A verdadeira e a falsa submissão a Deus

“E veio Moisés, e chamou os anciãos do povo, e expôs diante deles todas estas palavras, que o Senhor lhe tinha ordenado. Então todo o povo respondeu a uma voz, e disse: Tudo o que o Senhor tem falado, faremos”. (Ex. 19: 7-8)

“E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não”. (Deut. 8:2)

“Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do Senhor vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti. Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o Senhor; e quanto mais depois da minha morte? Ajuntai perante mim todos os anciãos das vossas tribos, e vossos oficiais, e aos seus ouvidos falarei estas palavras, e contra eles por testemunhas tomarei o céu e a terra. Porque eu sei que depois da minha morte certamente vos corrompereis, e vos desviareis do caminho que vos ordenei.” (Deut. 31: 26-29)

A jornada de Israel pelo deserto ilustra forçosamente a história de muitas almas na questão de se assentarem na vontade de Deus. A maior parte do povo que se diz do Senhor continua no temor e na dúvida durante anos sem conhecerem a bem-aventurança da liberdade com a qual Cristo torna livre o seu povo. A este enorme contingente resta apenas uma enorme confusão religiosa por toda uma vida.

A igreja tem se insurgido contra a autoridade de Cristo, e não pode de modo algum ser guia ou autoridade sobre ninguém. No segundo e terceiros capítulos do Apocalipse, a Igreja é encarada sob juízo, e o apelo é, repetido 7 vezes: “Quem tem ouvidos ouça…” O que? A voz da igreja? Impossível! O Senhor nunca mandará ouvir a voz do que está sob juízo. Então ouvir o que? “O que o Espírito diz as Igrejas”. E o que Ele diz está expresso nas Escrituras Sagradas. Neste tempo de fim, o povo que anda com Deus é marcado por uma piedosa reverência ao Senhor e a sua Palavra.

É aos mansos que Deus guiará retamente e ensinará o seu caminho. Não devemos nunca esquecer isto. Se formos fiéis e não confiarmos em nós mesmos; se esperarmos em Deus, em simplicidade de coração, retidão de pensamento e propósitos honestos, Ele nos guiará, sem dúvida alguma. Mas de nada servirá pedir o conselho de Deus sobre algo que já estamos decididos ou nossa vontade esteja em ação. Isto é uma fatal ilusão. Que loucura revela todo aquele que forma um propósito definido e então vai pedir o “conselho” de Deus.

Em Jeremias 42 o povo dirige-se ao profeta pedindo conselho quanto à sua intenção de descer ao Egito. Mas o povo já havia resolvido o assunto. Estavam decididos a fazer a sua própria vontade. Miserável estado! Consultaram o profeta com palavras que camuflavam o engano que estava no seu coração.

“Então eles disseram a Jeremias: Seja o Senhor entre nós testemunha verdadeira e fiel, se não fizermos conforme toda a palavra com que te enviar a nós o Senhor teu Deus. Seja ela boa, ou seja má, à voz do Senhor nosso Deus, a quem te enviamos, obedeceremos, para que nos suceda bem, obedecendo à voz do Senhor nosso Deus”. (Jer. 42: 4-5)

Tudo isto parecia muito piedoso. Mas quando descobriram que o conselho de Deus não estava de acordo com a sua própria vontade, disseram a Jeremias:

“Tu dizes mentiras; o Senhor nosso Deus não te enviou a dizer: Não entreis no Egito, para ali habitar.” (Jer. 43:2)

Aqui o estado espiritual verdadeiro vem à luz. O orgulho e a obstinação estavam em atividade. Os seus votos e promessas eram falsos. Eles se fartaram de seus próprios conselhos e comeram dos frutos dos seus próprios caminhos (Prov.1: 30-33). O resultado? Morte e destruição.

Quantas vezes é este o caso! A Palavra de Deus não agrada aos pensamentos do homem; julga-os; está em oposição direta à sua vontade; choca-se com os seus planos e por isso ele os rejeita-a. A vontade humana e a razão humana estão sempre em direto antagonismo com a Palavra de Deus; e o cristão deve rejeitar tanto um como a outra, se deseja realmente ser divinamente guiado.

Uma vontade insubmissa e uma razão cega, se lhes prestamos atenção, só nos podem conduzir às trevas, miséria e desolação. Jonas queria ir para Társis, quando deveria ir para Nínive; e a conseqüência foi que se encontrou no ‘ventre do inferno’ (Jon. 2:2).

A vereda da obstinação há de ser forçosamente uma senda de trevas e miséria. Não pode ser de outra maneira. Pelo contrário, a vereda da obediência é uma senda de paz, de luz e de bênção, um caminho em que os raios do favor divino são sempre projetados em vivo resplendor. Pode parecer à vista humana estreito, áspero e solitário; mas a alma obediente acha que é o caminho da vida, paz e segurança.

“Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. (Pv. 4:18)

Um coração honestamente decidido a fazer a vontade de Deus não tem interesses ocultos, motivos diversos, nem afins pessoais em vista. Existe o único e simples desejo e sincero propósito de fazer a vontade de Deus, seja qual for esta vontade. Quando a alma está nesta atitude, a luz divina desce e enche seu corpo.

Se o corpo não está cheio de luz, existem vários motivos, obstinação, o interesse próprio agindo; não somos retos diante do Senhor. Neste caso, qualquer luz que professamos é trevas; e não há trevas mais densas ou terríveis como as trevas judiciais que se apoderam do coração que é governado pela obstinação enquanto professa ter luz de Deus. A luz que não produz efeito converte-se em trevas.

“Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas”. (Mat. 6:23)

A alma obediente não somente tem luz para a sua própria vereda, mas a luz resplandece, de forma que os outros a vêem, com o esplendor de uma candeia. A maneira de dar glória a Deus é obedecer à sua Palavra. Aquele que é verdadeiramente humilde, submisso e que não confia em si próprio, manter-se-á a distância dessas montanhas de obscuridade e andará na luz.

Esta é a vereda do justo, a vereda da sabedoria celestial e a vereda da paz. Ai daquele que não é assim guiado! Terá muitos tropeços, muitas quedas e muitas tristes experiências. Se não somos guiados pela vista de Deus, seremos como o cavalo e a mula que não têm entendimento. O cavalo se arroja impetuosamente onde não deveria ir e a mula recusa obstinadamente ir aonde deveria ir. Como é triste que um cristão seja como eles!

Quão bem-aventurado coisa é andar, dia a dia, na vereda marcada para nós pelo olhar de nosso Pai, uma vereda que os olhos do abutre não têm visto nem o leão tem trilhado, a vereda da santa obediência, na qual os mansos e humildes se encontrarão para louvor e glória daquele que a abriu para eles e lhes dá graça para a trilharem.

“A justiça do sincero endireitará o seu caminho, mas o perverso pela sua falsidade cairá”. (Pv. 11:5)

“A coroa dos sábios é a sua riqueza, a estultícia dos tolos é só estultícia”. (Pv. 14:24)

Sintetizado, com adaptações e textos bíblicos complementares, de C H Mackintosh (1820-1896)

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