá-lo, quando ele era um bebê, através de Herodes.
  • E ele lançou as tentações no deserto.
  • Ele tentou ofuscar a todos para que não pudessem ver a verdade.
  • Ele usou demônios, homens, autoridades, religiosos e até mesmo os próprios que estavam perto de Jesus.
  • O tempo todo, Satanás estava tentando um golpe esmagador para a cruz.

E assim quando olhamos para a cruz, o que parece ser a maior derrota é realmente a maior vitória da história. Quando Jesus Cristo morreu na cruz, o inferno, em festa, havia imaginado ter vencido. Três dias depois, Jesus ressurgiu vencedor fora do túmulo. Ele disse: “… Fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno” (Apocalipse 1:18). Satanás pensou ter vencido e na verdade ele foi e continua sendo um inimigo vencido e humilhado.

E por fim, em quarto lugar: Seu amor seria demonstrado.

Vejam o verso 31: “Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou”. A cruz não é apenas uma grande declaração do amor de Cristo por nós. É uma grande demonstração de Seu amor pelo Pai.

  • Quem o enviou para morrer na cruz? O Pai. Quem o mandou vir e fazer isso? O Pai.
  • E é isso que Ele diz: “E como o Pai me ordenou, assim mesmo faço.”
  • Em outras palavras, a maior prova do amor é o quê? A obediência.
  • E Ele está dizendo: “Quando eu for para a cruz, eu vou provar para o mundo que eu amo o Pai”.

Então, amados, ao nos aproximar da mesa, olhe para a cruz de Cristo a partir do ponto de vista dele. Embora seja maravilhoso pensar no que a cruz significa para nós, e temos pensado nisso. Pense também no que a cruz significa para Jesus.

  • Pense o que significava depois de todos aqueles anos de humilhação que Ele iria finalmente ser glorificado.
  • A cruz significou que todas as promessas que ele tinha feito seriam finalmente uma realidade.
  • O inimigo que o tinha perseguido em todos seus 33 anos de vida finalmente iria receber um golpe esmagador.
  • Ele poderia demonstrar publicamente que Ele amou o Pai. E demonstrou seu amor por sua total obediência.
  • As forças do inferno não poderiam segurá-lo na sepultura. Ele triunfou.
  • E pensar que Ele ama muito ao Pai, e que esse mesmo amor foi concedido a nós. Que Salvador!

Pai, obrigado por nos ter falado novamente sobre o nosso bendito Senhor. Obrigado que podemos ver a realidade da sua morte, não apenas a partir de nosso ponto de vista, mas a partir do ponto de vista de Cristo. O que só aumenta a nossa devoção por ele.
Pai, nós somos gratos. Nós não sabemos como expressar essa gratidão, mas estamos gratos pelo Senhor Jesus Cristo. Ele cumpriu totalmente sua vontade como um servo perfeito. Prepara os nossos corações, Senhor, quando nos lembramos de Sua morte e como nós celebramos a Sua presença viva.


Esta é uma série de sermões traduzidos de John MacArthur sobre todo o Evangelho de João.
Clique aqui e acesse o índice ordenado por capítulo, com links para leitura.


Este texto é uma síntese do sermão “What Dying Meant to Jesus”, de John MacArthur em 03/06/1979.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

http://www.gty.org/resources/sermons/1270/what-dying-meant-to-jesus

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


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